Relapse Records
Mundo Metal [ Lançamento ]
Compor músicas sobre mutilar e esquartejar pessoas é algo muito recorrente dentro da música pesada extrema e certamente não é nenhuma novidade para ninguém. Há muitos anos, o gore jorra solto, a torto e a direito dentro do Metal e nomes como o Exhumed são legítimos peritos em temáticas sangrentas. Altamente influenciados pelos primórdios dos veteranos ingleses do Carcass, os estadunidenses retornaram nesse ano com seu sexto álbum de estúdio, o ambicioso "Death Revenge".
Lançado via Relapse Records na sexta-feira 13 de outubro, uma data pra lá de sugestiva e apropriada, o disco possui uma ilustração de capa bastante atrativa e que remete a um pôster de um filme de terror, concebida pelo designer gráfico da própria gravadora, Orion Landau (Iron Reagan, Cryptic Slaughter, Dying Fetus, Mastodon e tantos outros), porém essa não é a única coisa que chama a atenção. Além disso, o novo material desses pirados da terra do Tio Sam é completamente inspirado por uma série de assassinatos que ocorreram na Edimburgo do século XIX. Sim, caro leitor(a)! Como disse anteriormente, estamos diante de um trabalho ambicioso, especialmente se tratando de uma banda como o Exhumed, que em seus quase 30 anos de carreira jamais havia explorado um assunto complexo e profundo. Portanto, senhoras e senhores... preparem-se para mergulhar de cabeça nos sangrentos crimes da velha Edimburgo!
Um clima fúnebre e atmosférico ecoa na faixa de abertura "Death Revenge Overture", uma instigante introdução que prepara o ouvinte para o que está por vir. A composição mal tem início e de cara podemos ouvir notas que sutilmente remetem ao clássico "Halloween Theme", o imortal tema do clássico filme "Halloween - A Noite do Terror" (1978), do brilhante cineasta John Carpenter. Como podem ver, essa introdução é uma pequena amostra de que o que temos aqui soa como uma inspirada e mortal trilha sonora de um filme de horror. Assim que a faixa de abertura se encerra, um instrumental poderoso incentiva o ouvinte a "banguear", apresentando o primeiro ataque do álbum, cujo título é perfeito para aqueles que gostam de trocadilhos: "Defenders of the Grave", uma brincadeira mais que óbvia com o título do álbum/música dos britânicos do Judas Priest, "Defenders of the Faith". A intrigante entrada instrumental é subitamente interrompida pelos vocais rasgados e coléricos de Matt Harvey, que rapidamente é acompanhado pela voz pútrida e horrenda proferida por Ross Sewage. Uma porrada certeira, caracterizada pela presença de riffs nefastos e solos de guitarra inspirados, cortesia tanto de Harvey como do guitarrista solo Bud Burke. Aliás, solos inspirados não faltam em momento algum do disco, para a satisfação do ouvinte.
"Lifeless", a terceira faixa, se inicia com força total, com o vocal de Harvey dilacerando tudo, acompanhado por andamento rápido, onde podemos destacar o trabalho excepcional da "cozinha", encabeçada respectivamente pelas quatro cordas de Ross Sewage e pelas baquetas de Mike Hamilton. De repente, temos uma diminuída no ritmo, contudo a música jamais deixa de soar interessante. As guitarras também exalam muito feeling o tempo inteiro e seu final retoma a pegada veloz do começo, finalizando com muito vigor. Em contrapartida, "Dead End" possui uma introdução bastante provocativa e que cresce gradativamente, atraindo o ouvinte aos poucos. Novamente, todos os instrumentos se destacam. Seu ritmo é bem construído e coeso, trazendo doses bem equilibradas de peso e agressividade, coros grotescos nos trechos certos, além de quebras de andamento animais. Como de costume, os vocais de Harvey e os de Sewage sempre caminham juntos, em uma sincronia admirável.
O riff de abertura grudento e marcante de "Night Work" entra em cena. No começo, temos um ritmo cadenciado, com a voz de Sewage surgindo antes da de Harvey. Após um solo de guitarra bem na linha do Slayer, as coisas tornam um ritmo caótico e vertiginoso durante alguns instantes, com o fim da composição trazendo novamente o andamento moderado. Mais violenta, "Unspeakable" se inicia com uma levada acelerada de bateria, guitarras encorpadas e backing vocals matadores. Aliás, outra menção honrosa é o trabalho de bateria de Mike Hamilton, muito preciso e ríspido. Já é de praxe, mas as alterações de compasso são sensacionais, recheadas de elementos que cativam com facilidade.
