Mundo Metal [ Indica ]
A música tem a única e bela habilidade de moldar nosso humor, levantar nossos espíritos e nos levar a uma realidade diferente – uma, que na maioria das vezes antagoniza com a crueldade impiedosa da nossa. Claro, no Heavy Metal, essa viagem pode ser para um lugar melhor e mais receptivo ou algum depressivo e perturbador (sim, nós gostamos de sofrer); seja qual for a escolha do veneno, a música é uma das únicas formas de expressão artística que tem esse poder e efeito, mas aqueles que a criam tem que saber que porra estão fazendo, do contrário o produto sai uma bosta, certo? Há poucos subgêneros do Metal que exploram o lado mais pessoal, depressivo e denso da vida – como o Doom e o Atmospheric Black – e dentro desses um número menor ainda de grupos conseguem capturar a essência dos aspectos em questão e torna-los em algo especial. E é aí que entra o Saor.
“Mas Bruno, que é isso cara? Cadê aquela tentativa de humor lixo que sempre aparece nas suas resenhas? Estou lendo um texto sobre Metal ou Música Clássica? Que merda!” Aí que esta, meu caro amigo ranhento: por vezes encontramos algo tão diferente do denominador comum do Metal que simplesmente não cabe inserir uma piada aqui e ali, tentar letrar o texto com linguagem mais amena e, sei lá, dar uma xingada, tamanho é o impacto e a excelência deste algo diferente. E então tenho que me render ao vocábulo mais sereno e respeitoso (exatamente, que merda), senão não funciona. Bom, eu divago, vamos ao que interessa.
O exército Escocês de um homem só nascido das mãos de Andy Marshall esta em sua terceira missão aos confins da cultura Gaélica, e de novo entrega a promessa de uma maravilhosa roupagem da mistura Folk/Black Metal. Com partes cantadas em menor escala dessa vez, ‘Guardians’ quase parece um som ambiente criado para o único propósito de aventuras aos Highlands para descobrir os segredos antigos da parte norte do mundo. Todos os elementos usados por Marshall em álbuns passados voltam aqui, dos instrumentos característicos celtas como gaita de fole, flauta, concertina e bodhrán, às particularidades agressivas do Black Metal como passagens vocais guturais, bateria intensa e levadas pesadas e graves.
Pra mim, é difícil escolher um destaque específico, seja música ou passagem, porque a experiência inteira trança e junta cada faixa, tornando o álbum uma única "magnum opus”. Não há absolutamente nenhum ponto baixo aqui, só composições (bem) acima da média, performance altamente passional e execução perfeita. Andy Marshall conseguiu capturar a essência de sua terra-mãe e torna-la em arte, na forma de um álbum devastador e viciante. Talvez eu esteja um pouco cego pelo gosto pessoal, já que esse é um dos meus álbuns favoritos do ano – perdendo apenas pro Winter’s Gate, do Insomnium – então posso estar deixando passar alguma errata lá ou cá, mas tenha certeza que ‘Guardians’ é uma das experiências mais completas, detalhadas, profundas e eruditas que você vai ter em um lançamento de 2016. Compre, ouça e sinta o melhor play de Atmospheric Black Metal do ano.
Nota: 9.5
Por Bruno Medeiros