Desde o lançamento de seu primeiro álbum, o aclamado "Show No Mercy" (1983), o Slayer vinha em uma sequência avassaladora de ótimos trabalhos. A estréia triunfal veio seguida do EP "Haunting The Chapel" (1984) e dos soberbos "Hell Awaits" (1985) e "Reign In Blood" (1986), estabelecendo a banda como uma das principais representantes do até então ascendente Thrash Metal.
O quarteto californiano nos presenteava a cada novo disco, com sonoridades distintas e repletas de novos elementos. Os trabalhos possuíam uma estética diferente com relação a construção das faixas e nunca um álbum do Slayer seguia uma mesma fórmula.
"Reign In Blood", o até então último lançamento, havia chocado a todos por sua brutalidade, rapidez e agressividade. Suas composições, com exceção das clássicas "Angel Of Death" e "Rainning Blood", não chegavam na casa dos três minutos de duração, porém eram repletas de excepcionais riffs, mudanças rítmicas e andamentos mega acelerados. Para muitos, o registro se tornou a obra definitiva que moldou o Thrash Metal nos padrões ao qual o conhecemos nos dias de hoje.
Com um álbum tão forte e aclamado, a banda se viu num beco sem saída quando chegou a hora de compor material novo. Os músicos tinham plena consciência de que não iriam conceber nada mais brutal e tão pouco mais rápido que "Reign In Blood", por isso, ao invés de tentar gravar algo na mesma linha, resolveram manter a escrita de nunca se repetir e nadando na contramão, desaceleraram propositalmente.
"South Of Heaven" foi lançado no dia 5 de Julho de 1988 e trouxe um Slayer mais pesado, porém apostando em melodias cadenciadas e músicas repletas de climatizações sombrias. A velocidade que marcou os registros anteriores ficou em segundo plano e as principais características do disco, são os riffs arrastados e o instrumental nitidamente mais trabalhado. Até mesmo o estilo de cantar de Tom Araya, sofreu algumas mudanças e as frases antes recitadas com extrema rapidez, foram substituídas por uma pronúncia mais pausada em que o ouvinte entende cada palavra cantada.
O quarto álbum de estúdio da banda surpreende a todos e mesmo os que esperavam por uma sonoridade mais agressiva, não se decepcionam com o resultado aqui obtido e acabam fisgados pelo forte apelo de algumas das mais importantes composições de toda a trajetória do grupo.
"Mandatory Suicide" e principalmente a faixa título "South Of Heaven", detentoras de dois dos maiores riffs de guitarra de todo o Thrash Metal, caem imediatamente nas graças dos fãs e rapidamente, se tornam indispensáveis nas apresentação ao vivo. Outros momentos de destaque ficam por conta de "Live Undead", "Behind The Crooked Cross", a porrada "Ghosts Of War" e o cover do Judas Priest, para "Dissident Agressor", presente no clássico "Sin After Sin" (1977) e que executada pelo Slayer, ganha uma roupagem mais visceral e direta.
A temática apresentada pela banda se mantém intacta e as letras tratam de assuntos polêmicos como guerra, religião, suicídio, ocultismo e a natureza perversa do ser humano. Tudo isso é retratado com as já conhecidas abordagens sarcásticas do trio King, Hanneman e Araya. O título do álbum é um trocadilho, onde a real intenção da banda é fazer menção ao inferno, que fica situado justamente ao "Sul do Paraíso".
"South Of Heaven" vendeu muito bem e se tornou o segundo álbum do Slayer a marcar presença nas paradas da Billboard. Mais uma vez, a produção ficou à cargo de Rick Rubin e a distribuição do disco foi feita pela Warner Bros Records, já que a Columbia se negou a trabalhar com a banda. A capa foi elaborada pelo artista Larry Carroll e o illustrator Howard Schwartzberg, que assim como na produção de Rubin, também foram os responsáveis pela arte de "Reign In Blood".
Apesar de ser considerado por muitos, um dos melhores trabalhos do grupo e sendo um dos cinco discos que compõe a chamada fase áurea da banda, Kerry King é um dos maiores críticos do registro e por diversas vezes, declarou a sua insatisfação com alguns elementos presentes na musicalidade de "South Of Heaven". Talvez, tais declarações sejam explicadas pelo fato de que Kerry praticamente não participou da composição e mesmo sendo creditado em algumas faixas, a maior parte das idéias foram concebidas por Jeff Hanneman.
Discordando de King em todos os sentidos, considero que a diminuição da intensidade e a desaceleração promovida no álbum, acrescentou características seminais nas composições do Slayer e trouxe à tona, uma musicalidade que mesmo não sendo tão brutal, se tornaria uma das marcas registradas da banda. No registro posterior mesmo, teríamos dois clássicos absolutos, totalmente baseados na maneira de compor de "South Of Heaven", me refiro a "Dead Skin Mask" e "Seasons In The Abyss".
Obrigatório em qualquer coleção!
Integrantes:
Tom Araya (Vocal, baixo)
Jeff Hanneman (Guitarra)
Kerry King (Guitarra)
Dave Lombardo (Bateria)
Faixas:
01. South Of Heaven
02. Silent Scream
03. Live Undead
04. Behind The Crooked Cross
05. Mandatory Suicide
06. Ghosts Of War
07. Read Between The Lies
08. Cleanse The Soul
09. Dissident Aggressor (Judas Priest cover)
10. Spill The Blood
por Fabio Reis
