Live Review: Violator


Dois anos após a sua última apresentação em São Paulo, o Violator, uma das bandas mais aclamadas do Thrash Metal brasileiro atual, retornou para um show ao lado das bandas Armadilha (SP), Damn Youth (CE), D.E.R (SP),. e Cemitério (SP). Ainda que a data escolhida, um sábado, dia 21 de janeiro, tenha sido um dia muito chuvoso, isso não impediu o público de comparecer em peso.

A abertura da casa ocorreu por volta das 16h. Uma coisa que merece ser elogiada de imediato é a organização da Clash Club. Os horários das apresentações das bandas foram respeitados, a playlist selecionada durante as pausas entre um show e outro foram muito bem escolhidas e condizentes com a proposta musical de cada grupo, ou seja, tudo dentro dos conformes. Por volta das 17h, a casa já estava aglomerada e o evento teve início com a apresentação da banda de Heavy/Speed Metal Armadilha. A banda, encabeçada por Pedro Zupo (vocal/bateria), Lucas “Alemão” Vieira (baixo) e Denys Garcia (guitarra) aqueceu o público com sua proposta musical oitentista.


Depois de um breve intervalo, foi a vez do quarteto cearense do Damn Youth dar sequência ao evento. Executando um Crossover/Thrash intenso, Jardel Reis (baixo), Italo Rodrigo (bateria), Camilo Neto (guitarra) e Elton Luiz (vocal) foram responsáveis por uma apresentação muito invejável e insana. Por mais que fossem desconhecidos por muitos, ganharam o prestígio dos presentes com sua performance dinâmica, amalucada, honesta e humilde. Destaque para o vocalista, que vestia uma bermuda florida no melhor estilo Anthrax nos anos oitenta! Hilário! O moshpit e o stage dive também comeram soltos nessa hora, porém a destruição estava apenas começando.

Após uma esmagadora aula de Crossover/Thrash, as coisas ficaram realmente sujas e brutais com o Grindcore ensurdecedor e totalmente dissonante do D.E.R. Pouco antes do show do grupo ter início, os telões da Clash Club exibiam uma introdução com imagens do presidente da República Michel Temer, o que já serviu para “preparar o terreno” para o caos eminente. Os “anti-músicos” Maurício Toda (baixo), Renato Figueiredo (guitarrista), Barata (bateria) e Thiago Nascimento (vocal) sobem ao palco e assim que o vocalista Thiago anuncia a primeira “anti-música”, “Quando a Esperança Desaba”, a pista se tornou um caos absoluto novamente. Pedradas com menos de um minuto de duração em sua maioria foram executadas com crueza e muito profissionalismo. Destaque para o insano baterista Barata, que também integra o excelente duo Test. Esse cara é um demônio em seu instrumento!


Na sequência, foi a vez do Cemitério mandar o seu Old School Death/Thrash Metal com temáticas influenciadas por filmes de terror dos anos setenta e oitenta. Essa apresentação da One Man Band de Hugo Golon teve como finalidade promover o EP “Oãxiac Odèz”, lançado no ano passado, em dezembro. Hugo Golon (vocal) e seus músicos de apoio Henrique Perestrelo (guitarra), Douglas Gatuso (baixo) e Skullkrusher (bateria) subiram ao palco e foram recebidos de forma extremamente calorosa. Petardos como a nova e já bem conhecida do público “Tara Diabólica”, “A Volta dos Mortos Vivos”, “Quadrilha de Sádicos”, “Sexta-Feira 13”, “Natal Sangrento”, “Pague Para Entrar, Reze Para Sair” e “A Vingança de Cropsy” foram tocados e a reação de todos foi assustadoramente positiva. O público bangueou, cantou e promoveu moshpits violentos, além de stage dives frenéticos e intermináveis.

Eis então que era a hora da atração principal subir ao palco! O telão da Clash Club já exibia uma arte com o logo do Violator e não demora nada para que Batera (bateria), Capaça (guitarra), Marcio Cambito (guitarra) e Pedro "Poney Ret" Arcanjo (vocal/baixo) subam ao palco, já mandando a massacrante instrumental “Death Descends (Upon This World)”, do segundo álbum da banda, “Scenarios of Brutality” (2013). Próximo ao fim da música, a banda para de tocar devido a um problema técnico com o amplificador e o frontman Poney, bem humorado e descontraído como sempre, declara que um show do Violator totalmente profissional e sem falhas não existe e que por mais que se dediquem isso sempre acontece. Todos caem na gargalhada!


