Centro Cultural São Paulo - São Paulo - 27/05/2016
Nada como uma apresentação gratuita de uma banda veterana e importantíssima para o cenário nacional em pleno feriado, não é mesmo? Pois é e foi exatamente isso o que ocorreu em 27 de maio, feriado de Corpus Christi. Veteranos do Hardcore Punk/Crossover Thrash, o Ratos De Porão realizou mais uma apresentação gratuita, dessa vez no Centro Cultural de São Paulo, espaço que fica localizado na região da Zona Sul de São Paulo. Ainda promovendo o seu último álbum de estúdio, “Século Sinistro” (2014), os músicos devastaram o CCSP, tocando um repertório recheado de clássicos atemporais, sons mais recentes de qualidade indiscutíveis, além de alguns “covers” bem conhecidos pelos fãs.
No início da tarde, a casa foi lotando cada vez mais e os ingressos gratuitos foram disponibilizados a partir das 18h30. Cada pessoa teve direito a retirada de um par de ingressos e como já era de se esperar, os ingressos esgotaram muito rápido. Esse fato culminou numa verdadeira algazarra por parte dos fãs e pessoas que queriam assistir a apresentação da banda liderada por João Gordo. Pouco antes do show se iniciar, algumas pessoas que não conseguiram os ingressos arrebentaram o vidro do local e adentraram no CCSP. Os seguranças do local aparentemente tentaram impedir a multidão, no entanto, quando todos se deram conta, todos conseguiram entrar no recinto, ávidos para assistirem a performance do grupo. Infelizmente, problemas como esse podem acarretar na redução ou, na pior das hipóteses, proibição de eventos dessa categoria, uma vez que os organizadores pensarão duas vezes antes de promover um evento na qual as pessoas tentarão entrar a qualquer custo.
Transtornos a parte, pouco mais de 20h, Jão (guitarra), Juninho (baixo), Boka (bateria) e João Gordo (vocal) subiram ao palco, incendiando o espaço com a clássica “Amazônia Nunca Mais”. Assim que os primeiros acordes foram tocados, o terror tomou conta do local, com todos os presentes cantando, “bangueando”, “moshando” e até mesmo – Pasmém! – promovendo “stage divings” sem mesmo ter condições para se realizar esse tipo de prática, uma vez que a infraestrutura do CCSP não é propícia para isso. Outro grande som do clássico disco “Brasil” (1989) dá continuidade à apresentação, “Terra do Carnaval”. Clássicos jamais desapontam ao vivo, ainda mais quando as composições em questão contam com algumas das letras mais atemporais da história da música pesada.
Antes de darem sequência ao show, Gordo canta, ao lado da plateia, os versos iniciais da próxima música do “setlist”:
♫ “Gás lacrimogêneo
Bomba de efeito moral
Bala de borracha na cara
Repressão policial
No conflito violento
Desobediência civil
Caminhando contra o vento
Patriotada varonil” ♫
E dá-lhe “Conflito Violento”, faixa de abertura do esmagador último lançamento da banda até o momento, “Século Sinistro” (2014), álbum que certamente foi um dos grandes destaques do estilo em 2014. Logo após, tivemos também “Viciado Digital”, mais uma de “Século Sinistro”, que mais uma vez foi recebida com muita energia e empolgação por todos os presentes. Gordo e Cia. decidem voltar no tempo e nos brindam com a antiga e sensacional “Ascenção e Queda”, do estupendo “Anarkophobia” (1991), seguida da truculenta “V.C.D.M.S.A.”, do excepcional “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” (1987).
Se você quer tranquilidade e músicas lentas, por favor, não vá a um show desses caras, pois não há descanso por um segundo sequer e outra prova cabal disso foram às músicas seguintes do repertório escolhido pelo grupo. O hino “Crucificados Pelo Sistema”, do clássico álbum de estreia autointitulado surge na sequência, arremessando os presentes em mais uma onda de caos e adrenalina. A desgraceira prossegue com a mortal “Herança”. O show estava apenas começando e o local já havia se transformado num território totalmente feroz e anárquico.
Falando em anarquia, a banda introduz a todos “Anarkophobia”, faixa-título do clássico álbum de 1991. O que dizer sobre a performance desses veteranos? Nota mil! A veloz “Vida Animal” não deixa ninguém descansar e funciona como um legítimo soco na boca do estômago dos presentes. Os arranjos arrastados de “Grande Bosta”, outra composição de “Século Sinistro” fazem todos agitarem com muita intensidade.
No ato seguinte da apresentação, os músicos tocaram quatro “covers” bem conhecidos por todos os fãs da banda, presentes no álbum de “covers” “Feijoada Acidente? – Brasil” (1995). O primeiro a ser tocado foi “Olho de Gato” (Olho Seco), seguido de “Medo de Morrer” (Inocentes), “Buracos Suburbanos” (Psykóse) e “O Dotadão Deve Morrer” (Cascavelletes). O que falar sobre a execução dessas quatro releituras de clássicos do Punk/Rock nacional? Por esse e muitos outros motivos que a banda é um verdadeiro orgulho para o cenário musical brasileiro.
Um fato bastante inusitado e engraçado ocorreu antes da apresentação prosseguir. João Gordo encontrou um celular de cor vermelha no palco onde a banda estava se apresentando e dirigiu a palavra ao público, com o aparelho em mãos: “Alguém perdeu um celular vermelho! De quem é o celular comunista?”. Evidentemente, todos caíram na gargalhada e pouco depois, a pessoa dona do celular recuperou o aparelho com o sempre descontraído “frontmen”.
