Independente
Mundo Metal [ Resenha ]
Em uma era de constantes escolhas em tudo que fazemos, a moral e a ética são por vezes o caminho mais árduo até o melhor objetivo. Ajudar aquele mendigo com um trocado sabendo que ele pode usar os Temers pra comprar cachaça? Fazer aquele segundo Facebook pra poder usar o Tinder maroto sem que a namorada descubra? Comer aquele bolovo que caiu no chão mas ainda parece não estar estragado? Essas e outras questões menos importantes para a humanidade como o uso de células-tronco para pesquisa e a paz mundial comumente vem à tona em nossas cacholas.
Os caras do Morality’s Asylum, de forma inteligente e atraente, nos ajudam um pouco a botar nosso músculo mais importante pra trabalhar em seu álbum homônimo, primeiro da banda e lançado de forma independente no já longínquo ano de 2016. Daniel Moretti (bateria), Ricardo Domingues (guitarra) Riq Therrys (vocais) e o provável líder do bando, Heitor del Ciel (teclados, baixo) dão um tapa na cara das gravadoras e mostram que é possível atingir um alto nível de Dynamic Range, produção cristalina sem distorções e mixagem satisfatória de forma independente; claramente o maior ponto positivo do play, a citada produção consegue fazer com que o que mais interessa (as músicas, ora!) fique extremamente agradável e nunca irrite os ouvidos nem do mais audiófilo dos nerds. A execução é de ponta, já que claramente os camaradas são músicos com M maiúsculo, enquanto que o feeling e a construção musical às vezes dão uma escorregada. O estilo predominante é o Prog Metal mais direto (se é que isso é possível) com ênfase nas viradas de bateria e no baixo cheio de groove que na maioria das músicas acompanha as notas de guitarra. Obviamente temos algumas fritadas e demonstrações de pau gran…ops, virtuose progressiva como em “Hello There…Crazy People”, e partes selecionadas de “Disregarded Morality” e “The Clockwork Paradigm”. Essa última, a mais longa do play, é também a que mais tem êxito em mostrar a proposta dos malucos, sendo ao mesmo tempo musicalmente complexa e leve aos ouvidos. Outros elementos externos ao Prog não foram deixados de fora, como galopadas esporádicas à lá Maiden e linhas vocais mais uníssonas que tornam os refrões e pontes em chicletes na mente.
Ao passo que fãs da orgia sonora (ou sonífera, pra alguns) de Dream Theater na era ‘When Dream and Day Unite” e Fates Warning pós ‘Inside Out’ vão aproveitar os deleites de proficiência musical e escalas e bases trabalhadas, curiosamente fãs casuais e céticos do Prog Metal também devem achar algo de valia aqui, principalmente em casos onde a porrada é mais direta, como em “Honor Among Thieves” e “The Turn”; essa última, inclusive, abandona a erudição em virtude da rapidez e força em certo ponto.
Caso não procure a cura do câncer em um álbum de Metal e aborde o debut homônimo desses novatos da cena de forma despretensiosa, vai encontrar algo que o agrade aqui. Não espere, porém, um clímax magistral, um riff de explodir mentes ou um refrão de parar guerras, porque ‘Morality’s Asylum’ não é – apesar de divertido, muito bem produzido e extremamente bem tocado - um trabalho tão memorável. Recomendado para fãs de Prog Metal e curiosos de plantão.
Nota: 7
Por Bruno Medeiros