Resenha: Overkill​ - "The Grinding Wheel" (2017) Nuclear Blast Records


Existem vários tipos de Thrash Metal hoje em dia. Novo no pedaço é o neo-Thrash com elementos modernosos – o que gostamos de chamar carinhosamente de “Thrash de plástico”, ainda que eu goste de algo – típico de bandas como Suicidal Angels, Evile e Havok, por exemplo; existe o oposto desse, onde novas bandas tentam (e comumente conseguem) resgatar os bons e velhos costumes dos anos 1980, esse tocado por grupos como Total Violence, Wildhunt e Ultra-Violence; a safra técnica e/ou progressiva, ilustrada tão bem por monstros como Vektor, Gargoyle e Mekong Delta; o tipo híbrido, com elementos Black ou Death…bom, posso ficar nessa o dia todo. Mas hey, eu esqueci de um tipo importante: a banda old-school que ainda esta na ativa e arregaçando cabaços e destruindo bundas. Nessas incluo o Protector, Exodus, Sodom…e esses bastardos doidos aqui, Overkill. Eu costumo comparar a trajetória do Overkill com a de gigantes como o Saxon e o Accept: bandas que obliteraram a concorrência durante os anos 1980, fizeram umas curvas erradas aqui e ali nos anos 1990 e 2000 (eles também lançaram pepitas boas. Não se preocupe, eu ainda não perdi a sanidade e sei disso) e depois tomaram o elixir da vida eterna ou sei la que porra no final dos anos 2000, talvez pra se vangloriarem do quão fodidos eles são. De qualquer forma, o quinteto estadunidense nunca saiu muito da casinha e em 2017, após três anos do ótimo ‘White Devil Armory’, soltaram as cadelas de novo e lançaram ‘The Grinding Wheel’ hoje (se você estiver lendo isso em 10/02) via Nuclear Blast.


O play é significativamente diferente de seus três antecessores, musicalmente falando. Enquanto aqueles eram mais diretos, crus e mais fortes em riffs e explosão, ‘The Grinding Wheel’ é na real bem diversificado e heterogêneo na construção musical e melodias. O álbum começa da mesma maneira que ‘White Devil Armory’, porém, com a picuda “Green Mean Killing Machine”, faixa que já havia sido lançada como lyric video pelos caras um tempo atrás. Característica do estilo do Overkill, a parada é uma verdadeira supernova de riffs rasgados e contém um dos melhores refrãos e pontes feitos pela banda recentemente. Ótimo início, merecedor do legado da banda. As sequenciais “Goddamn Trouble” e “Our Finest Hour” mantêm as coisas na mesma linha com construções similares e boa atitude rebelde. A primeira tem aquela atmosfera divertida e despojada aliada ao peso do Thrash tão presente nos plays do Overkill, com DD Verni mostrando seus dotes no baixo (como sempre) e Bobby “Blitz” Ellsworth entregando uma ótima performance, enquanto a segunda ilustra ainda mais a quantidade de força e energia que esses putos colocam em suas composições. Rápida e cadenciada nas partes certas com um refrão melódico, é uma das melhores aqui, com certeza.


O taco dá uma espanada na parte média do álbum, com músicas decentes como a louca “Let’s All Go to Hades” e sua letra ridiculamente divertida e com “The Long Road”, que começa a mostrar o lado épico do play (sim, seu inseto, você leu certo: existem músicas épicas em um álbum do Overkill, surpresa), e algumas faixas menos favoráveis – mas tambêm decentes – como “Shine On” e a mais “groovy” de todas, “Come Heavy”. Felizmente os caras voltam à porradaria com a brutal “Red, White and Blue”, um hino do Thrash com energia e performances invejáveis de Derek Tailer e Dave Linsk nas machadadas, mas o verdadeiro herói aqui é o kraken Ron Lipnicki, que estupra a batera com vigor e virilidade. Fechando o trabalho temos as verdadeiras músicas épicas do álbum, “The Wheel” e “The Grinding Wheel”; a primeira parece mais uma introdução à obra por vir, enquanto a segunda é uma das faixas mais longas, diversificadas e bem trabalhadas da carreira (sim, da CARREIRA) do Overkill. “The Grinding Wheel” tem uma atmosfera única e surpreendente, indo de old-school Thrash ao progressive e intrincado (sim, você leu certo, apesar de ser analfabeto functional). Máximo respeito de minha parte aos caras por tentarem algo (muito) diferente do que os fãs estão acostumados, e pontos extra por de fato conseguirem sucesso na execução, já que a canção não soa prepotente ou pretensiosa em nenhum momento. O lendário Andy Sneap é o responsável pela produção e mixagem, então claramente aqui não houveram problemas; todos os instrumentos são perfeitamente audíveis e soam organicos, e os high e low ends ficam confortavelmente distantes, aumentando ainda mais o High Dynamic Range do som.


‘The Grinding Wheel’ é de longe o trabalho que mais gostei quando se trata dos gigantes do Thrash estadunidense lançando material nos últimos anos (o que inclui o Testament, Megadeth, Slayer e Anthrax. O Metallica não é Thrash mais, para de chorar), e o vejo como um ótimo álbum de Thrash no geral. A decisão corajosa de inserir elementos alienígenas ao seu som clássico e a ótima produção ajudam no produto final, verdade, mas o Overkill vai à todo o vapor na hora que faz o que sabe, que é Thrash sem frescuras. Esses maníacos já estão no hall das lendas, então poderiam ter soltado um play medíocre e ainda ter crédito na praça, mas escolheram pegar o Heavy Metal pelas bolas e marcar seu território mais uma vez, provando que idade é só um número. Uma lição (mais ou menos, mas tudo bem) de Thrash para todas as bandas saindo da fralda por aí.


Integrantes:

D.D. Verni - Baixo
Bobby "Blitz" Ellsworth - Vocal
Dave Linsk - Guitarra
Derek "The Skull" Tailer - Guitarra
Ron Lipnicki - Bateria 

Faixas:

01. Mean Green Killing Machine
02. Goddamn Trouble
03. Our Finest Hour
04. Shine On
05. The Long Road
06. Let's All Go to Hades
07. Come Heavy
08. Red White And Blue
09. The Wheel
10. The Grinding Wheel


Nota: 8

Por Bruno Medeiros

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