Corrosion Of Conformity​ - "No Cross No Crown" (2018)

Nuclear Blast
Mundo Metal [ Lançamento ]


Mais de 35 anos desde sua fundação, o Corrosion of Conformity da Carolina do Norte é uma banda como nenhuma outra. Carinhosamente abreviada como COC, em sua longa carreira, eles se mudaram do Punk/Hardcore da Costa Leste dos Estados Unidos, para se tornarem uma das principais referencias do Stoner/Southern/Sludge, lançando álbuns que influenciaram uma geração.

Haverá aqueles entre nós que só aceitam a versão Crossover dos anos 80 como o sendo o COC "real", mas para a grande maioria, foi com a adição do carismático frontman Pepper Keenan que a banda encontrou sua verdadeira sonoridade.

O COC possui um passado instável, mas nunca lançou música ruim ou subpartida, mas desde que Pepper Keenan se retirou para se concentrar no Down, a unidade perdeu seu ímpeto e magia. 13 anos se passaram desde que o vocalista/guitarrista gravou o último álbum com a banda, 18 anos desde que os membros fundadores colaboraram entre si e mais 24 anos desde que o COC lançou sua obra prima, "Deliverance" (1994)

Agora contando com o line-up clássico, Mike Dean (baixo), Woody Weatherman (guitarra) Reed Mullin (bateria) e novamente capitaneados por Pepper Keenan (guitarra/vocal), quarteto esse que criou bestas seminais, a banda recuperou o poder, o espírito e traz a baila, em seu novo trabalho, para o deleite de seus ávidos fãs, uma sonoridade similar a de registros como "Deliverance" (1994) e "Wiseblood" (1996). 

Felizmente, este novo álbum não é simplesmente uma releitura desses clássicos. "No Cross No Crown", é uma extensão desse espírito e arte intemporais que se beneficia do crescimento dos caras como músicos desde o lançamento desses álbuns reverenciados.

Presumia-me que o título do álbum fizesse referencia a um slogan do Punk, "No Gods No Masters", mas eis que para minha surpresa o mesmo se deve a um dos vitrais da sala de vestimenta de uma igreja inglesa do século 16, local em que a banda passou em tour, representada por um homem perseguido com a inscrição "No Cross No Crown", título esse que serve apenas como um ponto de partida temático, segundo o próprio Keenan.


A produção de John Custer, velho conhecido da banda, é primorosa e equilibrada, o resultado é um álbum pesado e ao mesmo tempo minimalista, trazendo de volta a estética pioneira da banda, contendo aquele clima "sabbathianico" arrastado e visceral aliado a composições intrincadas, as quais muitos fãs do COC clamaram por anos. 

Logo de inicio, o novo trabalho transmite uma sensação dramática de poder envolta numa espécie de neblina psicodélica se elevando na grandiosa intro "Novus Deus", uma canção profunda envolvida por um bumbo emitindo batimentos cardíacos, a primeira canção propriamente dita, "The Luddite" possui tambores que ressoam fundo nos tímpanos, uma pista alimentada por um riff absolutamente infeccioso e com uma sonoridade firmemente alicerçada no blues, na sequencia temos, "Cast the First Stone", peça que engrena o álbum de forma energética, uma canção extremamente cativante. 

"Wolf Named Crow", é um dos vários interlúdios do álbum, permitindo que o ouvinte respire evitando a monotonia acentuando elementos mais pesados.

"No Cross", desliza suavemente com sua majestade acústica e melodia surreal, trilha que possui a capacidade da absolvição de algo que poderia nos destruir ou nos definir, soa como um sombrio Leonard Cohen. 

"Little Man", a canção perfeita para dirigir numa estrada deserta, janelas abaixadas, fumando um cigarro, enquanto se ouve ao fundo o rolar dos pneus no asfalto escaldante, contém ritmos variados, que a tornam uma pista assassina. 

"Matten's Diem", faixa acústica arejada, que faz você se sentir como se nada a sua volta importasse, esses pequenos interlúdios, funcionam como uma espécie de marcadores, sem letras para desvendar.

"Forgive Me" com seu balanço delgado sob uma armadura de riffs furiosos e solos temperamentais, conseguindo ser pesada e vulnerável ao mesmo tempo. 

"No Cross No Crown" este é o ponto culminante do registro ou o crescendo do conto, o curso principal nesta festa primordial é o casamento entre o vocal de Keenan e os picos distorcidos das guitarras que nos conduzem a uma melodia hipnotizante. 

"A Quest to Believe (A Call to the Void)" Depois de tudo dito e feito, saindo de algo tumultuado ou passando por um processo, queremos acreditar que havia um propósito, às vezes conseguimos isso após uma conclusão, mas às vezes é apenas uma viagem que deveríamos fazer para chegar ao próximo lugar. Seja qual for o caso, esta canção é a essência quando falamos em liberdade de criação, ondas da guitarra ecoam no crânio, os tambores trotam como se estivessem enviando uma mensagem subliminar.

Esses são apenas alguns dos destaques do álbum, pois estou apenas arranhando a superfície daquilo que é apresentado pela banda. 

O crédito do registro é em grande parte devido a sua atmosfera coesa e densa, ao incrível trabalho de guitarras, a energia de riffs e solos, não só apenas pesados, mas também melodicamente sutis, das guitarras de Weatherman/Keenan impulsionados pelas linhas de baixo groovy de Mike Dean e do tambor direto e ininterrupto de Reed Mullin, além é claro das variadas tomadas vocais de Keenan que funcionam sinergicamente trazendo resultados realmente incríveis. 

Neste ponto, o COC desconhece claramente quaisquer inseguranças ou limitações e trabalha em sincronia para garantir que as músicas funcionem de forma eficiente, e é essa mentalidade que resultou num álbum muito acima da média quando comparado com os trabalhos mais recentes dos caras.


A banda soa tecnicamente mais proficiente, o que não é nenhuma surpresa dada a quantidade de experiência acumulada desde "In The Arms of God" (2005), ultimo álbum do COC com essa formação. 

O álbum trás em seu conteúdo 15 faixas, as quais não demonstram qualquer sinal de fadiga, em quase uma hora de duração. Embora eu goste de registros longos, o álbum poderia ter se beneficiado com alguns cortes. As trilhas instrumentais, embora funcionem como ótimos ganchos, não são realmente necessárias. Apesar disso, "No Cross No Crown" deve ser considerado um triunfo e sua proposta acaba funcionando muito bem.

Esteja ciente de que não é um registro de fácil digestão e provavelmente não irá agarra-lo de imediato, digo isso por experiência própria, há muito para desempacotar, o mesmo requer rotações múltiplas para ser devidamente absorvido.

"No Cross No Crown" é um registro realmente atraente e implacável em sua intensidade, Keenan, Weatherman, Dean e Mullin ainda possuem uma química inegável e esse poço parece estar muito longe de secar. 

Nota: 9,0

Formação:

Mike Dean - baixo/backing vocals
Woody Weatherman - guitarra/backing vocals
Reed Mullin - bateria/backing vocals
Pepper Keenan - guitarra/vocal

Faixas:

01. Novus Deus
02. The Luddite
03. Cast the First Stone
04. No Cross
05. Wolf Named Crow
06. Little Man
07. Matre's Diem
08. Forgive Me
09. Nothing Left to Say
10. Sacred Isolation
11. Old Disaster
12. E.L.M.
13. No Cross No Crown
14. A Quest to Believe (A Call to the Void)
15. Son and Daughter

Redigido por Claudio Santos​

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