Nile - "What Should Not Be Unearthed Tour"

Mundo Metal [ Live Review ]



Após a saída do guitarrista e vocalista Dallas Toler-Wade, os fãs de Nile ficaram bem chateados, ou pelo menos a maior parte deles. Isso é perfeitamente compreensível. Dallas integrava a banda há anos e sua importância para o grupo era, evidentemente, muito grande. O músico possui um timbre gutural característico e principalmente nos trabalhos mais recentes, teve uma participação muito expressiva. Entretanto, a vida continua e a música nunca pode parar. Pouco após a saída do integrante, Karl Sanders, o líder da banda, recrutou Brian Kingsland (vocal/guitarra) e certamente, os apreciadores brasileiros do grupo estavam muito ansiosos para conferir a performance ao vivo desse novo line up. A turnê sul-americana de "What Should Not Be Unearthed" (2015), o oitavo e mais recente álbum dos veteranos do Brutal/Technical Death Metal, contou com apenas uma única apresentação aqui no Brasil. O evento ocorreu nesse último sábado (26), no Manifesto Bar, em São Paulo/SP.

Com abertura programada para às 18h, uma fila repleta de fãs da banda e de Metal Extremo em geral se formou no local e como já era de se esperar, a ansiedade daqueles que compareceram era nítida. Sem banda de abertura, pouco mais de 20h, Karl Sanders (vocal/guitarra, Brad Parris (vocal/baixo), Brian Kingsland (vocal/guitarra) e George Kollias (bateria) entram em cena, ovacionados por todos os presentes. A climática instrumental "Ushabti Reanimator", de "What Should Not Be Unearthed", ecoa e prepara não apenas a banda, mas também o seu público para a devastação sonora que está para ter início. Curiosamente, antes de ir ao show, separei alguns dias da semana para revisitar a discografia do Nile e enquanto ouvia novamente o mais recente trabalho dos estadunidenses, pensei em como seria apropriado os músicos utilizarem essa faixa instrumental como introdução para o show. Foi uma sábia escolha!

Logo após a composição se encerrar, o quarteto inicia sua apresentação com a clássica e obrigatória "Sacrifice Unto Sebek", do brutal "Annihilation of the Wicked" (2005). Seu riff de abertura e de encerramento é muito grudento e muitos dos presentes fizeram um coro cantando o mesmo a plenos pulmões. À respeito da execução do som em si com o novo line up, sem comentários! A banda realmente provou que está em grande forma, mesmo sem a presença de Dallas. A comunicação entre eles era muito natural e isso ficou bem perceptível durante toda a apresentação. Destaque também para o baixista e vocalista Brad Parris, que vestia uma camiseta do Krisiun. É sempre muito bom ver artistas de outros países prestigiando grandes bandas de nosso país e boa parte do público certamente aprovou o tributo feito pelo músico. 

O repertório do show prossegue com outro grande clássico, "Defiling the Gates of Ishtar", uma das faixas mais icônicas do segundo álbum do grupo, "Black Seeds of Vengeance" (2000). Sou muito suspeito pra falar da banda, mas algo que sempre me chamou a atenção na sonoridade produzida por eles, além da temática e letras brilhantes, é a atmosfera criada por seus integrantes e ver suas composições executadas ao vivo comprova muito bem essa experiência. Sim, há muito peso e brutalidade, contudo há um clima místico e sobrenatural que permeia cada música concebida pelos estadunidenses.  

Brad Parris faz um breve discurso mencionando que é muito bom voltar ao Brasil. A última passagem da banda em solo brasileiro havia acontecido no Open the Road Festival III, em maio de 2015. O vasto universo da música pesada mundial é sempre recebido de forma calorosa na América do Sul e a satisfação de músicos que praticam esse estilo musical sempre fica estampada em seus rostos, diga-se de passagem. Sem mais delongas, Parris anuncia que a próxima música que vão tocar é o single de "Those Whom the Gods Detest" (2009), a matadora faixa de abertura "Kafir!". Sua execução foi completamente intensa e irrepreensível, levando todos a cantarem sua letra e a "banguearem" incessantemente. 

