Entrevista: Maverick


A Maverick para quem ainda não conhece, é simplesmente uma das maiores revelações do Metal nacional. Diretamente da cidade de São José do Rio Pardo, o grupo literalmente invadiu a cena com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, o fantástico "The Motor Becomes My Voice". 

A banda vem conseguindo ótimas avaliações a respeito de seu Thrash/Groove Metal e o vocalista e guitarrista Gabriel Sernaglia, conversou com o Mundo Metal, sem papas na língua e abordando diversos temas relevantes não apenas para a Maverick, mas para todo o cenário do Metal brasileiro.

Confira:

Gabriel, primeiramente é uma grande honra fazer essa entrevista com você, desde a primeira vez que escutei o som da Maverick através do programa Roadie Metal, sabia que vocês iam longe e acredito que não me enganei, a banda tem conseguido se estabelecer na competitiva cena brasileira e isso é só o começo. 


1 - Vocês lançaram o álbum “The Motor Becomes My Voice” em 2015 e esse disco proporcionou uma resposta surpreendente pra banda. Qual a sensação de ver um sonho se tornando real e ver tanta gente escutando a música da Maverick?

Gabriel: Grande Fabio Reis, primeiro de tudo, agradeço muito pelo interesse no nosso ‘trampo’ e parabenizo pelo trabalho sensacional que você vem desenvolvendo na Mundo Metal e na Assessoria Roadie Metal ao lado do Gleison, saiba que a honra é toda nossa, mestre!
É incrível sabe, a gente só passa a acreditar realmente nos sonhos quando eles começam a se realizar, é claro que em todo o processo de gravação a expectativa permaneceu sempre ali, mas sinceramente o resultado tem sido muito maior do que eu esperava. É como se você criasse um filho para ser médico e ele tivesse conseguido entrar na graduação de medicina nesse momento (risos). 

2 - O registro entrou em diversas listas de melhores lançamentos de 2015. Entraram na lista da Roadie Crew, na do Mundo Metal e inclusive, foram ranqueados internacionalmente, conte-nos um pouco sobre essas "premiações". Qual o grande portal que incluiu a Maverick em seu ranking, qual a posição e o que isso representou pra vocês?

Gabriel: Foi tudo extremamente surpreendente, bem surreal mesmo, até o momento, as resenhas haviam sido muito positivas, mas não tínhamos idéia dessa proporção, algo que achamos muito legal que rolou nas listas nacionais, é que fomos citados em listas tanto de especialistas, no caso da lista de vocês (Mundo Metal) e da Arena Metal, quanto pelo publico, caso da revista Roadie Crew, que foi uma lista segundo a votação dos leitores, o que torna a abrangência e o significado maravilhoso. No caso da lista internacional, foi o portal Headbangers Latinoamerica que desenvolveu uma lista com os 200 melhores lançamentos da America Latina de 2015, um fato engraçado que rolou nesse episódio, foi que recebemos uma mensagem do pessoal do site, a qual dizia que estávamos participando da votação, para pedirmos votos pra galera e tudo mais. O nosso pensamento foi o seguinte “América Latina?? Cara, não vamos nem pedir votos pra não passar vergonha (risos)”.
Quando saiu o resultado e percebemos que estávamos na 25ª posição da America Latina toda, foi um puta susto, foi emocionante de verdade... Chegamos a cogitar que pudesse ter sido erro de algum estagiário do site (risos).

3 - Com um primeiro álbum bem sucedido, a pressão aumenta para o lançamento do segundo. O que podemos esperar do sucessor de “The Motor Becomes My Voice”?

Gabriel: Acredito que a palavra seja evolução, tanto individual quanto coletiva, “The Motor Becomes My Voice” mostrou a nossa voz, o sucessor tem a obrigação de gritar mais alto, esperamos conseguir.


4 - É notória as influências de Sepultura e principalmente de Pantera nas composições do disco, quais as outras referências da banda e como trabalham tais influências para que não soe algo forçado ou mesmo uma mera cópia?

Gabriel: 
O processo de composição no nosso caso rola com muita naturalidade, nós nem chegamos a discutir qual área do metal iríamos tentar nos encaixar, nos juntamos, construímos esses sons e gravamos, acredito que o resultado soou exatamente como Maverick sabe? Quando você se da essa liberdade de criação, o resultado naturalmente é algo original, é claro que algumas das influências se destacam mais que as outras, talvez até por serem mais conhecidas, algumas resenhas citaram Machine Head como semelhança, e apesar de gostarmos muito, quase não ouvimos MH saca? O legal é que deixamos para a imprensa especializada nos classificar, pois sinceramente não tínhamos idéia de onde nos encaixar... No fim a maioria nos definiu como Thrash/Groove.  

