Genocídio​ - "Under Heaven None" (2017)

Urubuz Records

Mundo Metal [ Lançamento ]



Quem se lembra da extasiante obra da Genocídio do final de 2013, “In Love with Hatred”? A banda barsileira encantou com um álbum repleto de canções maravilhosamente bem construídas, percorrendo um sem número de universos paralelos, não economizando em criatividade e sentimento, não se fazendo de rogada em explorar os diversos ícones do metal. Ora tendendo à música brutal, ora à música feia, ora à sorumbática, ora ao vigor do speed/heavy, ora aos descalabros horripilantes do black metal.

Passados mais de três anos, eles retornam com um álbum clichezado em relação à seus lançamentos anteriores, aquilo do “mais do mesmo”, mas um “mais do mesmo” classudo e grudento. Uma obra que nos remete, como é o praxe da banda, às delícias do death, do doom, do gothic, do black e do heavy metal sujo das bandas oitentistas, tudo isso com um tempero melódico e erudito em muitas das passagens.

Nesse ano de 2017, há poucos dias, eles reaparecem com a cativante obra “Under Heaven None”, um álbum que, certamente, será respeitado no mundo todo e levará ao delírio os fãs de fora muito mais que os ditos apoiadores da “cena nacional tupiniquim”, como sempre acontece a cada novo trabalho desses brazucas de Sampa comandados pelo excelentíssimo senhor doutor em música bruta, o exímio guitarrista Wanderley Perna que, devido a um acidente que o fez perder parte do dedo polegar, assumiu, desde 2006, o baixo dessa cozinha esplendorosa que é a da Genocídio.


“Under Heaven None” é uma obra apocalíptica e audaciosa, tão audaciosa que nos brinda com a faixa título logo de cara, uma porradaria technical death de encher os olhos e sangrar os ouvidos. O show é completo, uma verdadeira aberração a cargo de músicos completos e complexos. Murilo Leite extrapola todas as nuances do death, tanto com sua interpretação genuína nos vocais quanto à tocada das bases, riffs e solos num duelo abusivo com o não menos virtuoso Rafael Orsi. João Gobo tem uma performance tão gratificante nas baquetas que o coloca facilmente entre os mais completos do mundo. Tudo isso numa faixa de entrada.

Em seguida, a caótica “Requiescat In Pace”, um estrondoso monumento à degradação, com atuações além de sublimes de Gobo e seus velocíssimos blast beats e as vocalizações rasgadas de Murilo, uma quebradeira tão exuberante que até mesmo eu, que não sou lá um fanático por death metal, sou obrigado a fazer reverências ao grupo.

A terceira faixa “Death of a Dream” inicia de forma arrastada e soturna, mas logo a coisa descamba para uma das composições mais virtuosas que ouvi nessa minha curta carreira de ouvinte da música pesada [sic!]. tudo soa divino, mas o solo... ah, o solo de guitarra... que coisa dignificante.

“Winded Sleep” também começa arrastada, e se leva arrastada até o final, uma canção totalmente black metal, introspectiva e tenebrosa, um climão para uma viagem ao niilismo. Precisa falar algo sobre a performance de cada um na condução dessa ode?


A seguir a faixa “Mediaevil”, uma composição doom/death que explora a excelência que fez da Genocídio uma das mais excêntricas agremiações da história do metal bruto.. Orsi mostra-se divinal no solo de guitarra e Murilo e sua aparente latência, mais uma vez, assombra com seu vocal rasgado e cavernoso.

“The Woman and the Witch” é a sexta faixa, mais uma daquelas doom/death bem Genocídio e que apresenta um solo meio death meio black muito agradável aos ouvidos, massacrados pela brutalidade das canções anteriores.

Mas isso dura pouco tempo. Logo a seguir surge “You’re All sick” numa velocidade furiosa e alucinante. A base de Perna resplandece com dignidade ímpar, sustentando todo o vigor criativo de Murilo, Orsi e Gobo, amenizando na faixa subsequente “Them Arsonists”, composição black/death bem cadenciada e complexa que flutua em passagens ora heavy, ora doom, ora gothic. Realmente, uma canção de outro mundo.

Em “I Play Your God No More” a banda surpreende com o acoplamento muito bem construído de grooves na tocada. Uma mescla death/doom com pegada groove e solo heavy. Isso é só pra quem realmente entende do assunto.


E por falar em entender do assunto, sacar todo o universo metálico, eis que surge o heavizão black/thrash acachapante, vicioso, colento, subliminar e excêntrico em “Lair Of All Rats To Dwell”, uma das melhores composições que ouvi nos últimos anos.

No apagar das luzes, os caras nos brindam com “Black Vomit”, original da banda Sarcófago, porém com uma roupagem muito mais engendrada, o que cativa o ouvinte a degustá-la repetidamente, encerrando com a instrumental “Somberkkast”, um delírio levado a violão acústico. Chave de ouro!

A arte da capa é idealizada por Wanderley Perna e a produção a cargo de Rafael Orsi.


Nota: 9,2


Formação:

Wanderley Perna  (baixo) 
Murilo Leite (vocal e guitarra)
Rafael Orsi (guitarra e violão)
João Gobo (Bateria)

Faixas:

01. Under Heaven None
02. Requiescat In Pace
03. Death Of A Dream
04. Winded Sleep 
05. Mediaevil
06. The Woman And The Witch
07. You’re All Sick
08. Them Arsonists
09. I Play Your God No More
10. Lair Of All Rats To Dwell
11. Black Vomit (Cover do Sarcófago)
12. Sömberkkast


Redigido por Luis Henrique Campos

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...