A apresentação prossegue com a faixa de abertura do debut do grupo, “Chemical Assault” (2006), a moedora de ossos “Attomic Nightmare” e “Endless Tyrannies”, ambas recebidas com um moshpit generoso, que perdurou por toda a apresentação, além de stage dives dementes e ininterruptos. Algo que gostaria de pontuar é que nem tudo disso é positivo. Curtir e aproveitar ao máximo um show é excelente e todo fã tem esse direito. O problema é o desrespeito que muitos têm nessas horas. Sempre tem aquela galera que não quer apenas entrar no mosh e curtir com os amigos, mas que busca arranjar confusão, encontrar uma desculpa esfarrapada para bater nos outros e descontar a sua raiva em quem não tem nada a ver, enfim, atitudes completamente desnecessárias e esdrúxulas. Como diz a mensagem por detrás da letra de “Mosh Jocks”, música do Possuído Pelo Cão, se você é um desses valentões que apenas quer se aparecer e criar confusão, “Leave this fuckin’ place!” (“Caia fora dessa porra de lugar!”).

Antes de iniciar a próxima música, Poney faz um breve discurso sobre o atual momento que a política vive e é claro que o público decide cantar em coro “Ei, Bolsonaro! Vai tomá no cu!”. Eis então que a banda executa uma nova música que estará no próximo registro, “False Messiah”. O repertório da apresentação continua com as ótimas “Toxic Death”, “Echoes of Silence”, “Respect Existence or Expect Resistance”, além da nova “Infernal Rise”. Após o término dessa última música, Poney menciona que é a primeira vez que tocaram esse som ao vivo.  Sem perder tempo, a banda retoma a pancadaria com “After Nuclear Devastation”, a obrigatória “Futurephobia”, além de mais uma instrumental espetacular, a arrasa-quarteirão “Ordered to Thrash”.


Minutos antes de iniciarem a penúltima música do setlist, Poney conta uma história hilária explicando que a próxima composição que irão tocar foi feita para todos fazerem a dança de "bater o pentagrama" e então ele demonstra essa inusitada “dança”, fazendo todos caírem na gargalhada mais uma vez. E dá-lhe “Destined to Die”, uma das melhores composições de “Chemical Assault”. Para encerrar o show de forma apoteótica, é claro que tivemos “UxFxTx (United For Thrash)”, que fez todos agitarem com o máximo de intensidade pela última vez. Em poucas palavras, foi  uma apresentação digna de aplausos, muito bem-humorada, insana e intensa.

Os integrantes do Violator também demonstraram, mais uma vez, que são muito humildes e atenciosos com os fãs. Os caras estavam o tempo todo ao lado da plateia, assistiram a apresentação de todas as demais bandas do evento antes de chegar a sua vez de subir ao palco, sempre sorridentes e descontraídos com todos que interagiam com eles. Independente do posicionamento político de seus integrantes, não há como dizer que são más pessoas, muito pelo contrário.

Agora, falando a respeito do evento em si de forma geral, foi simplesmente fantástico. Eventos independentes muitas vezes merecem elogios justamente pela energia que possuem e esse aqui merece aplausos não apenas pelas bandas e pelos shows propriamente ditos, mas pelo conjunto de tudo: produção e organização de qualidade, bandas e shows de primeira, um local de fácil acesso ao metrô e meios de transporte em geral e por último, mas jamais menos importante, o público, afinal, sem ele, não existe nada!



Setlist (Cemitério):

Intro – Olhos da Morte
Tara Diabólica
A Volta dos Mortos Vivos
Quadrilha de Sádicos
Sexta-feira 13
Oãxiac Odéz
Ela Voltou (Pra Levar a Sua alma)
Encarnou no Seu Cadáver
Damien (Taurus)
A Última Casa à Esquerda
O Dia de Satã
A Sentinela dos Malditos
Natal Sangrento
Pague Para Entrar, Reze Para Sair
A Vingança de Cropsy

Setlist (Violator):

Death Descends Upon This World
Attomic Nightmare
Endless Tyrannies
False Messiah
Toxic Death
Echoes of Silence
Respect Existence or Expect Resistance
Infernal Rise
After Nuclear Devastation
Futurephobia
Ordered to Thrash
Destined to Die
UxFxTx (United For Thrash)


Texto e fotos por David Torres


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