Clássicos não podem deixar de ser tocados de uma hora para a outra e uma banda do nível do Ratos De Porão obviamente não deixaria de fazer isso à essa altura do campeonato, certo? De repente, se iniciam os primeiros – e sujos! – “riffs” da clássica e violenta “Morrer”. Assim como em muitas de suas apresentações, o grupo tocou apenas os dois primeiros versos da música, emendando com a igualmente clássica “Não Me Importo”. Suja e agressiva até dizer chega, “Cérebros Atômicos” tritura os tímpanos e os miolos de todos os presentes, que se arrebentam no “mosh” de maneira brutal.
Clássicos não podem deixar de ser tocados de uma hora para a outra e uma banda do nível do Ratos De Porão obviamente não deixaria de fazer isso à essa altura do campeonato, certo? De repente, se iniciam os primeiros – e sujos! – “riffs” da clássica e violenta “Morrer”. Assim como em muitas de suas apresentações, o grupo tocou apenas os dois primeiros versos da música, emendando com a igualmente clássica “Não Me Importo”. Suja e agressiva até dizer chega, “Cérebros Atômicos” tritura os tímpanos e os miolos de todos os presentes, que se arrebentam no “mosh” de maneira brutal.
Presença obrigatória nos shows da banda, a maravilhosa e cadenciada “Sofrer” é tocada na sequência. Existem diversas músicas que podemos ouvir centenas de vezes e sempre soaram da mesma maneira. Talvez até melhor, dependendo do ponto de vista e esse clássico indubitavelmente é um forte exemplo disso. Conforme já foi mencionado antes, se você quer descanso, não vá a um show da banda, ou você poderá se deparar com cantigas hediondas como a próxima música do “setlist”, “Paranóia Nuclear”. Devastação em forma de música define bem o que é esse som!
Alguém clamou por mais clássicos? “Crianças Sem Futuro” surge na sequência, levando todos ao delírio mais uma vez. A banda faz uma pequena pausa e Gordo inicia um de seus muitos discursos engraçados em tom de zombaria. O vocalista brinca de forma hilária que ninguém se prejudica mais na vida que um gordo. Como já era de se esperar, dá-lhe “Diet Paranoia”, do controverso álbum de estúdio “Just Another Crime... in Massacreland” (1994). Certamente, uma das melhores músicas do disco.
Representando o extremamente agressivo “Carniceria Tropical” (1997), temos a arrasa-quarteirão “Crocodila”. Impossível não cantar esse som imitando o tom de voz esgoelado de João Gordo! Mais uma vez, a banda realiza um breve intervalo e Gordo, pra variar, decide fazer uma brincadeira com Boka, o baterista da banda. A brincadeira rende gargalhadas e um clima de descontração gigantesco se propaga no ar. Quem acompanha a banda já sabia exatamente qual seria o próximo som a ser tocado: “Igreja Universal”, outro dos maiores clássicos da banda. Mais uma vez, sem comentários!
A dobradinha seguinte também fala por si: “Beber Até Morrer” e “Aids, Pop, Repressão”, duas composições que novamente dispensam apresentações. Expressar qualquer argumento para esses dois hinos é realmente chover no molhado. Para encerrar, ainda tivemos a curtíssima e destruidora “Realidades da Guerra” e a clássica “Crise Geral”, que encerrou o show de maneira brilhante. Destaque para João Gordo, que saiu do palco cantando a música em direção ao camarim poucos segundos antes da música terminar.
Existem bandas que quanto mais o tempo passa, soam ainda melhores e com toda certeza o Ratos De Porão – vulgo RxDxPx – é um dos exemplos mais cabais disso. Exceção feita ao baixista Juninho, que é o caçula da banda, os outros três integrantes já passaram da faixa dos 40 anos de idade e ainda assim tocam com uma energia invejável e que deixa muitas bandas mais novas no chinelo. Exceção feita à invasão do público no CCSP, a apresentação do grupo foi excepcional, como sempre. Que essa instituição do Hardcore Punk/Crossover Thrash continue na ativa por muito mais tempo. Nós agradecemos imensamente!
♫ "Nascer para liberdade
E crescer para morrer
Crucificados pelo sistema
Morrer sem esquecer
O povo que ficou
Crucificados pelo sistema" ♫
Setlist:
01. Amazônia Nunca Mais
02. Terra do Carnaval
03. Conflito Violento
04. Viciado Digital
05. Ascenção e Queda
06. V.C.D.M.S.A.
07. Crucificados Pelo Sistema
08. Herança
09. Anarkophobia
10. Vida Animal
11. Grande Bosta
12. Olho de Gato (Olho Seco cover)
13. Medo de Morrer (Inocentes cover)
14. Buracos Suburbanos (Psykóse cover)
15. O Dotadão Deve Morrer (Cascavelletes cover)
16. Morrer/Não Me Importo
17. Cérebros Atômicos
18. Sofrer
19. Paranóia Nuclear
20. Crianças Sem Futuro
21. Diet Paranoia
22. Crocodila
23. Igreja Universal
24. Beber Até Morrer
25. Aids, Pop, Repressão
26. Realidades da Guerra
27. Crise Geral
Banda:
João Gordo (Vocal)
Jão (Guitarra)
Juninho (Baixo)
Boka (Bateria)
por David Torres
por David Torres