5 - "Upsidown" é a primeira canção do trabalho logo depois da Intro "V-8", ela é também o primeiro single do disco e ganhou um lyric video. Por que a escolha de "Upsidown"?

Gabriel: A decisão foi unânime, a intenção era chegar na voadora e com os dois pés no peito saca? (risos) “Upsidown” já começa sem firula e com força, era essa a primeira impressão que queríamos passar.

6 - Vocês estão tocando bastante pelo underground e fizeram alguns shows importantes. Abriram pro Soulfly e pro Krisiun, dois grandes nomes do Metal nacional, qual a sensação de tocar com nomes que influenciaram diretamente na sonoridade da banda?

Gabriel: A sensação é incrível, os sonhos são sempre algo que vão sendo construídos por etapas, pessoalmente, tocar junto com o Max Cavalera, que é o meu maior ídolo, foi a realização de um desses sonhos, principalmente com o Soulfly, que podemos dizer seguramente que está entre as nossas 3 maiores influências, agora sobre o Krisiun... Quem não quer dividir o palco com uma das maiores e bem sucedidas bandas de Death Metal do planeta, foi uma honra que não cabe no peito!  


7 - Pessoalmente, qual a visão de Gabriel Sernaglia sobre o underground brasileiro? O que precisa melhorar e qual o principal fator que está impedindo que o nosso Metal se torne realmente grande?


Gabriel: Olha, se eu pudesse mudar algo, eu mudaria a UNIÃO e VALORIZAÇÃO...  A união sincera é muito rara, chega a ser quase nula, principalmente entre as bandas que parecem estar em uma competição constante umas com as outras. Enxergam as novidades das outras bandas como ameaça ou sei lá o que... Outras porque tocam determinado estilo já se sentem superiores indubitavelmente, mais true saca? Isso entre as bandas, mas acredito que com o publico a realidade não fuja muito disso. Uma cultura que já é tão escassa no nosso país como a “headbanger”, ser subdividida e fragmentada como tal, é certamente um grande erro.
A questão da valorização fala por si, e se você não se valorizar, ninguém vai... a grande maioria NÃO se valoriza, muitos cobram da cena a questão de apoiar o metal nacional, o que eu não deixo de concordar, mas a maneira como cobram enxergo como errada, compartilham nas redes sociais aqueles dizeres em forma de síndrome de vira-lata:“Paga 400 reais pra ver banda gringa e não paga 10 reais pra ver o amigo tocar”, primeiro que a simbologia aí já está errada, ninguém tem que pagar pra ver o amigo tocar, tem que pagar pra ouvir a banda tocar, e não por estar fazendo um favor pro amigo e sim porque é bom, já começa mendigando algo que naturalmente deveria ser valorizado, inclusive sugerindo um valor que não compra nem um Kinder Ovo hoje em dia. Mas acredito que seja um reflexo da postura das próprias bandas, mas seria algo que renderia um debate muito mais aprofundado.

8 - Vocês lançaram “The Motor Becomes My Voice” através de um grande selo nacional, a Shinigami Records, no que isso facilitou o trabalho de divulgação e inserção do nome Maverick na cena?

Gabriel: 
A Shinigami Records literalmente “Caiu do céu” para nós, de início, entramos em contato com eles em busca de um serviço que eles oferecem de “Assessoria de Prensagem”, onde eles cuidam de toda a parte burocrática da prensagem do disco, mas nada além disso. Quando enviei a master pra eles, o William que é o proprietário ouviu o álbum, gostou muito e nos ofereceu a oportunidade de ter o nosso debut lançado pela Shinigami Records, que acredito eu, foi o primeiro grande passo para nós, pois já acompanhávamos os lançamentos da gravadora e sabíamos do grande alcance que o trabalho deles proporcionaria. Grande gravadora, é uma honra muito grande trabalhar com eles.

9 - Ouvindo o álbum, fica evidente a qualidade da banda, mas um fator que me chamou a atenção é o pouco uso de solos de guitarra. Por que essa ausência? Nas próximas composições manterão esse formato, ou irão adicionar mais solos?

