A sessão “do mais fraco ao melhor” foi criada
com o objetivo de tentar elencar os álbums de determinadas bandas, do menos
expressivo ao mais significativo. Os critérios usados para o ranking são
diversos, como aceitação crítica do álbum em questão, importância do lançamento
para a época, nível técnico em comparação a outros trabalhos da banda e fator
diversão (obviamente), entre outros. Note que não há aqui certezas ou leis, apenas
uma análise feita por mim para decidir a ordem dos álbums baseado nas
informações acima e, portanto, se seu álbum favorito estiver abaixo no ranking
ou se aquele play que você acha uma merda estiver bem posicionado, lembre-se
que a música é uma forma de arte subjetiva e pessoal, e não uma ciência exata.
De qualquer forma, tentarei potencializar ao máximo os critérios técnicos acima
e minimizar interferências pessoais.
Essa semana seremos agraciados por um dos
maiores expoentes do Thrash Metal da Bay Area em todos os tempos, a banda
injustiçada, o reserva imediato do Big Four, aquela que sempre lança álbuns
acima da média e tem pouco reconhecimento; ou aquela banda supervalorizada,
aquela que levanta sombrancelhas de muitos e arranca esbravejos de “nem é tão
boa assim”, aquela que é só mais uma em um mar de bandas que tocam a mesma
marcha “rebelde” característica e já datada da região Californiana: o Testament.
Elementar que não preciso contar aqui a
história da banda e/ou suas conquistas (obviamente, o foco dessa sessão é
outro), que tem como protagonistas o ex-Sérgio Mallandro e atual Indígena mais
true do universo Chuck Billy, o virtuoso de madeixas grisalhas e tiozão sexy
Alex Skolnick e o dono da porra toda Eric Peterson, além, é claro, de inúmeros
coadjuvantes e membros de suporte ao longo da história, desde mais notáveis e
poderosos como Greg Christian, Dave Lombardo, James Murphy e Paul Bostaph à
menos proeminentes como Steve Smyth ou Jon Dette. Fato é que, no alto de seus
30 anos de carreira, os monstros sagrados de Oakland não mostram sinais de
cansaço e até hoje vêm quebrando portas, chutando sacos e ganhando mídia e fãs
mundo afora.
Pois bem, já falei demais, então vamos ao que
interessa: eis abaixo, do menos expressivo ao mais cabuloso álbum, a
discografia do Testament.
11 – Demonic (1997)
Díficil falar de ‘Demonic’ sem receber de
volta respostas como “lixo total”, “uma bosta cagada” ou “horrível”. Já ouvi,
porém, muitos falarem bem e reconhecerem alguma qualidade nesse play que, segundo
os critérios usados para a montagem do ranking, acaba mais por pecar do que por
acertar. A escolha de Billy e companhia de navegar por águas nunca testadas
pela banda tornam o álbum indigesto, num misto de perda de identidade nos
vocais, timbres mal-mixados nas guitarras e uma bateria meio lata de lixo, meio
[inserte aqui algum instrumento tribal bizarro]. Se essa foi a primeira tentativa
do Testament em fazer algo mais pesado que Thrash, que seja a última. Os fãs de
metal extremo agradecem.
10 – The Ritual (1992)
O auge da exposição midiática do Testament se
deu um pouco antes de ‘The Ritual’ ser gravado. Isso resultou aqui – como também
em muitas outras bandas no final dos anos 1980 e começo dos anos 1990 - mais
uma vez, em uma infecção de um vírus nocivo, destruidor e castrador chamado “mídia
mainstream”, que faz com que a maioria das bandas se tornem marionetes de um sistema
fonográfico tosco e formulaico. No nosso cenário musical isso também afeta
bandas (principalmente à época) e o Testament também teve seu momento MTV. Chuck
Billy entrega uma performance inversamente proporcional àquela com seus
grunhidos cheios de catarro vista em ‘Demonic’, dessa vez limpando ainda mais
suas cordas e abusando das linhas melódicas. Má idéia.
9 – Souls of Black (1990)
‘Souls of Black’ representa uma leve mudança
de sonoridade no Testament, iniciada com seu antecessor ‘Practice What You
Preach’. A leveza e virtuose tomaram as vezes de protagonistas e deixaram a
ferocidade e veia crítica tradicionais do Thrash Metal em segundo plano. Claro,
há ainda no play inúmeros elementos da banda que tomaram os corações dos fãs, e
a adição dessa vertente mais acessível acabou por funcionar bem nesse álbum.
Canções como a faixa-título, “Face in the Sky” e “Malpractice” ilustram bem a
fase da banda, que registrou saldo positivo com a virada da década.
8 – Low (1994)
Álbum trevoso, álbum formoso. ‘Low’ divide
opiniões mas tem seu valor, ao apresentar ao mesmo tempo uma volta ao
proto-thrash de outrora e renovar a própria banda com elementos agressivos. O
problema maior com ‘Low’ é restar entre ‘The Ritual’ e ‘Demonic’ - dois álbums
antagônicos musicalmente -, passando a impressão de estar perdido no limbo
conceitual e de identidade para a banda, que foi os anos 1990. Faixas como “Trail
of Tears”, “Shades of War” e “Dog Faced Gods”, porém, seguram bem o rojão e
mantêm a qualidade do trabalho.
