Se janeiro foi a ressaca do ócio e das gorduras acumuladas em duas semanas de festas com família e depois putaria com amigos, em fevereiro o índice brasileiro de loucuras vai a mais de 9000 na famigerada data onde o álcool toma conta do sangue e plumas, látex, purpurina e vergonha se misturam no corpo. Mas como o Metal caga um balde pra credo, feriados e trios elétricos carregando cantores de qualidade duvidosa e populares suados, tivemos mais um mês de puras delícias e alentos para o headbanger que prefere se desligar do fenômeno da massa e usar o carnaval pra curtir um som.
Minha namorada já sabe distinguir Pagan de Black, US Power de Power Europeu e não aguenta mais ouvir o novo play do Necrophobic (porque ela não gosta de “voz de demônio”), e vai continuar a aprender se remoendo de raiva com a quantidade de riffs, viradas, leads, gritos e solos que continuam chegando porque o que ela curte mesmo é Shakira e Michael Bublé, mas tem um companheiro doente por Metal. Ao passo que a pilha movediça de promos de 800 bandas aparecem pra análise e vão engolindo corpo e mente, a energia vital do corpo vai se esvaecendo e a vontade de mandar um shift+del na caixa de emails e nunca mais entrar no metalstorm, metal archives ou metal o caralho a quatro pra ver o que de interessante saiu vai aumentando, mas temos um vício e precisamos alimenta-lo, vou fazer o quê?
Os destaques principais desse mês vão para as bandas que lançaram suas pérolas de forma independente, mandando um belo foda-se pra gravadoras burras que não tem competência de distinguir uma banda boa de um peido. Além disso, é fácil notar a ausência de gigantes do certame como o Therion, que mandou em seu ‘Beloved Antichrist’ um álbum bem legal mas com quase QUATRO PORRAS DE HORAS (aí fode o balaio, Johnssão), o Angra que dividiu o país e criou uma guerra santa entre os fãs e os que cagam pra Bittencourt, Sandy e companhia, e o Royal Hunt, que facilmente poderia ter roubado um lugarzinho na lista com o ótimo ‘Cast In Stone’, mas bateu na trave; claro, isso sem falar em outras jóias como Insulter, Seyminhol, Aenimus, Thaurorod, Harakiri for the Sky e tantas outras. Então chega de falar merda e vamos ao que interessa, porque a pilha só tá aumentando...
Battlesoul - Sunward and Starward
(Death/Folk/Power)
CDN Records
Essa salada musical maravilhosa é a arma de escolha do Battlesoul, banda Canadense que mostra ao mundo seu terceiro trabalho em ‘Sunward and Starward’. Bela pedida pra fãs de Ensiferum, Blackguard e, em menor escala, Falconer.
Crescent - The Order of Amenti
(Blackened Death)
Listenable Records
Os escravos das pirâmides estão de volta com seu segundo ataque em ‘The Order of Amenti’. Os Egípcios de Cairo mostram todo seu poder de fogo e sua riquíssima história mais uma vez, lembrando que o Nile pode ser o líder do combo mitologia egípcia/Death Metal, mas quando o trabalho vem de dentro da cultura o negócio fica sério.
Frozen Crown - The Fallen King
(Power)
Scarlet Records
Power Metal e Itália na mesma frase pode assustar os populares de mente simples para a música, mas aqui a parada é forte e a atitude invejável. Com a virtuosa Talia Bellazecca debulhando nos riffs e solos e a talentosa Giada Etro encantando nos vocais, o Frozen Crown criou em ‘The Fallen King’ um dos melhores plays do ano até agora, e meu álbum favorito de Power Metal em 2018.
Funeratus - Accept the Death
(Death)
Extreme Sound Records
Fui pego de surpresa quando vi o retorno do Funeratus, que não lançava um full-lenght desde ‘Echoes In Eternity’ (2004). A tempestade de vingança vinda de Mococa, SP, debulha tudo em seu caminho e mostra que Fernando Trepador, André Nálio e Gustavo Reis não perderam nada de sua brutalidade.
Hammer of Daemons - Barbarian Assault
(Thrash)
Independente
Os bárbaros saxões consolidam seu ótimo trabalho iniciado em 2016 – apesar de contar com membros já veteranos na música – em ‘Hellfire (Beyond the Iron Curtain)’ com uma mescla interessante entre o Thrash Metal e elementos mais tradicionais e épicos. Ótimo para aqueles que procuram algo fora da caixinha.
