Cruzadas

Mundo Metal [ Discografia ]



Cruzadas é uma velha conhecida dos metaleiros brasileiros, e fazem um som tão épico cantado na sua língua mãe. Com um instrumental que mistura Epic Heavy a elementos de outros estilos e gravação totalmente independente, a banda liderada por Daniel Walançuella chama atenção pela qualidade única.


"Guardiões do Apocalipse" Ep (2005) Independente


O início do império se deu com o EP ‘Guardiões do Apocalipse’, que se compõe de 9 canções épicas, bem feitas e bem produzidas, músicas rápidas e com letras fortes. A primeira faixa do disco, "Tróia" é uma introdução instrumental com peso e construção concisa. A faixa seguinte, "Despertar", contém um refrão muito grudento e um instrumental bem rápido e pegajoso, sem contar a voz de Daniel, que possui uma reverberação única. As músicas "Templo da Escuridão" e "Em Ruínas" seguem o mesmo princípio: bases cavalgadas e furiosas, linhas de bateria seguindo o Thrash Metal, letras de cunho histórico e um vocal potente! Logo em seguida, vemos duas músicas clássicas da banda! Na faixa que leva o nome do disco, e em "Império dos Deuses", com sua produção totalmente independente, conseguimos ouvir todos os os instrumentos que combinam perfeitamente criando uma atmosfera totalmente medieval e empolgante. Eis que as faixas seguintes são minhas favoritas. "Guerreiros" vem com sua força impetuosa, letra profunda, arranjo rápido e suscinto, além de bateria muito bem colocada que nos transporta a uma cena de batalha totalmente medieval, onde guerreiros que bradam sua pátria morrem por seus ideais. "Em Nome do Pai" e "Cruz no Peito, Espada na Mão" seguem suas ideias medievais e épicas onde Cruzados lutavam e morriam por sua fé. Um CD bem feito e conciso, que criou a ambientação perfeita para que o Epic Heavy Metal da banda fosse aclamado por qualquer fã de metal e idealizador do underground.


Nota: 7.9

"Idade das Trevas" (2010) Independente


Em 2010, foi-nos apresentado o ótimo ‘Idade das Trevas’, disco totalmente baseado na era das cruzadas (ah vá), com letras históricas e bem escritas. O disco se inicia com uma introdução bem clássica de temáticas épicas, combinando assim com todo o disco. A faixa "Esparta" é direta e com uma base rápida, acompanhada por uma bateria de igual velocidade e que chama atenção por sua simplicidade e peso. "A Espada Derrete Em Chamas" foi a música que mais me prendeu neste álbum, com peso, qualidade, velocidade, agressividade, e uma produção independentemente mas muito bem feita. A construção dessa foi o que mais me chamou atenção, principalmente com as variações da base no meio da música; geralmente quando a banda faz isso e reduz drasticamente o ritmo, o som se corta e a música fica meio sem nexo, mas isso não ocorre aqui. Esse corte rítmico serve de atenuante para a qualidade da música, visto que o mesmo ocorre na recepção do solo; uma grande jogada! "Honra e Glória" e "As Mil e Uma Noites" são músicas que apostam em passagens mais fraseadas e vocais mais modulados. Canções muito boas e bem posicionadas no disco. 

"Sombras do Castelo" é mais calma, com guitarras mais trabalhadas - utilizando alguns recursos pouco usados - e novamente ouvimos uma bateria de pedal 'estuprador', e um baixo bem tímido, mas presente. Parecida com essa é "Cemitério dos Ossos", seguindo o estilo de vocais modulados também nos backing vocals, a música se molda muito bem a qualidade do disco. Para fechar o trabalho, duas das minhas faixas favoritas. Começando por "Idade das Trevas", ouvimos uma canção rápida e liricamente rica, com pequenas passagens dotadas de qualidade e bom uso de breakdowns rítmicos, um refrão que gruda e um solo muito simples e que se encaixa perfeitamente à música; excepcional. A última faixa do disco foi uma surpresa para mim, haja visto que todas as outras da banda são rápidas e brutas. Quem diria que "Terra dos Faraós" seria uma faixa totalmente ausente de bateria e guitarras pesadíssimas, com apenas um dedilhado calmo e uma ambientação muito boa? Isso sem mencionar que a voz de Daniel se encaixou muito bem ao som. Por inteiro, o disco ‘Idade das Trevas’ é muito bom!


