Resenha: Xandria - 'Theater of Dimensions' (2017)


Symphonic Metal. Essas duas palavrinhas capciosas são o suficiente pra fazer o Headbanger mais tradicional e fechado sair da casinha e esbravejar urros como “isso não é Metal de verdade!”, “Sai fora seu poser!” ou “Você não conhece Manowar!”. O problema é que hoje em dia, nesse mundão desconstruído, globalizado e heterogêneo o tr00zão esta cada vez mais perdendo sua voz no vazio sombrio e gelado das mentes fechadas para os cânticos das Simone Simons, Tarja Turunens e Floor Jansens da vida (isso sem contar os cores e djents que tomam a cena de assalto).

Toda essa introdução chata é pra ilustrar que eu, assim como o headbanger fechadão na sonzeira dos anos 1980, já torci muito o nariz para as vertentes intermináveis que surgem no Mundo Metal (viu o que eu fiz aqui?) e depois de muito apanhar de mim mesmo e dos camaradas que apreciam o gênero em suas diversas formas sem se prenderem a rótulos, eu acabei por me render e aceitar o lugar desse tipo de sub-gênero em nosso mundinho (o que não quer dizer que eu goste, veja bem). Pois bem, o Xandria faz parte daquele nicho que comentei nas primeiras palavras do texto e eu – como pseudo-profissional no meio de resenhas e do jornalismo metálico – dei a cara à tapa e aceitei a árdua tarefa da Napalm Records de escrever sobre uma banda e gênero que não nutro o mínimo sentimento, afinidade ou sequer conheço muito. E é exatamente aí que vem minha surpresa com esse play, ‘Theater of Dimensions’, lançado no último dia 27 de janeiro.

Já veteranos da cena e donos de uma discografia crescente, esses Alemães são também donos de uma base de fãs considerável e certa fama na Europa. Sétimo álbum de estúdio desse grupo, esse play é o segundo com o baixista Steven Wussow e com a bela e extremamente competente Dianne van Giersbergen, que por sua vez são capitaneados por Marco Heubaum (guitarra, vocais, teclado), Gerit Lamm (bateria) e Philip Restmeier (guitarra). O esquema aqui é que o trabalho passado dos caras, ‘Sacrificium’, foi meio que fodido pra caralho e aumentou as expectativas para esse, o que faz com que eles tenham que melhorar sua performance, certo? E eles conseguem?


Bem, não. O que vemos em ‘Theater of Dimensions’ é uma amostra massiva e emocional do que o estilo pode nos oferecer, com sinfonias, pianos, coros semelhantes aos de música clássica e performances cinematográficas em abundância, já característicos da banda. Já podemos ver o poderio dos caras logo nos primeiros accordes da introdução de “Where the Heart is Home”, que explode em um belo hino híbrido Power/Symphonic com um refrão de tirar o fôlego. Músicas assim são uma constante no álbum e alternam com passagens mais belas e amenas, como em “Dark Night of the Soul” – uma das melhores faixas aqui, e olha que eu odeio baladas -, mais densas e poderosas como a ótima “We Are Murderers (We All)” e “When the Walls Came Down (Heartache Was Born)”, e até partes Folk como na instrumental “Céilí”, fazendo do álbum uma experiência virtuosa e de boa variedade. As participações especiais também são várias e servem de bom apoio ao som; Ross Thompson (Van Canto) empresta seus vocais em “Ship of Doom”, o frontman do Myrath Zaher Zorgati faz um bom dueto com Dianne em “Burn Me”, Björn "Speed" Strid (Soilwork) canta na já mencionada “We Are Murderers (We All)” e o mítico Henning Basse (ex-Metalium, Mayan, Firewind) destrói na épica e mais longa faixa do álbum, “A Theater of Dimensions”. Claro, a sinfonia, os coros e o flerte com a música erudita clássica ainda é o foco aqui (Symphonic Metal, queria o quê), e por esses aparecerem de forma comum e exagerada, acabam por machucar um pouco o clímax e embaralham a mente ao tentarmos decifrar quais passagens devem ser mais importantes e bombásticas e quais devem servir de suporte. A produção ficou a cargo do ex-tecladista do After Forever e já experiente na cena Joost van den Broek e a masterização pelo lendário Darius van Helfteren, que já trabalhou para bandas como Judas Priest, Scorpions e God Dethroned.

‘Theater of Dimensions’, em suma, é um bom álbum. As músicas têm ótimos hooks e fator replay, o som é agradável e Dianne van Giersbergen é uma verdadeira força da natureza (não à tôa é considerada a melhor vocalista feminina do gênero hoje). Os problemas principais com ele, porém, são o já comentado excesso de elementos teatrais (com esse nome, não tinha como ser diferente), o que torna a experiência pretensiosa e cinematográfica até demais, e o simples fato de terem lançado em sequência ao aclamado ‘Sacrificium’, considerado um dos grandes álbuns de Symphonic Metal nos últimos tempos. Fãs de Nightwish, Epica, After Forever, Leave’s Eyes e até Kamelot ou Sonata Artica vão com certeza achar aqui algo de valioso, enquanto que os mais céticos e puristas vão continuar com ressalvas, já que o Xandria e bandas similares entram na categoria “ame ou odeie”.



Integrantes

Marco Heubaum (guitarra, vocais, teclado)
Gerit Lamm (bateria)
Philip Restemeier (guitarra)
Steven Wussow (baixo)
Dianne van Giersbergen (vocal)

Faixas

1. Where the Heart is Home
2. Death to the Holy
3. Forsaken Love
4. Call of Destiny
5. We Are Murderers (We All)
6. Dark Night of the Soul
7. When the Walls Came Down (Heartache Was Born)
8. Ship of Doom
9. Céilí
10. song for Sorrow and Woe
11. Burn Me
12. Queen of Hearts Reborn
13. A Theater of Dimensions


Nota: 7.75

Por Bruno Medeiros
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