EXODUS: “Desastre Fabuloso” em São Paulo



Carioca Clube - 04/10/2014


Após dois anos sem excursionar por terras brasileiras, os mestres do Thrash norte-americano Exodus retornaram mais uma vez ao Brasil nesse segundo semestre de 2014, passando pelas cidades de Brasília (02/10), São Paulo (04/10) e Rio de Janeiro (05/10).

Ontem, dia 4 de outubro, esses verdadeiros ícones da música pesada vieram para a capital paulista e realizaram um show "fabulosamente desastroso" no Carioca Club, casa de shows bem conhecida, localizada em Pinheiros - SP. Após a sua última passagem pelo Brasil, em 2012, muito se especulou com o retorno desta que é uma das maiores lendas não apenas do Thrash Metal mundial, mas do Metal como um todo. O motivo dessa especulação se deve a mudança repentina de vocalistas que foi anunciada poucos meses atrás, onde o até então atual “frontmen”, Rob Dukes, foi substituído pelo ex-vocalista Steve “Zetro” Souza, que havia gravado os álbuns “Pleasures of the Flesh” (1987), “Fabulous Disaster” (1989), “Impact is Imminent” ( 1990), “Force of Habit” (1992) e “Tempo of the Damned” (2004).


Dukes, por sua vez, estava na banda desde 2005, tendo gravado os álbuns “Shovel Headed Kill Machine” (2005), “The Atrocity Exhibition: Exhibit A” (2007), “Let There Be Blood”, a regravação do histórico “debut” “Bonded By Blood” (2008) e “Exhibit B: The Human Condition” (2010). A saída de Dukes continua sendo um assunto muito comentado entre todos e vale lembrar que a banda já estava preparando um álbum que desse uma continuidade aos temas abordados nos discos “The Atrocity Exhibition: Exhibit A” e “Exhibit B: The Human Condition”. Esse novo lançamento deveria ser “Exhibit C”, no entanto, a troca de “frontmens” fez com que todo esse planejamento fosse alterado, fazendo com que o novo registro de estúdio do Exodus recebesse o nome de “Blood In, Blood Out”.

Polêmicas à parte, o que ocorre é que o simples fato de uma banda do porte do Exodus vir ao Brasil já chama a atenção e com o retorno de um grande vocalista ao grupo certamente iria causar um estrondo entre os fãs e apreciadores do trabalho desses veteranos californianos, não é mesmo?


E causou estrondo realmente, quando um dos maiores ícones do Thrash nacional, o MX, estava no palco, o Carioca Clube se encontrava apenas com um bom público, mas a medida que foi se aproximando a hora em que o Exodus iniciaria sua apresentação, o local ficou abarrotado e perto de sua lotação máxima. Antes de destacar os concertos em si, é bom dizer que esta casa de shows, a cada dia que passa tem se tornado um dos melhores locais para apresentações de bandas de metal de médio porte. De qualquer lugar em que se esteja se tem uma visão total do palco e não se perde nenhum detalhe, o bar se localiza do lado esquerdo do ambiente e ocupa a extensão da pista quase que por completo, facilitando a compra de bebidas, doses e afins, além disso, a acústica é perfeita e em nenhum momento o som fica embolado. Realmente Satisfatório e digno de elogios.

Seguindo para as apresentações propriamente ditas, o MX executou um "Set List" coeso e sem frescuras, baseou-se em seu último lançamento, o ótimo "Re-Lapse" (2014), que nada mais é que uma regravação de seus maiores clássicos, com uma roupagem mais moderna, porém sem descaracterizar as músicas que anteriormente apareceram em álbuns como ''Simoniacal'' e ''Mental Slavery''. As faixas que foram tocadas não poderiam ser outras, "Dead World", "Fight For The Bastards", "Behind His Glasses" e os hinos "Jason" e "Dirty Bitch". Assim como nas apresentações de 1997, o MX fez um grande papel e justificou a escolha, que foi feita por meio de votação, para ser a banda de abertura.


Passaram-se alguns minutos e enfim, o "Inferno" se estabeleceu no Carioca Clube quando o Exodus subiu ao palco e executou os primeiros acordes de "Bonded By Blood". "Incendiário" é a palavra que define o início da apresentação, que seguiu com a energética "Scar Spangled Banner" e "And Then There Where None". A interação entre público e banda é de arrepiar, todos os presentes cantavam as letras em uníssono e a energia que emanava era contagiante.