Nota: 8.3


Em 2014 a banda lançou um EP chamado ‘Arena da Morte’, com 4 músicas que apareceriam no vindouro novo disco. Todas mostravam que a temática da banda seria a mesma, mas as letras agora iriam além das guerras santas, e abordariam agora temas como gladiadores, Roma, Vikings, Mitologias e afins. Essas músicas também serviram para mostrar que a qualidade de produção da banda melhorou muito.


"Com Sangue se Escreve a História" (2017) Independente


Por fim, após 3 anos de espera, o 3° álbum da banda é lançado, com o título ‘Com Sangue se Escreve a História’. O disco já é aberto pela pancada "Aníbal": explosiva, rápida e visceral, com um baixo mais audível, uma bateria mais trabalhada, e uma guitarra rápida e direta, além de um vocal mais polido que nos discos anteriores. "Arena da Morte" (música que pertenceu ao EP de 2014) é uma canção viciante é muito fácil de ser cantada, com guitarras trabalhadas e bateria contínua. A porrada possui um solo mais técnico, bem trabalhado, e um refrão impecável. Uma música que retrata a história (que muitos de nós conhecemos) de pessoas que eram levadas para morrer nas arenas de Roma. A próxima faixa é "Triunvirato", que aposta em bases mais cavalgadas, letras totalmente históricas, um solo bem simples, e um baixo bem presente e notável, com passagens muito boas e técnicas. “Gladiador" (outra pertencente ao EP de 2014) segue o mesmo princípio de "Arena da Morte": bases rápidas, letra de fácil assimilação, bateria frenética e novamente uma história bem conhecida, essa se tratando de Maximus, General Romano que vira gladiador (sim, aquela história do filme). "Coração Valente" é uma das minhas preferidas do disco. Rápida, concisa, obstinada, e acima de tudo, empolgante, segue a antiga fórmula do Epic Heavy Metal, com guitarras contínuas e rápidas, bateria rítmica, um baixo que serve de sustentação para a bateria - mas mesmo assim presente -, e um refrão que gruda de uma forma esplêndida. 

Em "Vikings", (mais uma do EP de 2014) ouvimos um som mais 'cadenciado', com suavidade e precisão mais presentes, e uma letra épica e digna de ser cantada em Valhalla! Em sequência, temos "Era dos Titãs", (adivinha? Mais uma do EP de 2014), uma música com bases mais clássicas, uma bateria simples e novamente um baixo bem característico e preciso. O que chama atenção é a  atuação de Daniel nos vocais; a música não possui uma grande modulação, mas mesmo assim o mesmo dá vida às palavras cantadas, nos transportando a uma bela atmosfera. Muito bom! "Mare Nostrum" é a faixa instrumental do álbum que torna nossa viagem medieval mais calma e suave, mas que, como uma maré calma, se vai em meros 2 minutos. Como havia dito acima sobre “Coração Valente”, há aqui várias músicas que gosto e, nesse caso, a faixa bônus foi quem me ganhou. Quem conhece o projeto Brothers of the Sword obviamente conhece a faixa "Espada Selvagem", pois é este petardo que põe fim ao álbum lançado neste ano. Uma música simples, com a participação de Fábio "Grey Wolf" Paulinelli. Cadenciada, direta e com uma letra poderosa! Esse disco lançando recentemente – em janeiro de 2017 - tem peso e personalidade tremendos, elevando assim mais ainda a qualidade da banda!


Nota: 9


Concluímos assim que bandas nacionais lançam discos muito bons, porém se mantêm no underground devido a preconceitos que muitos de nós, fãs de metal, criamos. Às vezes por causa do estilo, das opiniões políticas/religiosas/ideológicas dos integrantes, e até mesmo como esses se vestem, há essa desunião e desconhecimento do mundo do Metal brasileiro. Precisamos quebrar essas correntes que nos prendem ao mundo estrangeiro, e devemos começar a valorizar o que temos de bom em nosso país!


Por Yurian Paiva

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