Gabriel: Essa pergunta é muito legal, e sempre nos fazem. Como já citado anteriormente, os sons foram surgindo naturalmente, acredito que acabamos reproduzindo a nossa personalidade musical com a mistura que são nossas influências. Na questão dos solos, tanto eu quanto o Caio (antigo guitarrista) tínhamos a característica de guitarristas “Riffeiros” e quisemos explorar ao máximo essa questão e nos apoiar em algo que tínhamos maior domínio e concretude, naquele momento não sentimos uma real necessidade de introduzir muitos solos, queríamos realmente que os destaques fossem os riffs groovados. Para as próximas composições pretendemos seguir a mesma estrutura, porém torná-la mais complexa. Para isso temos dois fatores que vão influenciar muito nessa complexidade, o fato da experiência no estúdio que até então, não tínhamos sequer entrado em um antes de gravarmos,  vamos com certeza buscar uma pré-produção, e o outro fator é a entrada do Cesar na guitarra, que é um guitarrista muito virtuoso e de perfil completamente diferente do meu, ele já é mais voltado para a questão dos solos e as primeiras experiências de novas composições tem sido muito legais, a galera que curte solos, dessa vez pode esperar por muitos, e com o mesmo groove de sempre.


10 - Sei que um momento muito especial pra banda, foi a apresentação no Roça N' Roll com grandes nomes da cena. Conte-nos sobre esse show (este dia) em específico.


Gabriel: Roça ‘N Roll foi insano! Entramos no cast do evento através da “Rinha de bandas” que é uma parte onde a organização dá espaço para as bandas autorais se inscreverem através de uma ficha de inscrição e envio de material. E com muita honra, dentre centenas de inscrições, fomos uma das 5 bandas selecionadas para integrar o cast do evento. Uma organização que trata igualmente tanto bandas que estão começando agora, quanto lendas da cena nacional e internacional merece o nosso respeito, e foi o que aconteceu no Roça, ao andar pelo backstage, hora você encontrava com o Amilcar e a galera do Torture Squad, depois conversava com o Mao (Garotos Podres), via o Aquiles Priester se aquecendo, o próprio Bruno Maia (organizador/Tuatha de Dannam) os caras do Amorphis (Finlândia)... sabe, e nós ali... juntos, como atração no mesmo evento.
O show soou como reflexo de tudo isso, tocamos por volta das 18:30h no palco principal, a galera respondeu da melhor forma possível a uma banda que a maioria dos presentes não conhecia, até então posso considerar com certeza o nosso melhor show, nunca vamos esquecer a galera gritando nosso nome e moendo nos moshs durante toda a apresentação, foi sensacional. É a oportunidade e o tratamento que faz toda a diferença na carreira de uma banda que está começando.  

11 - Acredito muito em planejamento e foco. Por isso gosto sempre de perguntar quais os próximos objetivos e passos que planejam dar. Gostaria de saber também, qual o sonho da Maverick, aquela situação que quando se tornar real, Gabriel Sernaglia vai poder dizer, "Cheguei onde queria".

Gabriel: Os objetivos são muitos, mas basicamente giram em torno da produção do próximo álbum, pretendemos nos focar totalmente a ele e extrair o nosso melhor, temos um videoclipe quase pronto e queremos gravar outros também, esperamos usar tudo o que aprendemos ao longo desse processo a nosso favor e tentar melhorar em todos os aspectos que pecamos e evoluir nos que acertamos.
Olha, eu gosto de ir vivendo e sonhando dia após dia, pode parecer muito pouco, mas eu nunca sequer pensei que conseguiria gravar um álbum e tão menos que ele fosse destacado como foi, e menos ainda que eu o tocaria nos lugares que toquei e com quem toquei, então de cabeça erguida posso dizer que já cheguei além de onde eu esperava...  Deixo o “querer” para todos os lugares que ainda não pensei chegar. Eu já estou no lucro! 

12 - Espaço aberto para que deixe um recado para fãs e amigos.

Gabriel: Aos leitores e aos nossos amigos, acreditem sempre em vocês e no que nasce no quintal de casa também, o Metal nacional é muito promissor, mas precisa de cada um de vocês, se valorizem e valorizem, diga não as panelas, as competições entre bandas, as comparações desnecessárias, não façam da verdade de vocês a verdade de sites de “metal-fofoca” ou de “youtubers sabe tudo”, procure, conheça, forme a sua própria opinião, às vezes a retórica convence, mas ela não é necessariamente verdadeira.
Acenda dentro de vocês o espírito de rebeldia e questionamento do Rock’nRoll outra vez, unam-se. Juntos tenho certeza que seremos sempre mais fortes.

UNIÃO e HUMILDADE sempre!

Confira a sonoridade forte e competente da Maverick, fazendo a audição de "The Motor Becomes My Voice" na íntegra:


por Fabio Reis

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