"Iconoclasm", da fase com Rob Dukes foi lembrada e Steve 'Zetro' Souza não decepcionou, cantou com desenvoltura e a música parecia ter sido escrita para seus vocais. O ''frontman" do Exodus é o carisma personificado e executa TODAS as canções do "Set" com maestria. Tudo estava fantástico, mas quando "Fabulous Disaster" foi anunciada, a casa literalmente veio abaixo e os "Moshs" que já aconteciam desde o início tornaram-se insanos


“Children of a Worthless God” foi a segunda faixa do álbum “The Atrocity Exhibition: Exhibit A” a ser tocada e teve uma recepção calorosa da plateia, que cantou o refrão com muita energia. O hino “Piranha”, por sua vez, veio em seguida e o caos só aumentou, fazendo o público delirar completamente. A atmosfera que esse som proporciona é algo realmente indescritível.

Eis que em seguida tivemos uma surpresa extremamente agradável: a banda executou “Pleasures of the Flesh” na íntegra, diferente de quando tocaram em Brasília, há poucos dias, onde apenas tocaram a “Intro” da canção. Nem é preciso dizer que a multidão enlouqueceu ainda mais. Sem perder tempo, “Zetro” e Cia. decidiram mandar um clássico absoluto do Thrash Metal, “A Lesson in Violence”, tornando a pista, um verdadeiro cenário de destruição e violência, com “moshs” tomando conta e a pancadaria rolando solta. É, realmente deram uma lição e tanto...

Mais um hino veio logo em seguida, a empolgante “Metal Command”, que teve seu poderosíssimo e marcante refrão, novamente cantado por todos os presentes e, pouco depois, a cadenciada e esmagadora “Blacklist”, uma das melhoras faixas do excelente “Tempo of the Damned”, veio para enlouquecer ainda mais os fãs que não perdiam o pique por um segundo sequer. Novamente uma “performance” soberba de cada integrante da banda e isso apenas fez a massa clamar por mais. Os “riffs” furiosos de “War is My Shepard” trouxeram mais devastação para a casa e obrigou o público a cantar e gritar a plenos pulmões mais uma vez.


Um momento muito aguardado foi quando os músicos executaram o ultraclássico “Toxic Waltz”, emendando com a truculenta última faixa da obra-prima “Bonded By Blood”, “Strike of the Beast”. Todos já haviam agitado em todas as músicas do “set” e quando esses clássicos surgiram não poderia ser diferente. Os fãs não pararam por um segundo e fizeram jus ao que ambas as músicas representam. Chega a ser redundante mencionar que tivemos uma presença realmente massacrante do público. Uma surpresa bastante inesperada veio logo em seguida com a execução de “The Last Act Of Defiance”, a faixa de abertura de “Fabulous Disaster”. Foi possível ver um enorme sorriso estampado nos rostos de cada um dos presentes que não esperavam a presença dessa faixa no repertório. Obviamente, todos responderam muito bem ao presente dado pela banda. Chegava a hora de “Good Riddance”, a última música do show a dar as caras. Ainda que fosse a última da apresentação, o Carioca Club foi novamente trucidado pela multidão ensandecida, encerrando este grande evento de forma impecável.

O Exodus nessa passagem pelo Brasil, nos deixa algumas certezas. A primeira delas é a de que mesmo após mais de 30 anos de carreira, a banda se mantém afiadíssima e muito fiel as suas raízes no Thrash Metal. Steve ‘Zetro’ Souza, sem sombra de dúvidas, foi a melhor escolha possível para assumir novamente os vocais do grupo e se encontra em uma fase invejável. Vide seus trabalhos anteriores com o Hatriot.


A banda como um todo, esbanja carisma, garra e toca o que seu público quer escutar. Não tenho dúvidas que o novo trabalho será tão empolgante quanto todos os demais álbuns de sua extensa, porém proveitosa discografia. Faltaram algumas canções no Set? É claro que sim, cada fã da banda escolheria uma ou outra faixa que gostaria que fosse executada e a substituiria por alguma das presentes, mas a grande verdade é que este foi um dos poucos shows em que fui e que todos os presentes saíram com sorrisos largos de satisfação estampados nas faces.

Sinceramente, considero o Exodus um exemplo a ser seguido por muitos grupos “acomodados” que vejo por aí. Uma banda que foi uma das maiores responsáveis pelo surgimento do Thrash, passou por inúmeros momentos delicados em sua carreira, superou todos eles, se reinventando por diversas vezes e ainda mostra-se capaz de proporcionar momentos de puro êxtase como o desta memorável apresentação. Tem o meu total Respeito e Admiração.

“Time to run or fight
Off the strike of the beast”


Set List:

01 - Bonded By Blood
02 - Scar Spangled Banner
03 - And Then There Were None
04 - Iconoclasm
05 - Metal Command
06 - Fabulous Disaster
07 - Children Of A Worthless God
08 - Piranha
09 - Pleasures Of The Flesh
10 - A Lesson In Violence
11 - Blacklist
12 - War Is My Shepherd
13 - Toxic Waltz
14 - Strike Of The Beast
15 - The Last Act Of Defiance
16 - Good Ridance
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