"Obrigado! Saludo, motherfuckers!", diz um carismático Karl Sanders, que assim como todos os integrantes da banda, demonstrava estar bem a vontade. "Hittite Dung Incantation", a segunda faixa de "Those Whom the Gods Detest" dá sequência ao show, mantendo o mesmo padrão de agressividade e claro, qualidade. O guitarrista e vocalista Brian Kingsland diz que esse é o último show da turnê e anuncia a próxima música, "In the Name of Amun", a única composição de "What Should Not Be Unearthed" a ser tocada. O mais recente trabalho do Nile foi muito bem recebido por muitos fãs e a performance dessa música comprovou isso mais uma vez, pra variar.

Os músicos fazem mais uma breve pausa e Brad Parris apresenta ao público o mais recente integrante da banda, Brian Kingsland, que veio ao Brasil pela primeira vez. Aplaudido por todos, a performance da banda prossegue com "The Fiends Who Come to Steal the Magick of the Deceased", uma das melhores de "At the Gate of Sethu" (2012). A alternância de vocais presente nessa composição transmite um clima único e sobre-humano, ainda mais quando tocada ao vivo. Kingsland anuncia em seguida que tocarão algo clássico e dá-lhe a pedrada visceral "The Howling of the Jinn", do álbum de estreia "Amongst the Catacombs of Nephren-Ka" (1998). O termo brutalidade define bem a execução desse pandemônio musical.

Após a performance da última música, algo bastante inusitado aconteceu. Karl Sanders aponta o seu dedo para um dos fãs que estava próximo ao palco e diz algo bastante "carinhoso": "Ei, você! Você mesmo! Se você apontar essa câmera mais uma vez na minha cara, vou enfiá-la no seu c*!". Provavelmente, o flash da câmera do sujeito estava atrapalhando o músico, porém engana-se quem pensa que esse momento esfriou a apresentação, muito pelo contrário. O fã se desculpou e em seguida, Sanders esboçou um sorriso e esticou o seu braço para cumprimentá-lo. Realmente, tanto ele como os demais músicos esbanjavam carisma e entrosamento com seu público o tempo todo. 

Em seguida, Parris faz outro breve discurso e menciona que irão tocar uma música de "In Their Darkened Shrines" (2002). Um fã grita "Sarcophagus!" e Parris responde "Não é essa!" e então, mandam "Kheftiu Asar Butchiu", numa performance estupendamente violenta. Curiosamente, a próxima composição a ser tocada foi justamente "Sarcophagus". Seu ritmo mais arrastado e atmosférico deixou todos os presentes hipnotizados durante sua execução e claro, não há como deixar de ressaltar o clima único e marcante proporcionado por seus arranjos finais. Essas notas finais, minimalistas, são capazes de provocar um arrepio na espinha de qualquer um. Assim que a música se encerra, Sanders anuncia outra composição do mesmo álbum, a fantástica "Unas, Slayer of the Gods". Particularmente, essa é minha música predileta da banda. Poderosa, repleta de passagens e trechos altamente marcantes e muito feeling. Sua performance ao vivo é simplesmente um deleite. Épica demais!

Infelizmente, a apresentação estava chegando ao fim. Parris agradece a todos mais uma vez e diz que vão tocar a saideira, que não poderia ser outra a não ser a devastadora "Black Seeds of Vengeance", que sempre encerra os shows do grupo. A introdução instrumental "Invocation of the Gate of Aat-Ankh-es-en-Amenti" ecoa e então, o quarteto entrega sua última pedrada da noite, finalizando sua performance com chave de ouro e muita desenvoltura.

Ao término do show, os rostos dos presentes esbanjavam aquele olhar de plena satisfação. Em poucas palavras, para aqueles que se perguntam se o Nile está realmente bem com sua nova formação, a resposta é sim, com certeza. Existe muita química nesse novo line up e ainda que Dallas Toler-Wade deixe saudades, a banda prova que possui não apenas forças para prosseguir, como também muita lenha para queimar. Que continuem nos presenteando com grandes álbuns e shows como esse.

Integrantes:

Karl Sanders (vocal/guitarra)
Brad Parris (vocal/baixo)
Brian Kingsland (vocal/guitarra)
George Kollias (bateria)

Setlist:

1. Sacrifice Unto Sebek
2. Defiling the Gates of Ishtar
3. Kafir!
4. Hittite Dung Incantation
5. In the Name of Amun
6. The Fiends Who Come to Steal the Magick of the Deceased
7. The Howling of the Jinn
8. Kheftiu Asar Butchiu
9. Sarcophagus
10. Unas Slayer of the Gods
11. Black Seeds of Vengeance

Texto e fotos por David "Fanfarrão" Torres

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