Me and That Man - "Songs Of Love And Death" (2017)

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Mundo Metal [ Lançamento ]



Projetos solo podem ser um risco para artistas estabelecidos, mas é sempre interessante ver um músico ter uma abordagem diferente como forma de expressão, pois tais projetos, funcionam como uma espécie de válvula de escape terapêutica para extravasarem sua criatividade.

Existem poucos músicos que encarnam a frase "livre arbítrio". Adam "Nergal" Darski, front-man da banda polonesa Behemoth, é uma dessas pessoas. Mesmo quando o rosto da morte mostrou seu reflexo em 2010, quando foi diagnosticado com Leucemia, Adam sempre optou por fazer as coisas a sua própria maneira.

Seu projeto solo, anunciado em 2015, tomou forma e materializou-se, intitulado, "Songs of Love and Death" em parceria como o musico britânico radicado na Polônia, John Porter, sob o alcunha, Me and That Man.

Nessa nova empreitada, Nergal afasta quaisquer ideias preconcebidas sobre o que a música pesada "deveria" ser.
"Songs Of Love And Death", é uma viajem sombria sob planícies empoeiradas com guitarras acústicas mergulhadas na essência mais crua do rock, country e blues, influenciada por artistas como Tom Waits, Nick Cave, Leonard Cohen e Johnny Cash, revelando aos fãs uma face singular do frontman do Behemoth.

"Este álbum não tem a intenção de transformar fãs de Behemoth em fãs de Me and That Man, se um dia eles seguirem, ok"
"Com esse projeto, tento contar histórias simples de uma maneira simples, natural, orgânica e despojada dispensando metáforas e significados ocultos" observa Nergal.
Nada de grandiosidade, riffs distorcidos ou vocais guturais, mantém-se apenas o lirismo lúgubre e  tenebroso característico de Nergal, como compositor.


A canção de abertura, "My Church Is Black", efetivamente introduz o ouvinte ao que está por vir, com guitarras folk blues rasgadas, melodias de harmônica e o som de um órgão sutilmente por trás do resto dos instrumentos, proporcionando um tom insólito e quase sinistro, "Minha igreja é negra/ O inferno é minha casa".
Os backing vocals possuem muitas linhas, pelo menos cinco ou seis. Não é um coro harmônico ou em uníssono perfeito, em vez disso, a imagem criada é a de grupo de caras enchendo a cara de whisky, entoando canções em alguma taberna western, um recurso usado na maioria das canções.

"Of Love & Death" possui um ritmo pulsante e algumas linhas de baixo interessantes, mas mantem o clima soturno "No final do dia, não há ninguém para culpar/ O amor e a morte são todos iguais”.

"Voodoo Queen" é um conto de amor venenoso, estabelecendo uma narrativa sobre como as coisas que nos prejudicam muitas vezes podem ser as coisas que somos incapazes ou não estamos dispostos a desistir, "Fizemos tudo o que não devíamos fazer/ Tantas noites loucas sob a lua cheia, eu me apaixonei por sua tatuagem secreta".

Uma das canções de maior destaque no álbum é "Cross My Heart And Hope To Die", Nergal utiliza-se de um tom barítono em contraste a um inocente coro infantil “Não viemos pelo perdão/ Não oramos pelos nossos pecados/ Traímos nosso querido Jesus/ Escolhemos o inferno na terra”, tão arrepiante quanto memorável.

"Nightride" possui um ritmo semelhante a uma cover de Johnny Cash assim como "On The Road" segue com a mesma atitude e intenções brutas.
"Of Sirens, Vampires and Lovers" oferece uma qualidade mais etérea com tons vocais suaves apoiados por uma orquestração de cordas exuberante que encontra rara beleza em tortuosas meditações.
"Better the Devil I Know" pode atrair fãs inconscientes de sua banda principal, enquanto os vocais amortecidos de Nergal soam como se estivessem cobertos de fumaça e suas letras toquem o ocultismo, enquanto a sombria e deprimida "Is Not Much Loving" ilustra o abandono e a desolação de um homem sem alma.


Nergal e Porter trazem sua visão de mundo sombrio, melancólico e enegrecido no restante do álbum.
Enquanto o líder do Behemoth toma para si o protagonismo nas faixas mais obscuras, Porter entoa as canções mais ensolaradas e envolventes.

Não há nada desafiador sobre "Songs of Love and Death", exceto como os fãs de Behemoth vão interpreta-lo, criado para ser um álbum incrivelmente simples que não possui a intenção de responder perguntas introspectivas, e muito menos para abordar questões de religião, política ou violência e sim criar algo orgânico, purificador e, como Nergal diz, necessário para equilibrar o lado extremo de sua vida musical.


O que Me And That Man realmente mostra é que Nergal é de fato humano, afinal. Por trás da pompa e do teatro de sua banda Behemoth, está um homem que, como muitos outros, sente, fere e sangra como qualquer outro. Ele pode não estar à procura da  salvação, a qual lamenta em "Cross My Heart And Hope To Die", mas é certamente uma libertação catártica.
Como qualquer álbum com um profundo apego pessoal, "Songs of Love and Death" é brutalmente honesto, musicalmente provocante e maciçamente carregado de emoção intensa até o núcleo.


Avaliação: 9.0


Integrantes: 

Adam “Nergal” Darski - Vocal e Guitarra
John Porter - Vocal, Harmônica e Guitarra
Benito - Baixo e backing Vocals
Boris - Bateria

Faixas: 

01. My Church Is Black
02. Nightride
03. On The Road
04. Cross My Heart And Hope To Die
05. Better The Devil I Know
06. Of Sirens, Vampires and Lovers
07. Magdalene
08. Love & Death
09. One Day
10. Shaman Blues
11. Voodoo Queen
12. Get Outta This Place
13. Ain't Much Loving


Redigido por Claudio Santos 

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