Na sequência, temos outra vinheta/instrumental repleta de atmosfera, no mesmo estilo da faixa de abertura, nomeada "Gravemakers of Edinburgh". Essa faixa serve de ponte para "The Haworring", que estoura os alto-falantes com a potência de uma bomba nuclear. Outra composição altamente insana, grotesca e irrepreensível dentro de seu conceito doentio. Ainda que comece absolutamente brutal e suja, ela sofre uma fratura em seu tempo, conduzindo o ouvinte a um momento mais regular, onde figura um dos solos mais inspirados da obra. O baixo de Sewage emenda logo após o término do solo e então a carnificina sonora é retomada, concluindo a música em grande estilo.
Desgraceiras das boas e outro grande destaque, "A Funeral Party" mais uma vez incorpora peso hediondo e criativas variações ao longo da música. Outro ponto que chama a atenção é o refrão, grudento e visceral. Em seguida, notas inspiradas e climáticas acompanhadas por arranjos orquestrados nos apresentam "The Anatomy Act of 1832", uma instrumental que enche os olhos – e os ouvidos – do ouvinte de orgulho. A titulo de curiosidade, seu título tem origem numa lei que existiu na Grã-Bretanha na qual tornava-se mais fácil para os médicos usarem pessoas comuns e não apenas assassinos para procedimentos de dissecação. Quando os riffs entram em cena, reproduzindo as mesmas notas do início da composição, temos a certeza de que estamos diante de algo com uma premissa estonteante – e por que não dizer épica? Primeiramente, todos os instrumentos devem ser mencionados, sem exceção. As guitarras executam riffs e solos mirabolantes e inspiradíssimos, sempre soando pesadíssimas e melódicas na medida certa, enquanto a "cozinha" é completamente entrosada, com o baixo e a bateria sempre tendo espaço para brilhar nas horas certas e claro, em seus pouco mais de sete minutos de duração, temos variações engenhosas e que tornam o som empolgante do início ao fim.
Após sermos presenteados com um fascinante tema instrumental, a pancadaria é retomada, como já é de se esperar. "Incarnadined Hands" pode ser resumida como puro Exhumed, uma vez que entrega ainda mais peso e crueza em cada nota, porém nunca dispensando as harmonias. Por outro lado, dá para definir "Death Revenge", a faixa título, como uma aula de pura agressividade. Uma porrada daquelas, com um andamento frenético e com todos os membros tocando com sangue nos olhos. As linhas vocais, tanto de Harvey como de Ross Sewage, ressaltam a malevolência presente na composição. Preciso dizer que essa desgraceira é perfeita para o moshpit?
Bom, todos curtem uma boa faixa bônus e felizmente, esse petardo reserva duas composições de muita qualidade. A primeira delas, "Death Revenge Underture", como o próprio título indica, é a última vinheta/instrumental do álbum, que encerra o trabalho com sabedoria, resgatando a essência da faixa de abertura, além de recapitular as notas principais de "The Anatomy Act of 1832" em um determinado momento. Honestamente, creio que nem deveriam ter lançado essa composição como um mero extra, visto que ela condiz totalmente com o conceito abordado em toda a obra, além de ser o encerramento ideal. Agora a segunda faixa bônus é nada mais nada menos que um tremendo cover de "A Lesson in Violence" (Exodus). Essa estupenda versão do clássico dos Thrashers da Bay Area de São Francisco, Califórnia (EUA) ganha uma interpretação sobrenatural, contando com blast beats estrategicamente inseridos no tempo certo, além de backing vocals arrasadores. Quem conhece a banda sabe o quanto os caras curtem produzir versões para diversas bandas e músicas, indo desde o Grindcore de um Siege ao Classic Rock de um Led Zeppelin e mais uma vez, os caras acertaram na mosca!
Sabe aqueles trabalhos musicais que não trazem nenhuma ideia inovadora, porém agradam em cheio devido a sua criatividade e eficiência? Pois bem, "Death Revenge" é exatamente isso! Caso você seja um apreciador de um Metal Extremo de qualidade, não espere nenhuma obra quintessencial ou algo que mudará a sua vida para sempre, porém tenha a certeza de que esse registro proporcionará momentos de pura diversão. Absolutamente indispensável aos apreciadores dessa sonoridade!
Nota: 9,0
Formação:
Matt Harvey (vocal/guitarra)
Ross Sewage (vocal/baixo)
Bud Burke (guitarra solo/vocal)
Mike Hamilton (bateria)
Faixas:
01. Death Revenge Overture
02. Defenders of the Grave
03. Lifeless
04. Dead End
05. Night Work
06. Unspeakable
07. Gravemakers of Edinburgh
08. The Harrowing
09. A Funeral Party
10. The Anatomy Act of 1832
11. Incarnadined Hands
12. Death Revenge
Faixas bônus:
13. Death Revenge Underture
14. A Lesson in Violence (Exodus cover)
Redigido por David "Fanfarrão" Torres
