Bloodrocuted - “For The Dead Travel Fast” (2017)

Punishment 18 Records

Mundo Metal [ Lançamento ]



Em se tratando de música, quando pensamos na Bélgica logo vem à mente bandas da nostálgica década de 80, onde nomes como Acid e Crossfire são inevitáveis, porém, hoje o país tem um representante de peso nessa nova geração, se é que podemos citar assim, do Thrash Metal mundial. Em outras localidades, bandas como Havok, Suicidal Angels, Angelus Apatrida, Crisix, Lost Society, Ultra Violence e outras, ditam o ritmo da carruagem pela estrada da música pesada. Nessa lista repleta de boas bandas, encontramos o Bloodrocuted, vindo de um país não muito tradicional se relacionarmos ao Thrash Metal, mas se analisarmos friamente, o certo é que não existe mais esse lance de “país tradicional de tal vertente”, o mundo está globalizado e totalmente conectado aos quatro cantos do mapa, hoje temos bons grupos em qualquer localidade.

Fundada em 2010 nos porões de Bruxelas, na Bélgica, o Bloodrocuted é uma banda que mistura a velocidade do Thrash Metal com a brutalidade e agressividade do Death Metal. A banda foi fundada por Daan Swinnen e Bob Briessinck, que logo recrutaram Jason Bond e Gaetan de Vos. Trata-se de uma banda, cuja proposta principal é espalhar a sua música com esforço e dedicação ao máximo, valorizando e potencializando sua arte. Seu repertório é calcado junto às bandas mais tradicionais e também com o que há de melhor hoje em dia, as influências são das mais diversas: Slayer, Suicidal Angels, Havok, Anthrax, Fueled By Fire, Megadeth, Entombed, Death entre outros. Com dois álbuns apresentados de muita qualidade e variações musicais dentro do estilo, o Bloodrocuted conseguiu se destacar junto a muitas bandas da mesma época. Muitos fãs mais antigos citavam a “modernidade” como um fator negativo para o surgimento dessa safra, mas contrariando muitos desavisados, os belgas demonstraram total empenho e garra e os discos “Doomed To Annihilation” (2013) e “Disaster Strikes Back” (2015), mostraram-se excepcionais.

Em “Doomed To Annihilation” (2013), o Bloodrocuted estreou com o pé na porta, destilando riffs certeiros e vocais muito bem encaixados em cada uma das composições. Mostram um lado bem fincado nas raízes do Thrash e já com algumas características de Death Metal. Logo de cara, notamos a qualidade e a versatilidade dos integrantes e em 2015, depois da Demo intitulada “Persecution of the Misanthrope” (2014), apenas aperitivo para o que estava por vir, os caras lançam o ótimo “Disaster Strikes Back” (2015). Seguindo a qualidade do debut e mantendo-se fiel ao propósito de misturar o Thrash Metal a elementos de Death Metal, conceberam um álbum ainda mais pesado, intenso e repleto de técnica e feeling. Já em 2016 repetem a dose e lançam mais uma Demo sob a alcunha de “Profanity”, esta serviria de ligação para o próximo álbum, porém, mudanças de formação acabaram atrasando um pouco a continuidade do processo, que só foi concluído com êxito agora. Com um currículo repleto de participações em festivais e performances ao lado de bandas consagradas como Havok, Enthroned e Voivod, os thrashers de Bruxelas conquistaram uma boa base de fãs tornando seu trabalho ainda mais consolidado e com crédito suficiente para seguir em frente a todo vapor.

Eis que a expectativa e também certa desconfiança pairava no ar quanto a um possível lançamento do terceiro full lenght, a notoriedade da banda não foi constatada apenas na Europa, mas também nos países sulamericanos, onde alguns fãs do gênero passaram a acompanhar a trajetória dos caras. Para a gravação de “For the Dead Travel Fast”, as muitas trocas de integrantes pareciam atrapalhar o prosseguimento, mas o grupo continuou a empreitada e o registro foi finalmente lançado no dia 01 de abril. A perda mais traumática no line up foi a de Gaetan De Vos, falecido em 2016. A formação atual pode ser conferida no rodapé do texto.


Decifrando “For the Dead Travel Fast”:

01. ”The Land Beyond The Forest”
Trata-se de uma intro de abertura, se inicia com um dedilhado bem calmo, com violinos ao fundo dando um tom de mistério e preparando nossos ouvidos para o que está por vir. A faixa funciona bem e de repente, os instrumentos começam a aparecer um a um, mostrando aos poucos as reais intenções da banda.

02. ” The Leper And The Whore”
Tirem as crianças da sala! Sim, é isso mesmo! Aqui temos o primeiro atropelamento do disco, esse som se assemelha a um elefante desgarrado e segue num ritmo frenético, veloz e com muito peso até o final. Durante o percurso, é fácil perceber as variações de riffs e isso é uma das características principais dos belgas. No meio do som, depois de um dedilhado mais calmo e vocais urrados, o solo destruidor chega para complementar esta grande faixa, enriquecendo o disco e abrindo espaço para o lado mais extremo e agressivo da banda.

