O que poderia acontecer quando no início da década de 80, quatro garotos com em média 15 anos de idade, após ouvir alguns álbuns de bandas como Venom, Possessed e Celtic Frost, resolvem montar uma banda de Heavy Metal no estado de Minas Gerais?
Somamos a essa situação, o fato de que cada um desses meninos, estavam ainda aprendendo a tocar os seus respectivos instrumentos e o Brasil nessa época, era muito longe de ser um grande revelador de bandas. É claro que isso não podeira dar certo de maneira nenhuma correto? Errado! Em alguns anos, esses garotos gravariam álbuns que se tornariam clássicos absolutos, influenciariam um número exorbitante de grupos e se transformariam na maior banda brasileira de todos os tempos...
Mas como isso aconteceu?
Max e Iggor sempre tiveram um grande apreço pelo Heavy/Rock e bandas como Motorhead, Black Sabbath e Judas Priest eram a sua paixão. Tudo mudou quando vieram a São Paulo e escutaram pela primeira vez em uma loja de LP's, a sonoridade do Venom. Pouco tempo depois, descobriram o Hellhammer, Possessed e outros nomes que despontavam na cena executando o Metal de uma maneira mais crua e agressiva.
Foi amor a primeira vista e em 1985, já com algumas composições próprias, são contratados pela Cogumelo Records e lançam o lendário EP "Bestial Devastation". Não demorou muito e o debut denominado "Morbid Visions" foi gravado, mas apesar do reconhecimento, o grupo só foi amadurecer musicalmente com a entrada do guitarrista Andreas Kisser e o surgimento do segundo trabalho de estúdio, "Schizophrenia" (1987).
Nesta época, o Death/Black Metal executado de maneira rústica começava a ser substituído por um Death/Thrash mais trabalhado e o disco teve uma boa repercussão internacional. Quando as composições que integrariam o próximo registro da banda, começaram a ser concebidas, Max resolve arriscar tudo e com a cara e a coragem, viaja para os EUA e passa uma semana inteira negociando com o selo Roadrunner.
A gravadora sem nem ao menos ter assistido o Sepultura ao vivo, resolve apostar no potencial dos brasileiros e além de lançar "Schizophrenia" nos Estados Unidos e Europa, cedeu um orçamento de U$8.000 para a gravação do próximo trabalho e além disso, também disponibilizou o produtor Scott Burns (Obituary, Death e Morbid Angel) como responsável pelas gravações.
Com esse orçamento, o grupo só poderia gravar a noite, então todos dormiam durante o dia e após a meia noite iniciavam as gravações, que duravam toda a madrugada e iam até as 7 da manhã. Mesmo agindo dessa maneira, acabaram dobrando os gastos cedidos pela gravadora e no dia 7 de abril de 1989, "Beaneath The Remains" era lançado.
Pode-se afirmar que este é o disco que introduz realmente a banda no cenário mundial. Se o trabalho anterior dava boas mostras de uma evolução musical, é este que estabelece o Sepultura como um nome forte e relevante para a cena. Em comparação a "Schizophrenia", as composições além de mais técnicas, trabalhadas e melhor construídas, ainda contam com uma produção lapidada, mas que em momento algum deixa de lado o peso e a agressividade da banda.
De forma geral, os músicos demonstram um enorme amadurecimento e as performances individuais começaram a ser um grande diferencial, as composições são repletas de mudanças de andamento, viradas e além disso, muitas variações rítmicas são percebidas durante as 9 faixas que compõe o registro.
"Inner Self" e a faixa título, "Beneath The Remains", se transformaram em clássicos do Thrash Metal mundial e como um todo, o disco traz momentos antológicos. "Mass Hypnosis", "Stornger Than Hate" e "Slaves Of Pain" são algumas das preferidas dos fãs, porém ainda destaco a faixa de encerramento, "Primitive Future", como uma das mais marcantes do trabalho.
Ao fazer a audição do álbum, ficava claro que as canções não eram inovadoras e nem seriam o foco de nenhuma mudança acentuada no cenário da música pesada da época, mas também ficava evidente que não se tratava de um trabalho qualquer. A primeira demonstração disso veio em forma de números, já que "Beneath The Remains" foi uma prova contundente de que a Roadrunner poderia lucrar e muito com a banda.
Quando saíram em turnê, tiveram a oportunidade de fazer uma sequência de apresentações ao lado do Sodom na Europa. Tais apresentações foram marcadas por diversos desentendimentos entre membros do Sepultura e a equipe do Sodom, já que Max percebendo a mania de limpeza do empresário dos alemães, simplesmente resolveu não tomar um banho sequer durante toda a turnê, despertando a ira do manager e rendendo histórias homéricas, contadas com maiores detalhes na biografia de Max entitulada de "My Bloody Roots: Toda a Verdade Sobre a Maior Lenda do Heavy Metal Brasileiro.
O terceiro álbum de estúdio do Sepultura é sem dúvida alguma, um dos maiores discos gravados por uma banda brasileira em todos os tempos e mais do que isso, é o registro que abriu o mercado internacional para que outros grupos pudessem se tornar populares fora do Brasil. Uma obra essencial para o estilo e parte de um legado que jamais será esquecido.
Antológico!
Integrantes:
Max Cavalera (vocal e guitarra)
Iggor Cavalera (bateria)
Andreas Kisser (guitarra)
Paulo Júnior (baixo)
Faixas:
1. Beneath the Remains
2. Inner Self
3. Stronger Than Hate
4. Mass Hypnosis
5. Sarcastic Existence
6. Slaves of Pain
7. Lobotomy
8. Hungry
9. Primitive Future
por Fabio Reis