Vektor - Progressive Thrash Metal


A chamada música por encomenda, aquela de fácil degustação, repleta de condimentos realçadores de sabor, mas que no âmago não passa de algo insosso, sem motivações gustativas e sem obrigação de sintetizar qualquer nutriente está num dos extremos da linha musical, assim como a música transcendental de vanguarda, aquela que materializa a rebeldia filosófica, que transcende, que deixa um legado universal para alimentar todo um plano de pensamento, ocupa o outro extremo.

A moda existe desde que o homem é homem e, apesar de cíclica, ela é implacável em seu status quo e na música não age de forma diferente. Tanto que a história nos conta o quão atrozes são os efeitos da moda, tanto que até mesmo os grandes mestres da música clássica, entre eles, Mozart, Bach, Beethoven, Verdi, Vivaldi, Tchaikovsky e outros mais, viveram grande parte de seu legado artístico imbuídos em compor obras de poucos quilates por requisição de poderosos doutrinadores do consumo indigente e sem personalidade.

Um bom exemplo é a vida musical de Mozart, narrada por muitos como um gênio que morreu à míngua, sem tostão furado, vitimado pela inveja e por suas peripécias promíscuas, obrigado a se render ao consumismo barato dos bares fétidos de Viena, mas a maior parte da história do músico não passa de fantasia e mesmo sua genialidade é questionada visto que, segundo historiadores de hoje, ele utilizou a maior parte ds convenções musicais da época, sua obra jamais fora uma revolução musical, entretanto, sua grandeza se baseia na complexidade e profundidade com que trabalhou essas convenções, sobressaindo-se e muito aos seus contemporâneos.


Viajando alguns séculos no tempo, até os dias atuais, encontramos o heavy metal como principal expoente da música de vanguarda e em seu universo astronômico, um sem número de músicos e bandas transcendentais, aqueles que estão além de seu próprio tempo. É no heavy metal que se encontram os mais virtuosos guitarristas, os mais excêntricos baixistas, os mais rebeldes bateristas, os mais complexos tecladistas e os mais soberbos vocalistas, homens capazes de explorar todos os limites de tons que a voz humana possa alcançar.
É verdade que nesse universo também existe toda uma gama que ocupa os dois extremos citados. Uma linha quase que infinita, um segmento de larga escala, assim podemos dizer. Por ele navegam ondas que vão do lixo ao luxo, com um centro repleto de obras magnânimas e de agradável concepção, porém, no extremo direito desse segmento é que se encontram obras de maior complexidade, e, entre elas a genialidade da Vektor, banda estadunidense de Progressive Thrash Metal, surgida na cidade de Tempe, no Arizona e que hoje está estabelecida na capital da Pensylvania.

Vektor é uma banda de DNA tão mais evoluída que as demais que até em seu lirismo extrapõe-se de maneira inconfundível e admirável usando como temática e inspiração a ciência e a filosofia.
Batizada Locrian, no ano de 2003, mudaram o nome pra Vektor no ano seguinte e em sua discografia imperam três álbuns de sublimidade ímpar, além de três demos iniciais ao debut e um live álbum intercalado aos de estúdio.

O debut, lançado em 2009, é o revolucionário da música avante-garde "Black Future", composto de 9 canções atemporais. Nele, a banda explorou todas as convenções possíveis e imagináveis do metal em geral, uma infinidade de passagens por diversas das tantas vertentes desse estilo de música. Ali tem de tudo um pouco: heavy, speed, thrash, death... tudo assentado numa veia progressiva de extravagante complexidade.

Pelos títulos das canções podemos imaginar por quais fontes líricas passeiam as composições:

Black Future (2009)



"Black Future" é um mundo repleto de solos, riffs, variações e breaks, tudo magistralmente empregado e que culmina nas vocalizações de David Disanto, que alcança tons agudos absurdamente altos em sua técnica apuradíssima de "death growls", característica no thrash e no death metal. Os demais componentes da banda também são dignos de destaque. O baterista Blake Anderson é de uma insanidade inverossímil, sua técnica tão variada lhe permite ser assombroso sem engolir a banda, como fazem muitos bateras "firulentos" e de pouca inspiração que habitam nosso universo. 
Frank Chin, o baixista, deveria empunhar uma batuta, de tão orquestral que é sua atuação como comandante da base, num misto de virtuose e simplismo. Os diversos duelos que ocorrem entre as guitarras de David Disanto e Erik Nelson por todo o percurso do álbum deixam qualquer um boquiaberto, tal a complexidade em suas palhetadas.