03. “Perversion Of Purity”
Aqui o riff inicial é uma voadora na nuca sem dó, sem piedade e um sinal de muita dor aos fracotes que não aguentam a violência sonora despejada nos falantes. O vocal é um gutural muito bem orquestrado que lembra o grande frontman do Voodoopriest, ex Torture Squad, Vitor Rodrigues. Os riffs variam entre o Thrash e o Death Metal.

04. “Wound In Shadows”
Aqui a cozinha abre alas, iniciando a faixa seguida de guitarras cortantes e o baixo de Daan Swinnen se destacando com um ritmo cadenciado e impositor. A música segue numa crescente até que todos os instrumentos se encontram num ritmo veloz e com um peso descomunal. Se o lance é sair correndo como um retardado sanguinário até a encruzilhada, então é hora de apertar o passo e acelerar. O vocal ganha destaque no decorrer da faixa, casando muito bem com os riffs destruidores, o ritmo vai ficando mais extremo até a chegada do solo quebrador de dorsais. A pancadaria continua comendo solta no certame e a evolução sonora segue com mais um solo desagregador de famílias. Aqui podemos notar influências fortes de Slayer e Entombed.

05. “The Denial Of The Cross”
Com sinos lúgubres e soturnos, “The Denial Of The Cross” começa através de um passo vagaroso e lembrando bandas como Asphyx e Morgoth. Finalmente a ferocidade entra em cena e nos traz mais uma faixa incineradora de lares ortodoxos, aqui a viola berra enquanto os demônios vibram e brindam com a artilharia que fica ainda maior junto a solos indestrutíveis e capazes de dividir um planeta pequeno ao meio! Sem dúvidas é a faixa mais Death Metal do álbum. E depois dizem que não há bandas novas boas na parada...

06. “Cult Of Sacrifice”
Esta composição continua exatamente de onde a anterior parou, “Cult Of Sacrifice” introduz o ouvinte ao sacrifício sumário, desabando prédios e desintegrando porta-aviões tamanho a insanidade sonora apresentada. Como o próprio nome diz, é um culto ao sacrifício mesmo! Mas, no bom sentido da coisa, é claro (se é que existe algum bom sentido aqui)! A faixa inteira é repleta de riffs certeiros e solos mirabolantes. Totalmente indicada àqueles que adoram um som direto e reto.

07. “For The Dead Travel Fast”
A faixa-título não poderia iniciar diferente, uma abertura com ar sombrio e misterioso. A apresentação conta uma citação referente à obra literária “Dracula”, do escritor irlandês Bram Stoker. Um riff apocalíptico surge em meio a bateria contando os passos para iniciar a dança da guerra. Eis que a cavalaria chega e oferece todo o seu requinte de peso e crueldade para ouvidos sensíveis, as linhas de bateria são de outro plano astral e a música termina com um solo junto a uma base cortante que serve como ponte para a faixa seguinte.

08. “Ominous”
Depois do final brilhante de “For The Dead Travel Fast”, “Ominous” inicia com as guitarras de Dennis Wyffels e Jason Bond (é Jason, e não James!) e quando o som ganha velocidade, segue ladeira abaixo como um jipe de guerra em uma perseguição ao redor de um desfiladeiro. Os belgas realmente não brincam em serviço e esbanjam habilidade em cada um de seus instrumentos. O entrosamento fica claro com a paradinha para o baixo aparecer sozinho antecedendo os solos dignos de entoarem no vale da morte. Os jogos de riffs seguem ultra vorazes nos brindando com mais um petardo, fechando o álbum com chave de adamantium e aquela famosa vontade de ouvir tudo novamente.


Este é um disco rápido, rasteiro e com mudanças de andamento que fazem o ouvinte ficar ligado para sacar que tipo de riff virá a seguir. Os descontos ficam por conta de um certo exagero nas emendas das faixas, o que pode causar certa confusão durante a audição. Talvez o ouvinte menos atento fique meio sem saber se já mudou para a próxima música ou não, mas nada que comprometa o resultado final do disco novo desta banda que nasceu na capital do chocolate, da cerveja, da batata frita e dos melhores bombeiros do mundo, vide a Primeira Grande Guerra. Os vocais se alternam entre o rasgado e gutural e dão o tom ideal à proposta do álbum. Este não é um disco que veio para revolucionar a música extrema, muito menos para agregar elementos experimentais, aqui a ideia é a de mesclar de forma competente o que já existe de bom em ambas as vertentes (Thrash e Death), tudo isso sem cair na armadilha do “mais do mesmo” e mantendo uma identidade intacta. Podemos notar que o Bloodrocuted tem muito ainda a nos mostrar e a evoluir, pois estamos diante de uma das grandes e promissoras bandas do nosso amado e disputado Metal. Ouça sem moderação alguma!


Nota: 8,8


Formação:

Daan Swinnen (baixo e vocal)
Jason Bond (guitarra rítmica e vocal de apoio)
Dennis Wyffels (guitarra solo e vocal de apoio)
Ben Van Peteghem (bateria)

Faixas:

01. The Land Beyond The Forest
02. The Leper And The Whore
03. Perversion of Purity
04. Wound in Shadows
05. The Denial of The Cross
06. Cult Of Sacrifice
07. For The Dead Travel Fast
08. Ominous


Redigido por Stephan Giuliano

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