Assim como diversos outros estilos dentro do Metal, o Death no decorrer dos anos se segmentou e deu origem a vários subgêneros como Grind, Brutal, Progressive e outros. Embora eu goste bastante do estilo em seu estado mais tradicional, o famoso old school Death Metal, é inegável que algumas bandas conseguem elevar a vertente a níveis jamais imaginados e os resultados muitas vezes são incríveis.
O Brutal Death Metal sempre foi o tipo de Death Metal que menos gostei, não pela musicalidade em si, mas sim por que um grande número de bandas cometem o equívoco de conceber aqueles discos onde parece que estamos ouvindo uma mesma música ininterrupta. Parece que toda a criatividade dos músicos foi usada na primeira composição e depois disso tais álbuns são apenas uma mera repetição da faixa de abertura.
É óbvio que nem sempre isso ocorre e quando as bandas conseguem fugir desse "padrão", o resultado é sempre muito interessante e é exatamente este o caso de "Burn Illusion", disco de estréia da Exterminate. Para que se tenha uma idéia aproximada de como sou chato e exigente nesta vertente, o último registro que havia realmente gostado antes de escutar este trabalho, havia sido o debut da Division Hell, "Bleeding Hate", em meados de 2015.
A Exterminate foi formada no ano de 2007 e depois de passar por alguns problemas referentes a troca de integrantes, se estabilizou e em 2009, lança a demo tape "Insane Fate" e em 2012, o EP "Ascension". Tudo estava encaminhado, o grupo preparado para alçar novos vôos e o álbum de estréia enfim foi lançado em 2015.
"Burn Illusion" não é um disco para apenas uma audição descompromissada, mas um registro que deve-se ouvir com a devida atenção, pois possui algumas características bem peculiares e diferenciadas. O primeira que destaco é a capacidade vocal de Adriano Martini, que além do tradicional gutural cavernoso, é capaz de se alternar em ótimos vocais rasgados.
Tecnicamente, todos os membros do grupo são exímios musicistas e dominam seus respectivos instrumentos. Em como todo álbum do estilo que se prese, a cozinha, ou como alguns preferem, parte rítmica, é um destaque à parte e Marcelo Feijó (baixo) e Sandro Moreira (bateria), são precisos ao extremo e através de performances acima de qualquer ressalva, trazem total segurança para que a dupla de guitarristas formada por Rafael Lavandoski e Adriano Martini, possam desfilar suas linhas, solos e bases intricadas.
Uma característica de "Burn Illusion" que me conquistou de imediato é a de que em meio a destruição sonora promovida pelo quarteto porto alegrense, há uma quantidade generosa de ótimos riffs, o que traz um grande diferencial para cada composição. Outro ponto favorável é o formato que utilizaram, um disco com apenas 8 faixas e pouco mais de 37 minutos. Este fator contribui muito para que a audição não se torne cansativa e ao invés daquele sentimento de que o disco é interminável, temos a boa sensação de "Já acabou? Vou colocar de novo pra rolar!".
Os grandes destaques do álbum são a poderosa faixa de abertura "Doom", a épica "The Legacy Of The Order", com seus mais de 9 minutos de duração e dividida em três partes (Crucis, Vita e Lucifer), "God Of Deception", repleta de solos precisos e "The Bells Of Damnation", com viradas, variações diversas e uma construção das mais interessantes.
A temática de "Burn Illusion" trata da polêmica questão religiosa e a banda como não poderia deixar de ser, questiona diversos pontos da doutrina cristã e da fé alienada de maneira muito sagaz e inteligente, passando a sua mensagem de forma explícita e sem meias palavras.
A arte é belíssima e remete diretamente para as capas feitas no final dos anos 80 e início dos 90 por nomes pioneiros do gênero. Foi concebida pelo artista Marcos Miller e é uma das mais legais concebidas em 2015. A produção de Sebastian Carsin, juntamente com os integrantes da Exterminate, não deixa a desejar e é bem equilibrada, fugindo da modernice atual, porém em nenhum momento passando a impressão de ser uma demo tape.
Em suma, para os amantes e seguidores do bom Death Metal, "Burn Illusion" deverá agradar em cheio e se fosse tecer algum tipo de crítica, seria apenas uma vontade pessoal minha de ver mais vocais rasgados no próximo trabalho. Apesar de ter sido bem utilizado em alguns momentos, acredito que poderiam apostar um pouco mais nessa diversidade, já que seu vocalista tem potencial de sobra pra isso.
Recomendo!
Integrantes:
Adriano Martini (vocal e guitarra)
Marcelo Feijó (baixo)
Rafael Lavandoski (guitarra)
Sandro Moreira (bateria)
Faixas:
1. Chapel Of Agony (Intro)
2. Doom
3. Burning Illusions
4. The Legacy Of The Order
5. God Of Deception
6. Judas Tomb
7. The Bells Of Damnation
8. Ascencion
por Fabio Reis