"Black Future" é técnico, é intrincado, é multifacetado. Um álbum intenso e obscuro, muito mais pra quem aprecia a profundidade em detrimento à pegajosidade e paixão.

Tracklist:
01. Black Future
02. Oblivion
03. Destroying The Cosmos
04. Forests Of Legends
05. Hungr For Violence
06. Deoxyribonucleic Acid
07. Asteroid
08. Dark Nebula
09. Accelerating Universe



Outer Isolation (2011)



O segundo álbum da banda, lançado em 2011, é "Outer Isolation". De uma intro 1000% prog, os caras debandam pra um thrash vultuoso e atroz em "Cosmic Cortex", mas a temática é basicamente a mesma do debut, com algumas pinceladas do obscurantismo sobrenatural da linha death/black.

A velocidade aumenta consideravelmente em relação ao álbum anterior e, em muitos momentos, nos leva a batida característica do crossover, entretanto, as contribuições de Blake Anderson na batera e David Disanto nos vocais rasgados, ríspidos e agudos e a sublimidade dos virtuosos guitarristas nos faz lembrar a superioridade intelectual de Schuldner, principalmente em sua fase de transição entre a banda Death e a Control Denied. Vejam vocês: Um álbum thrash, de alma e semblante prog, com doses generosas de speed e heavy e assombrosamente de caricatura death. Não só poderia como é uma obra genuína, atemporal e de vanguarda. Sobre as canções não tenho o que acrescentar. Pra mim, são todas soberbosas e grudentas. Algo incapaz de apenas poucas audições.

Tracklist:
1. Cosmic Cortex
2. Echoless Chamber
3. Dying World
4. Tetrastructural Minds
5. Venus Project
6. Dark Creations, Dead Creators
7. Fast Paced Society
8. Outer Isolation


Terminal Redux (2016)



Nesse ano de 2016, tão maravilhoso tanto para a música pesada quanto a de vanguarda, a Vektor nos presenteou, logo no início, com o sensacional "Terminal Redux", um álbum bem mais longo, mas em nada cansativo, muito pelo contrário, pegajoso, apaixonante e opioide. Aquela substância que nos torna escravo de nossas próprias incertezas: A droga do fim dos tempos.

A lineup continua a mesma e a atuação dos membros, idem. Nota-se uma certa evolução no desempenho de Disanto, agora com uma voz um pouco mais anasalada, mas com os mesmos elevados agudos que o caracterizam como um dos mais acurados vocalistas da linha avant-garde. A pegada prog também está mais acentuada e evidente, mesmo o thrash sendo a energia das composições.

Blake Anderson utiliza de um arsenal ainda maior de variações e quebradas, coisa inexorável do progressivo, tornando-o, se ainda não era, um músico às margens da perfeição.

Uma banda thrash que faz um thrash dos mais evoluídos, diferente de tudo aquilo que vemos e ouvimos na atualidade, onde a maioria das bandas repetem seu álbuns ou os de outrem, ano a ano. Num universo onde tudo já foi exaustivamente explorado, vocês têm a oportunidade de conhecer algo original, virtuoso e emblemático. Uma obra prima composta de três atos divinais que falam principalmente da intrínseca mente humana em constante evolução. Uma "Trinca de Ases" pra poucos.

Tracklist:
1. Charging The Void
2. Cygnus Terminal
3. LCD (Liquid Crystal Disease)
4. Mountains Above The Sun
5. Ultimate Artificer
6. Pteropticon
7. Psychotropia
8. Pillars Of Sand
9. Collapse
10. Recharging The Void


por Luís Henrique Campos

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