Iron Maiden - The Book Of Souls (2015)


Começo avisando: Quem for um fã xiita, amante incondicional ou que faz parte daquele grupo de pessoas que pensam que apenas pelo fato de ser um álbum do Iron Maiden, é sinônimo de música boa e que pelo passado glorioso que a banda possui, qualquer crítica é descabida e indevida. Favor nem perder tempo em ler esta análise. 

Até agora, só o que vi foram resenhas feitas no mesmo dia em que o trabalho vazou, onde claramente sob o calor e emoção da primeira audição, foram rasgados elogios a revelia e a sensação que me era passada, era a que estávamos diante de uma obra de arte suprema, perfeita e sem ressalvas, o que sinceramente não condiz com o conteúdo do disco. Se por um acaso você resolver prosseguir com a leitura, saiba que estará diante de uma resenha feita por um admirador profundo da velha donzela, que escutou o novo registro no mínimo 15 vezes em sua totalidade e algumas faixas em específico, ainda mais vezes. Estou aqui para apontar o que o álbum tem de bom e também os seus defeitos, portanto, se a verdade te incomoda, se prepare pra ficar desapontado, vamos lá...

Quando foi anunciado o track list de "The Book Of Souls", juntamente com a respectiva duração de cada faixa, confesso que fiquei um tanto decepcionado. Não esperava um disco longo como este, repleto de músicas extremamente grandes e o primeiro pensamento que me ocorreu, foi o de que seria um álbum cansativo, ainda mais progressivo que os anteriores e as chances de algo que pudesse realmente remeter a era de ouro da banda eram bem escassas. Nutria alguma esperança, afinal estamos nos referindo ao Iron Maiden, não há como negar o talento dos músicos envolvidos e sendo assim, sempre esperamos que algo realmente fora dos padrões nos surpreenda. 

De certa forma, esta surpresa até se consolidou, pois mesmo com 94 minutos de duração e músicas com 8, 10, 13 e até mesmo 18 minutos, o trabalho fugiu da mesmice e poucos são os momentos em que acontecem as famigeradas introduções lentas e sem fim que antecedem as músicas de fato. Ao contrário disso, há diversas faixas mais diretas e que lembram o Maiden de outrora. "Speed Of Light", "Death Or Glory" e "When The Rivers Run Deep" são bons exemplos disso.


Outras composições que considero bem interessantes são "The Great Unknown", "The Book Of Souls", "Tears Of A Clown" e "The Red And The Black". Estas me agradaram bastante e são os momentos mais empolgantes do trabalho com folga. Cheias de passagens instrumentais impecáveis, uma ótima interpretação de Bruce e um inspiração que há um bom tempo sentia estar ausente nos álbuns do Maiden. Os antecessores, "A Matter Of Life And Death" e "The Final Frontier" não conseguiram me empolgar e com exceção de poucas faixas, considero registros bem medianos. Já este novo álbum, na minha visão, é bem mais complexo e musicalmente superior ao que a banda vinha apresentando de alguns anos pra cá. 

Essa observação não serve de parâmetro pra considerar o mais recente lançamento da Donzela excepcional, pois ser melhor que "The Final Frontier" em uma discografia que possui obras impecáveis como "Piece Of Mind", "Powerslave", "Seventh Son Of A Seventh Son" e tantos outros, não é lá uma tarefa tão difícil assim. É óbvio que os anos se passaram, os músicos envelheceram e esperar que lancem novamente um disco com a pegada de um "The Number Of The Beast", seria um pensamento absolutamente infantil de minha parte, mas acredito de verdade que a banda tenha ainda potencial para gravar trabalhos melhores e mais relevantes que estes últimos.

Chegamos ao momento em que muitos fãs aficionados ficarão irados e ao ler minhas próximas frases, provavelmente me odiarão eternamente e alguns mais extremistas, vão repudiar veementemente e considerar uma heresia o que relato. Sinceramente, não faço média, não escrevo elogios desmerecidos e lembro a todos que uma resenha nada mais que a opinião de quem a escreve, esta é a minha. 

Pela primeira vez desde "Brave New World", o grupo possuía um material realmente bom em mãos e "The Book Of Souls" não conseguiu atingir a grandiosidade que a banda almejava por que peca pelos excessos nele contidos. Ao mesmo tempo em que possui diversas qualidades, momentos memoráveis e algumas canções com muito potencial, também é um trabalho presunçoso, com doses cavalares de repetições e exageros notórios. Acredito que algumas canções ficaram um tanto deslocadas e um registro com 60 minutos de duração, contendo apenas o que de melhor o grupo tivesse composto, teria atendido todas as expectativas e obtido um resultado bem mais plausível e condizente com o que os fãs esperavam.


Isto pode soar um tanto agressivo, mas na verdade não é. Nem estou me referindo aqui ao tempo de duração das composições, mas sim ao fato de o Maiden alongar por demais algumas delas, repetindo refrões incessantemente ou criando algumas introduções que sinceramente, ficam sem pé nem cabeça quando a música "engrena" de fato. "Shadows Of The Valley" é o maior exemplo disso, possui uma introdução que nos remete de imediato ao álbum "Somewhere In Time", mais especificamente ao clássico "Wasted Years" e automaticamente, é criada toda uma expectativa e quando a música começa de fato, percebe-se que o começo foi estrategicamente "colado" ali e não tem ligação nenhuma com o restante da canção. Em minha opinião, um tiro no pé, assim como a morna "The Man Of Sorrows" sendo colocada pra anteceder a faixa mais longa do álbum, a diferente e em alguns momentos entediante, "Empire Of The Clouds". 

"If Eternety Should Fail" abusa do direito de repetir o refrão e acaba se tornando bem cansativa, ainda mais possuindo quase 9 minutos. Outro ponto que sou obrigado a mencionar, é Nicko McBrain criar exatamente as mesmas linhas de bateria desde "Brave New World". Todas as viradas, levadas e ritmos são absurdamente previsíveis e iguais. É criado um abismo entre a evolução dos três guitarristas, que em contrapartida, a cada álbum parecem se entrosar mais e aprender a trabalhar melhor como um trio e a evidente mesmice da cozinha formada pelos excepcionais Harris e McBrain.

A visão que criei sobre "The Book Of Souls", é que é um bom álbum, apenas isso. Melhor que os anteriores, com um esforço enorme e louvável por parte dos integrantes em trabalhar em equipe novamente.  Possui ótimas idéias e um número considerável de equívocos. Um álbum com potencial enorme, mas com erros de execução. Como eu previa, é cansativo e provável que com o tempo, a maioria dos fãs vá eleger de 5 a 6 canções favoritas e pular o restante. Talvez seja muito pra uma banda que estava desacreditada por grande parte de seus fãs mais antigos, mas é pouquíssimo para o talento que estes músicos fabulosos possuem.

Tracklist:

Disc: 1
01. If Eternity Should Fail
02. Speed of Light
03. The Great Unknown
04. The Red and the Black
05. When the River Runs Deep
06. The Book of Souls

Disc: 2
01. Death Or Glory
02. Shadows of the Valley
03. Tears of a Clown
04. The Man of Sorrows
05. Empire of the Clouds



Escrito por Fabio Reis
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...