28 anos depois e ainda chovendo sangue
Lançado no dia 7 de outubro de 1986 pelo selo da Def Jam Recordings, “Reign In Blood” não é apenas o terceiro álbum de estúdio dos Thrashers norte-americanos do Slayer, como também um dos trabalhos mais importantes do Metal mundial. Nesse ano, essa obra prima do Metal extremo mundial completa o seu aniversário de 28 anos. Após terem lançados dois excelentes trabalhos de estúdio, sendo eles “Show No Mercy” (1983) e “Hell Awaits” (1985), além do ótimo EP “Haunting the Chapel” (1984), o quarteto californiano lança o seu registro mais conhecido e mais influente, apresentando uma sonoridade extremamente veloz, crua e violentíssima. O disco foi produzido pelo produtor Rick Rubin (que já trabalhou com bandas como AC/DC, Danzig e Red Hot Chili Peppers). Ironicamente, Rubin era muito conhecido por produzir artistas de Hip Hop e ainda que não tivesse qualquer experiência com bandas de Metal a aquela altura, Rubin conseguiu deixar o som da banda incrivelmente polido, direto e sem frescuras.
Os “riffs” afiados de Jeff Hanneman e Kerry King abrem caminho para um grito agudíssimo do “frontmen” Tom Araya, introduzindo assim a clássica faixa de abertura do álbum, “Angel of Death”. Em “Reign In Blood”, a banda abandonou a temática satânica dos trabalhos anteriores e investiu em letras que abordam antirreligião, assassinatos, insanidade e a morte. Isso pode ser conferido na primeira composição, que retrata as terríveis experiências conduzidas por Josef Mengele no campo de concentração de Auschwitz. Mengele era conhecido como o ‘’Anjo da Morte’’ e é daí que vem o nome da música. Com uma letra tão obscura, a canção não poderia deixar de contar com um trabalho instrumental frenético, repleto de viradas insanas de andamento e solos de guitarra gritantes. É um dos “singles” gravados para esse trabalho e uma tremenda forma de abrir esse grande trabalho. A veloz “Piece By Piece” vem longo em seguida e abre de forma ponderada e, rapidamente, se transforma em uma sinfonia de caos conduzida pelo quarteto, contando com “riffs” pesadíssimos e levadas brutais de bateria, cortesia do formidável Dave Lombardo.
A terceira faixa do disco é a curtíssima “Necrophobic”, que espanca ainda mais os nossos ouvidos com seu ritmo turbulento, guitarras realmente matadoras e “cozinha” de bateria e baixo devastadora. Por sua vez, a “dobradinha” “Altar of Sacrifice” e “Jesus Saves” são um show a parte. O quarteto jamais perde o fôlego e esbanja ainda mais selvageria nessas duas faixas brilhantes. Mudanças de andamento muito bem conduzidas, peso devastador, velocidade absurda e vocais maravilhosamente raivosos podem ser conferidos aqui. “Criminally Insane” também é um dos “singles” desse terceiro registro de estúdio e novamente temos uma composição que faz jus ao seu nome, pois o que ouve aqui é extremamente insano: vocais furiosos, “riffs” sujos e perfeitamente viscerais e uma “cozinha” sempre perfeita. Simplesmente fenomenal! Em seguida, estão as igualmente impetuosas “Epidemic” e “Reborn”. À medida que o disco avança o ouvinte provavelmente deve estar extasiado se perguntando como uma banda consegue emendar uma pancada certeira após a outra sem diluir a qualidade do que fazem. É realmente impressionante e não é um trabalho para qualquer músico. “Riffs” e mais “riffs” portentosos ensandecidos destroçam o nosso tímpanos.
A penúltima faixa é a sensacional “Postmortem”, novamente um dos “singles” do álbum. Seu “riff” principal é matador ao extremo e não há como ficar indiferente a um som como esse. Ainda que seja mais cadenciada, se você pensa que isso pode prejudicar a qualidade da obra em algum momento, nem pense nisso, pois é uma faixa magnífica e igualmente pesada e apocalíptica, mantendo a atmosfera que o álbum exala intacta. É hora do “gran finale”. Uma chuva torrencial, acompanhada de sons sinistro ecoa dos alto falantes. Em questão de segundos, um dos maiores “riffs” do Metal mundial surge, abrindo assim a histórica “Raining Blood”. Pesadíssima, doentia, genial, assassina. Tudo isso é pouco para definir o que esse hino é. Tudo nela é simplesmente brilhante e casa perfeitamente com a proposta desse trabalho. Com mais sede de sangue do que nunca, os quatro integrantes entregam uma verdadeira sucessão de “riffs” e solos aniquiladores e encerram essa legítima obra prima da melhor forma possível.
Macabro e violento desde a sua genial arte de capa, concebida pelo artista Larry Carroll (que também desenvolveu as ilustrações para os álbuns “South of Heaven”, “Seasons in the Abyss” e “Christ Illusion”), “Reign In Blood” é, sem sombra de dúvidas, muito mais do que apenas um grande álbum de Thrash Metal oitentista. Nesse terceiro álbum, temos uma banda que alcançou o seu ápice e lançou a sua obra-prima definitiva. O Slayer realizou diversos trabalhos de qualidade em sua carreira, entretanto, é indiscutível que esse é o seu disco mais importante. Sua sonoridade inigualável inspirou brutalmente toda a cena do Metal extremo, culminando no surgimento de gêneros como o Death e o Black Metal e ainda hoje, 28 anos após o seu lançamento, continua a inspirar uma grande legião de músicos e artistas ao redor do mundo. Parece que essa “chuva de sangue” não vai terminar tão cedo e sinceramente, seria muito bom se nunca terminasse...
Tracklist:
01. Angel of Death
02. Piece by Piece
03. Necrophobic
04. Altar of Sacrifice
05. Jesus Saves
06. Criminally Insane
08. Epidemic
07. Reborn
09. Postmortem
10. Raining Blood
Lineup:
Tom Araya (Vocal / Baixo)
Kerry King (Guitarra)
Jeff Hanneman (Guitarra) (R.I.P. 2013)
Dave Lombardo (Bateria)
Escrito por David Torres Dos Santos