7 – The Formation of Damnation (2008)
O retorno triunfal não foi tão triunfal
assim. Claro, devemos tirar o chapéu principalmente para Chuck Billy, que havia
há pouco vencido uma batalha tão dura (essa travada contra o cancer), e para as
linhas de guitarra renovadas e inspiradas de Peterson e Skolnick, mas há que se
levar em consideração a adoção – mais uma vez – de elementos mainstream e
vertiginosamente plastificados (talvez por demanda do mercado à época)
decorrentes, suspeito, do acordo firmado entre a banda e a Nuclear Blast. Canções
como “More Than Meets the Eye” e “The Evil Has Landed” contrastam com a faixa título
e “The Persecuted Won’t Forget”, por exemplo, duas porradas desenfreadas e
calamitosas, trazendo ao ouvinte uma sensação de “montanha-russa” entre
melosidade e agressividade que acabou não funcionando como deveria. De qualquer
forma, ótimo álbum.
6 – Practice What You Preach (1989)
Não há muito o que se tirar de ‘Practice What
You Preach’. Todos os elementos que amamos no antigo Testament estão aqui, mas
curiosamente não há tantos clássicos no play como em outros mais antigos (e
mais novos também). A produção ficou a cargo da lenda Alex Perialas (Overkill,
Accuser, Anthrax, Exciter, Holy Moses e uma caralhada de outras) mais uma vez e
o feeling, poder e performance estão todos lá. No entanto, algo de estranho com
o play o impede de figurar entre os melhores da banda até hoje, e não me
pergunte o que é porque eu não sei explicar.
5 – Brotherhood of the Snake (2016)
Um dos álbuns mais aguardados do ano, o
retorno da lenda, e a perpetuação do Testament como o gigante ativo mais
competente vieram na forma de ‘Brotherhood of the Snake’…mais ou menos. É notório
que a banda ainda performa em alto nível e tem lenha pra queimar por mais algum
tempo, mas no contexto de criação de hype em cima de 4 anos desde seu último
petardo aliado a declarações de Chuck Billy dizendo que esse álbum seria só
porrada e se quiséssemos algo mais melódico teríamos que esperar o próximo
trabalho acabaram machucando um pouco o produto final. Declaração essa que, nos
primeiros acordes da segunda música do play, “The Pale King”, já cai por terra.
Obviamente há agressividade, tenacidade e até doses de raiva no álbum, mas a
parte melódica existe sim e, inclusive, toma conta de boa parte de ‘Brotherhood
of the Snake’. Mesmo assim, o mais novo filho dos thrashers tem qualidade o
suficiente pra figurar no top 5 da banda.
4 – The Gathering (1999)
Agora sim, filho da puta! ‘The Gathering’ pegou
‘Demonic’ pelo pescoço, torceu, jogou na parede, tirou as tripas e enforcou
aquele pedaço de mediocridade com elas. O play entrega tudo que seu antecessor
não pôde (obrigado, Dave Lombardo), abaixando um pouco o tom de obscuridade e
aumentando os elementos clássicos de Thrash Metal. Só os primeiros minutos de “D.N.R.”
obliteram toda a década de 1990 do Testament e retomam o prestígio dos loucos
de Oakland. Agressividade, técnica, performance, produção e mixagem impecáveis.
3 – Dark Roots of Earth (2012)
Aqui sim podemos ver o lado feroz e versátil
prometido por Chuck em ‘Brotherhood of the Snake’. ‘Dark Roots of Earth’ coloca
o Testament novamente no mapa 4 anos após seu retorno definitivo, e o faz de
forma magistral. “Rise Up”, “Native Blood”, “True American Hate”, “Man Kills
Mankind”…todas as músicas ilustram diferentes e proficientes características
dos membros da banda e são executadas com paixão, competência e, o mais
importante, liberdade de criação.
2 – The New Order (1988)
Tirando o tiro no pé que foi o cover de
Aerosmith “Nobody’s Fault”, ‘The New Order’ é musicalmente perfeito pra seu
tempo e de, certa forma, até atemporal. Clássicos absolutos como “Trial by Fire”,
“Into the Pit”, “Disciples of the Watch” e a destruidora “The Preacher” elevam
o trabalho a um dos mais importantes do gênero nos anos 1980 e, não fosse o álbum
abaixo, certamente o mais importante da história do Testament.
1 – The Legacy (1987)
Eis aqui a “magnum opus” do Testament.
Acredito que essa primeira posição da sessão ranking foi a mais fácil até
agora, dada a importância, técnica, paixão, apelo e condução musical de ‘The
Legacy’ em relação aos demais álbuns da banda. Um marco no Thrash Metal mundial
e um dos melhores trabalhos já feitos na Bay Area, o play mostra uma banda
centrada, energizada e animada em fazer música, o que transparece com
facilidade nas composições. Clássico atrás de clássico, porrada atrás de
porrada, ‘The Legacy’ leva a medalha de ouro com louvor, disparado.
Por Bruno Medeiros