Live Review: Ambush - São Paulo/Osasco


Mineiro Rock Bar - 13/05/17

Este é o tipo de evento que dá gosto escrever sobre. Underground até os ossos, com bandas muito longe de poder ser consideradas grandes, porém todas com um apetite gigante e amor real ao Heavy Metal. Se em eventos desse porte, o que geralmente escutamos é a tradicional choradeira sobre como o público não apoia a cena, aqui a história foi outra e a Praelli Produções, encabeçada pelo músico Jean Praelli (ex-Fire Strike, atual MadDog), logo em seu primeiro evento demonstrou que o underground vive, e com esperança de dias melhores.

A escolha das bandas nacionais foi de uma felicidade enorme, algo que somente alguém que respira o underground de verdade e faz suas escolhas sem pensar em cifrões, mas analisando o que realmente interessa, que são os fatores musicais, tem a capacidade pra avaliar com precisão e não cometer gafes homéricas como as vistas em festivais estratosféricos por aí, onde mesmo com enorme infra estrutura, conseguem escalar um ícone do Thrash Metal mundial para abrir o show de uma bandinha pop adolescente e sem sal...


A presença do Ambush, uma das grandes representantes desta nova safra do Metal e um dos maiores nomes da NWOTHM, adicionou brilhantismo à noite, e os shows foram todos marcados por competentes e apaixonadas performances. A organização do evento se virou muito bem e o público compareceu e consumiu, não apenas bebidas, mas materiais como CD's, EP's, Camisetas e etc. Em outras palavras, foi um modelo de evento underground, aliás, modelo a ser seguido por todos os que adoram criticar e ficar com reclamações inúteis, mas que não fazem absolutamente nada para mudar o que não os agrada.

Sobre os shows, a Biter foi a primeira a tocar, banda formada em 2015 na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo, executam um Heavy com claras influências nos anos 80. Seu debut será lançado pela Classic Metal Records ainda em 2017 e se chamará "The Eyes Of The Biter". No palco, demonstraram muita segurança, energia e músicas como "Wild N' Free", "Midnight City" e "Mistress Of The Darkness", empolgaram o público presente e foram as responsáveis pelo início promissor do evento.

Na sequência, uma das melhores bandas nacionais do gênero, a Nosferatu, grupo extremamente profissional e que sempre é responsável por apresentações impecáveis. Dessa vez não foi diferente. Com um set baseado em composições de seu primeiro EP, "Returning To The Slaughter" (2007), e aquela sonoridade que te remete diretamente à NWOBHM, o quarteto campineiro fez o Mineiro Rock Bar tremer. Atualmente trabalhando em seu debut "Devil's Child" e no single "Infected City", os caras desfilaram todo seu talento e habilidade em canções como "Night Walker", "Execution" e "Law Of The Streets".


A próxima banda a pisar no palco foi a experiente Clenched Fist e como já era previsto, exibiram uma performance arrebatadora. É incrível o alcance vocal de Vagner Fist, assim como sua forte presença de palco, a sonoridade da banda é uma mescla muito bem feita entre nomes de diferentes estilos como Omen, Candlemass, Manilla Road e outras, o resultado é uma identidade fortíssima capaz de conquistar instantaneamente todos os presentes. Músicas dos álbuns "Tribute To The Brave Ones" (2008) e "The Gift Of Death" (2013) foram tocadas, assim como a excepcional "Banger Heads", originalmente gravada na Demo "Into The Fire". 

Após o término do show do Clenched Fist, o organizador do evento, Jean Praelli, foi convidado a subir ao palco para pronunciar algumas palavras. O que pudemos assistir nesse momento foi um discurso inflamado levantando a bandeira do Heavy Metal e conclamando todos os presentes a lutar pelo estilo musical que para muitos, é mais do que música, é um estilo de vida. Com as palavras do Jean ainda ecoando no local, chegava o grande momento da noite e o Ambush já estava preparado para iniciar o seu show. 


Algumas ressalvas devem ser feitas antes da análise da apresentação em si e isso deveria servir como exemplo a todas as bandas, pois os integrantes do Ambush, além da performance assassina em cima do palco, deram um verdadeiro show de simpatia, atendendo a qualquer fã que se aproximava sempre com muito bom humor e respeito, além disso, assistiram a todas as apresentações das bandas que tocaram antes deles.

Adendo feito, o público se aglomerava à frente do palco e o quinteto sueco logo no início do show mostrou a que veio, executando duas de suas músicas mais energéticas, "Firestorm" e "Possessed By Evil". Ambas foram cantadas em uníssono pelos fãs e o show seguiu com outras de grande apelo. Desde as cadenciadas "The Chain Reaction", "Master Of Pain" e a grudenta "Close My Eyes", até as pedradas "Desecrator", "Rose Of The Dawn" e a candidata a clássico "Southstreet Brotherhood" (também cantada a plenos pulmões pela galera presente), todas foram executadas com primor em uma performance beirando a perfeição.


Próximo do final, ainda mandaram a matadora "Heading East", a obrigatória "Ambush" e a faixa que todos estavam esperando para ouvir, "Natural Born Killers". No bis, outra paulada, "Don't Shoot (Let 'Em Burn)", que encerrou com chave de ouro uma das melhores apresentações de uma banda nova a qual presenciei. O vocalista Oskar Jacobsson canta demais, a dupla de guitarristas formada por Olof Engkvist e Adam Hagelin é extremamente funcional e afiada, assim como a cozinha constituída pelo baixista Ludwig Sjöholm e pelo baterista Linus Fritzson. Além de dois excepcionais discos de estúdio, "Firestorm" (2014) e "Desecrator" (2015), o que podemos perceber ao vivo é que a banda está literalmente voando.

Encerrada a performance da noite, o Mineiro Rock Bar foi aos poucos se esvaziando, porém quem permaneceu, ainda pode conferir o show da Death Trap, banda de São Paulo que executa um Heavy/Speed Metal dos mais competentes e foi a responsável pela última apresentação do evento. Mesmo com o local mais vazio, tocaram com muita vontade e profissionalismo, encantando os presentes com mais Metal brasileiro de qualidade.


O saldo do evento é extremamente positivo, pois alguns dogmas pra lá de batidos caíram por terra nesta noite. Aquele papo furado de que o público não prestigia shows do undergorund foi desmentido com louvor, as lendas de que organização de evento pequeno é feita de qualquer jeito, a velha máxima de que o som é embolado e o público é desinteressado, na noite de 13 de maio de 2017, no Mineiro Rock Bar, em Osasco, não passou de lenda.  A lição que os produtores devem tirar deste dia é que quando há trabalho, esforço, dedicação e acima de tudo competência e responsabilidade em fazer acontecer, os resultados aparecem.

Parabéns a Praelli Produções e a todos os envolvidos!

Redigido por Fabio Reis

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