Necrophobic - Mark of the Necrogram
(Death/Black)
Century Media Records
Destruição, casas pegando fogo, pilhagens, saques, morte, caos. ‘Mark of the Necrogram’ é mais um testamento de que com o Necrophobic não se brinca. Se é louco.
Saxon - Thunderbolt
(Heavy)
Silver Lining Music
Os vovôs mais avassaladores desse lado de Yorkshire tomaram seu chazinho das 17hs, encaixaram as dentaduras e subiram no pódio pela VIGÉSIMA SEGUNDA vez em ‘Thunderbolt’, prova de que a fonte da juventude eterna existe e esta nas mãos dos Lordes Paul Quinn, Biff Byford, Nigel Glocker, Nibbs Carter e Doug Scarratt. Respeitem os mais velhos, porque eles sabem o que fazem.
Solstice - White Horse Hill
(Epic Doom)
Independente
Enquanto escrevo sobre o Solstice, lendário e magnífico ato, uma lágrima cai do meu rosto. Foram vinte anos de espera até que White Horse Hill - terceiro full dos Britânicos veteraníssimos e eruditos - saísse do forno, e valeu cada segundo de espera. Muito acima do comum, o álbum eleva o nível de inteligência e performance da própria banda e se torna, através do código mais honroso e épico possível, uma obra atemporal, atmosférica e extremamente poderosa. Meu álbum xodó de 2018 até agora.
Visigoth - Conqueror’s Oath
(Heavy/Power)
Metal Blade Records
Ao tocar de coração e fazer o que eles amam, esses guerreiros de Salt Lake City, EUA, de todas as porras de lugares possíveis pra se fazer Metal, estão redefinindo o gênero para as gerações futuras, mantendo os elementos centrais do que é aclamado no estilo como a visão mais pura da música e adicionando idéias frescas - embora não inteiramente originais - pro caldeirão. Todos ajoelhem-se ao Visigoth, conquistadores do Metal.
Xenoblight - Procreation
(Technical Thrash/Death)
Independente
Riffs ensurdecedores e porradaria constante misturam o Thrash e o Death da forma mais técnica possível com ‘Procreation’, debut dos Dinamarqueses do Xenoblight. Atitude correta, capa linda e atmosfera mais Metal, impossível.
Menções Honrosas:
Master’s Hammer - Fascinator
(Black/Experimental)
Jihosound Records
Ocultismo, espíritos, lendas Tchecas e outras maluquices são a marca registrada dos mestres do Black Experimental, liderados pelo titã Franta Štorm, multi-instrumentista e excêntrico nas horas vagas. Amenizando um pouco no Black pra experimentar mais ainda, o Master’s Hammer não exagera na dose de elementos alienígenas, porém, e mostra qualidade impecável em mais uma obra.
Nydvind - Tetramental I: Seas of Oblivion
(Pagan)
Malpermesita Records
Terceira obra completa dos Franceses Stig, Hingard e Nesh, já rodados na cena, ‘Tetramental I: Seas of Oblivion’ é uma jornada ao profundo sub-consciente e à arte em sua forma mais orgânica e depressiva. Ótima rendição de um estilo tão rico quanto o Pagan Metal.
O que seria de nós sem uma dose de alta energia e Metalzão sem firulas e frescuras? É pra isso que o Sacred Leather esta aqui: entregar o mais puro aço, pilotar as motos mais velozes e, claro, criar uma capa viril com uma pantera prestes a dar seu bote. Cintos de bala, jaquetas de couro e riffs intermináveis!
Sculptor Void - The Rending Light
(Thrash)
Independente
Vektor, Voivod e Nocturnus são alguns nomes que vieram à mente enquanto ouvia ‘The Rending Light’, debut dos Thrashers Alemães do Sculptor Void. Tem como ser ruim?
Warshipper - Black Sun
(Death)
Independente
Banda formada recentemente em Sorocaba, SP, o Warshipper alia temas sci-fi ao Death Metal e entrega uma ótima primeira impressão em ‘Black Sun’. Das linhas vocais rasgadas e agressivas de Renan Roveran à cozinha cirúrgica e prolífica de Rodolfo Nekathor e Roger Costa, os Sorocabanos estão no caminho certo para o respeito e reconhecimento na cena.
Redigido por Bruno Medeiros