Discharge - "Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing" (1982)

Clay Records

Mundo Metal [ Álbuns Aniversariantes ]



Há 35 anos era lançado um dos registros mais influentes e revolucionários da história da musica extrema.

Quando a década de 70 chegou ao fim, os Sex Pistols haviam se dissolvido e a paisagem do punk rock britânico já havia mudado. Diferentes gêneros musicais, como Pós-Punk, New Wave e Hardcore, estavam surgindo da cena agora fraturada, trazendo consigo um afluxo de novas bandas.

Em 1982, após lançarem alguns singles e Eps, o Discharge, havia se transmutado em uma besta quimérica nas profundezas de Stoke-on-Trent e se preparava para lançar seu inovador full álbum de estreia "Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing", trazendo em seu conteúdo uma sonoridade frenética e primitiva. 

O verdadeiro charme e essência deste trabalho é a simplicidade de tudo. Os riffs de Anthony 'Bones' Roberts soam punitivos, infernalmente pesados e implacavelmente repetitivos, acompanhados de solos que agem como cardumes de peixes lançando-se num movimento desesperado e caótico quando aparece um predador, dando um tom estranhamente melódico às canções. 

Durante todo o registro, a batida de Gary Maloney é enérgica, um ataque ofegante que não deixa pausas para descansar, dando um clima tão imersivamente profundo que o ouvinte se sente como estivesse sendo engolido e varrido por um maremoto. Este padrão característico gerou um estilo de punk conhecido como D-beat, uma forma implacável e extremamente pesada de anarcho-punk. 

O baixo de Royston 'Rainy' Wainwright é pesadíssimo, distorcido e diabolicamente sujo, desempenhando um papel proeminente na totalidade do registro, oferecendo um desempenho do mais alto nível que faria Lemmy Kilmister orgulhoso. 

As breves explosões vocais de Cal Morris, tão ininteligíveis como podem parecer, são gritos de batalha projetados para incitar a ação, liricamente, descrevendo um mundo sombrio em meio a um holocausto nuclear, um tema não surpreendente dada à tensão política e militar no início dos anos 80. Em "A Hell On Earth", Cal prediz: "Uma luz brilhante, um tremor não natural... Homens, mulheres e crianças gemendo em agonia pelas dores intoleráveis... de suas queimaduras", uma visão circunspecta, pós-apocalíptica que segue de mãos dadas na plenitude do registro.


A estrutura das composições é incrivelmente simples, e ao mesmo tempo é difícil negar o quão cativantes se revelam ser, enquanto algumas músicas só carregam duas ou três frases, outras apresentam apenas uma única linha sendo dita repetidamente, o que realmente contribui para o caráter minimalista do registro.

Acordes e padrões rítmicos são de uma natureza geralmente cromática, uma comédia absurdista acompanhada da renúncia de clichês para transmitir não apenas urgência, mas uma sensação conflituosa, embrulhada, muitas vezes, em torno de um único parágrafo, as quais ficam encadeadas na cabeça depois de ouvi-las. As 14 canções que compõem "Hear Nothing See Nothing Say Nothing" não se desviam em nenhum momento dessa fórmula de escrita rigorosa

O conceito de "menos é mais" nunca foi realmente mais verdadeiro, pois a natureza simples e repetitiva das canções proporciona uma sensação estranhamente profunda e etérea.

O trabalho de produção ficou a cargo de Mike Stone (1951- 2002) que trabalhou, por incrível que pareça em múltiplos álbuns do Queen, inclusive em "A Night at the Opera" (1975) e bandas como Blue Öyster Cult, Foreigner e Journey. 
Mike, fundou  em 1980 a gravadora independente Clay Records, especializada em Hardcore/Punk, selo pelo qual foi lançado "Realities of War" primeiro single do Discharge e consequentemente o álbum de estreia da banda, além de  inúmeros registros do gênero, GBH, The Lurkers, Abrasive Wheels, White Door, etc. se tornando um dos selos mais respeitados do estilo. Diferentemente de seus trabalhos anteriores, a produção de "Hear Nothing See Nothing Say Nothing" é "emporcalhada" e repleta de ruídos. 

É difícil analisar o que as pessoas pensaram sobre este lançamento na época. Ao infundir riffs viscerais e catatônicos com tambores galopantes em estruturas punk simples, o Discharge criou algo que não só era inegavelmente pesado e insanamente atrativo, mas completamente inovador para o seu tempo. 

35 anos após seu lançamento, a influência deste registro é muito aparente nos dias de hoje, e resistiu como poucos, em absoluto,  ao teste do tempo merecendo ser enunciado, como um dos álbuns mais influentes e mais importantes não só do Punk/Hardcore, mas da música pesada como um todo.


Faixas:

01. Hear Nothing See Nothing Say Nothing
02. The Nightmare Continues
03. The Final Bloodbath
04. Protest and Survive
05. I Won’t Subscribe
06. Drunk With Power
07. Meanwhile
08. A Hell On Earth
09. Cries of Help
10. The Possibility of Life’s Destruction
11. Q: And Children? A: And Children
12. The Blood Runs Red
13. Free Speech For The Dumb
14. The End

Integrantes:

Kelvin "Cal" Morris - Vocal
Tony "Bones" Roberts - Guitarra
Roy "Rainy" Wainright - Baixo
Garry Moloney - Bateria

Mike "Clay" Stone - Produção


Redigido por Claudio Santos

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