Napalm Records
Eu cresci ouvindo Grave Digger. Por um período de tempo nos anos 1990, tudo que eu fiz foi ouvir esses coveiros loucos, todo o santo dia. Eu queria cantar igual o Chris Boltendahl, fazer riffs motherfuckers como o Uwe Lulis, trocar uma idéia com o Stefan Arnold. Porra, eu queria ser um coveiro! Os anos 1990 foram um tanto sombrios para a cena do True Heavy Metal – com a incepção do Grunge e alguns subgêneros do Metal mudando drasticamente seu som para se encaixarem na grande mídia – e nem todas as bandas bateram o pé e negaram se separar do espírito dos dias dourados, mas aquelas que sobraram foram absolutamente matadoras. Jóias magníficas como ‘The Reaper’ (1993), ‘Heart of Darkness’ (1995), ‘Tunes of War’ (1996), ‘Knights of the Cross’ (1998) e ‘Excalibur’ (1999) foram lapidadas e enriqueceram o gênero, dando uma guinada necessária no True Metal à época. Todos esses plays tem um espaço especial no meu coração (e no seu também, aposto), e todos são considerados e respeitados até hoje. Bom, chega de lamber saco né?
O Grave Digger sempre conseguiu se manter em pé e definitivamente é uma das bandas que ainda consegue praticar destruição em massa e molhar calcinhas depois de mais de 30 anos de carreira. Dessa vez, pouco menos de três anos após o bom ‘Return of the Reaper’ (2014), Chris, Stefan, Jens Becker, Marcus Kniep e Axel ‘Ironfinger’ Ritt voltam dos mortos mais uma vez para homenagear o próprio estilo que os colocou no topo. ‘Healed by Metal’ e seu nome sugestivo chegam às prateleiras no próximo dia 13 via Napalm Records, e mostram o lado mais direto e rock ‘n’ roll da banda, algo que vimos de uma maneira ou outra no álbum passado, mas agora encobrindo toda a atmosfera. Bom, não poderia ser diferente com esse nome tão original (só que não), não é?
Os tiozinhos apostam alto logo de cara com “Healed by Metal”, uma faixa mid-to-slow e um hino ao Heavy Metal, com muito groove nas melodias e transbordando atitude. Há, porém, um problema com a música que na realidade afeta a maioria dos trabalhos dessa natureza: a letra; a faixa é divertida e ao vivo vai ficar uma beleza, claro, mas não tem quase nada a oferecer no quesito, tornando a experiência extremamente datada e mostrando uma visão super-simplificada de um tema explorado à exaustão como é o próprio Metal. Essa particularidade afeta também a similar “Ten Commandments of Metal”, faixa 6 do play, e deixando sérias dúvidas sobre qual foi a inspiração de Chris e companhia no álbum: de fato uma homenagem e uma carta de amor ao gênero que é seu ganha-pão ou só falta de originalidade e criatividade? Mas não me entenda mal, porque apesar desse (considerável) problema, ambas as faixas são bem decentes.
Por que eu focaria só nisso, você pergunta? Pois bem. Existem também músicas matadoras e viscerais aqui, como a poderosa “When Night Falls” onde Axel Ritt (eu sei que você odeia ele, mas dá uma chance pro filhote, vai) arregaça tudo com riffs de tirar o fôlego e, na minha opinião, mais liberdade do que nunca pra tocar, a bombástica e divertidíssima “Call for War”, reminiscente dos primeiros dias da banda com riffs diretos e um puta refrão, e a destruidora “The Hangman’s Eye”, que mistura o antigo e o novo Grave Digger numa performance estelar de todos os membros, especialmente de Stefan e Jens na cozinha; essa última, minha favorita do álbum. Um passo atrás dessas vêm a boa “Kill Ritual” com linhas vocais ferozes e melodia excitante (essa cumpre a promessa e te leva a um mundo macabro e maléfico de bruxaria) e “Hallelujah”, faixa grudenta mas simplória na ponte e refrão. Como nem tudo são rosas, existem três faixas medíocres, na minha opinião: “Lawbreaker”, outra canção extremamente atrasada no tempo com quase nada a oferecer, já que cai no cliché “somos fodões” (essa porra até começa com um som de motor de bike…que bonitinho), a também cliché “Free Forever” – que inclusive começa com uma semelhança assustadora com a “Solid Ball of Rock” do Saxon, e se eu não soubesse melhor diria que o Grave Digger copiou na cara dura o riff principal e até aquele efeito “pow pow” (vou fingir que não vi e achar que é só uma coincidência, mas estamos de olho, Chris) – com mais uma vez letras abaixo da média e construção segura demais pra uma banda experiente, e a estranha “Laughing With the Dead”, que carrega uma semelhança grande com outra faixa dos Alemães, “Season of the Witch”. A produção e mixagem são decentes, com uma pegada old-school, e a arte da capa é – como sempre com o Grave Digger – matadora.
‘Healed by Metal’ é lotado de atitude True Metal e mostra o lado direto e mais pesado do Grave Digger, não visto num play dos caras de forma completa desde ‘The Grave Digger’ lá em 2001. Alguns probleminhas aqui e ali poderiam ter machucado mais o produto final, mas a performance dos velhinhos, a produção boa e o fator diversão compensam os tropeços. Não fossem as letras extremamente pobres – que realmente me incomodaram, como você pode perceber – em algumas músicas e um pouco menos de ousadia na construção melódica, o álbum poderia ter ido melhor aos meus olhos e recebido uma nota um pouco maior. Mas não tema! Os deuses teutônicos do Metal entregaram mais uma vez um trabalho digno, que vai agradar os fãs da banda e também aqueles que ainda não são familiarizados com o Grave Digger (essa pessoa existe?). Mesmo meia bomba, o Grave Digger ainda consegue chutar muitas bundas.
Integrantes:
Chris Boltendahl - Vocal
Stefan Arnold - Bateria
Jens Becker - Baixo
Axel "Ironfinger" Ritt - Guitarra
Marcus Kniep - Teclado
Faixas:
01. Healed By Metal
02. When Night Falls
03. Lawbreaker
04. Forever Free
05. Call For War
06. Ten Commandments Of Metal
07. The Hangman’s Eye
08. Kill Ritual
09. Hallelujah
10. Laughing With The Dead
Nota: 7
Por Bruno Medeiros