Steve Grimmett

Abrindo a nova série "Midas Touch" no Mundo Metal, onde serão publicadas histórias de ícones da música pesada, músicos que deixaram uma marca absolutamente inconteste e incomparável:


Espíritos malignos independentes, sem forma corporal, parceiros de outras entidades maledicentes, imortais e que se alimentam de dor e medo são chamados de grins ou Grim Reapers.
Nada melhor que batizar uma banda de heavy metal com esse nome e foi exatamente isso que Nick Bowcott fez em 1979, na pequena Droitwich Spa, Inglaterra.
Dono de uma capacidade literária ampla e conhecedor emérito do folclore anglo-saxão, Bowcott é o grande responsável pelas letras da banda, além de guitarrista.

Depois de percorrer o interior da grande ilha e trocar sucessivamente os componentes da banda, em 1982, chamou Steve Grimmett, então com 22 anos de idade para os vocais, oriundo da banda Medusa de Glam que lançou apenas 2 demos , Dave Wanklin para o baixo e Lee Harris para compor a batera e, após ganharem um concurso com 100 bandas denominado “Battle of the Bands” (tem gente que adora esse termo aqui no Mundo Metal), lançam uma demo com o título capcioso de “For Demonstration Only”, ou seja, “Somente para Demonstração”. Imaginem se eles tivessem parado por aí? Eu teria reunido uma legião de reapers para caçá-los e aniquilá-los por tamanha heresia, afinal também sou oriundo das trevas e amigo do peito de um verdadeiro pandemônio. No mesmo ano, também de forma independente, lançam um álbum ao vivo intitulado “Krypt Keeper – Live London.


O Grim Reaper começa a se destacar e, logo no início de 1983, é contratado pela Ebony Records e, em apenas 4 dias de estúdio, lança o debut “SEE YOU IN HELL”, com letras e músicas garrafais. Todo o conjunto da obra é assombroso, mas a potência, timbre e volume da voz de Grimmett são assustadores, ouvidos desavisados passam por processo de intensa dor. Realmente ele é um autêntico grim, senhor das almas de tantos mortos-vivos perambulantes dos subúrbios de Worcestershire, tanto que de início a banda lança-se em turnê pela Inglaterra. A qualidade de “See You In Hell” é tão espantosa que o Grim Reaper recebe do crítico especializado do Los Angeles Times, Robert Hillburn, o título de melhor banda de heavy metal do ano. Paralelamente, Grimmett é contratado por outra sumidade da NWOBHM: O Chateaux, que coincidentemente também lançou apenas 3 bolachas pra, então, desaparecer do mapa. O álbum “Chained and Desperate” eu considero um deleite, principalmente por Steve ser o vocal, mais cadenciado que o “See You In Hell”, típico da nova onda.

Com a mudança de baterista, agora Marc Simon, em 1985, surge pra continuar assombrando, o álbum “Fear no Evil” que, em poucas semanas conquista sucesso de vendas e nova turnê. Em 1986, novo álbum programado, o “Night of the Vampire”, que não foi lançado por motivo de "quid pro quos" e ciúmes entre a gravadora inglesa e a norte americana RCA. Vencida a queda de braços, a portentosa yankee lança, em 1987, já regravado e reintitulado como “Rock You To Hell” o álbum abortado anteriormente. Grimmett, mais experiente e calejado, está perfeito nos vocais. Seus agudos atingem timbres exorbitantes. O cara consagra-se, definitivamente, como um monstro do Heavy Metal.


Problemas, como toda banda os tem, fez com que os grins se separassem. Bowcott partiu, então para carreira de cronista e escritor. Grimmett não pode ficar parado. Todos o admiram como um virtuose da voz e, dentre tantos convites, ele resolve dar uma guinada no estilo e assina com o grupo punk/thrash/hardcore, Onslaught, também inglês. No ano de 88 o Onslaught lança o EP “Shellshock” já com Steve nos vocais e no ano seguinte o EP “Wellcome to Dying” e o full lenght “In Search of Sanity”. Pra mim são as melhores obras do Onslaught e que comecem os “mimimis”, mas essa mesma choradeira dos fãs da época fez com que Steve pedisse demissão da banda. Grimmett deu um toque de classe à banda, caracterizada por ter uma pegada muito mais crua e suja. Nessa época foi que intitulei meu ídolo como o “Midas Touch” do metal britânico.

Grimmett resolve então fundar sua própria banda, após deixar o Onslaught, a magnífica hard/heavy Lionsheart. Foram 4 álbuns desbundantes em pouco mais de uma década. Ele brinca com a voz, mostra todo o seu poderio, sua força, seu alcance. O virtuosismo de Ian Nash nas guitarras aliado a magia de Steve faz com que eu tenha adoração por todos os álbuns, todas as músicas, cada riff, cada solo, cada entonação dessa voz portentosa.

Grimmett é tão espetacular que esteve cotado para assumir os vocais de 3 bandas consagradas: O Iron Maiden, quando da saída de Bruce; o Judas Priest, com a queda de Rob após sair do armário e também do Black Sabbath, na ocasião daquelas trocas incessantes de vocalistas, ocasionadas pela arrogância do mestre Iommi.


Ele ainda tem em seu curriculum algumas preciosidades como o álbum “Friction” de banda homônima, gravado em 2002, uma delícia de hard rock; o álbum “Grimmstine”, também homônimo à banda, de 2008, heavizão melódico e adocicado de alta qualidade; The Steve Grimmett Band com o álbum “Personal Crisis”, datado de 2007 e que também considero classe A; na banda Empires of Eden, da Austrália, onde canta duas canções de dois álbuns distintos; na japonesa EZO, onde participa dos backing vocals. Além disso participa de tributos ao Iron Maiden, interpretando diversas canções da banda; tributos ao Thin Lizzy, ao Nazareth e ao Whitesnake.

Atualmente, além de cantar no “The Sanity Days”, projeto que reúne diversos ex-integrantes do Onslaught, que inclusive, já esteve se apresentando no Brasil, na cidade de Sorocaba, Steve Grimmett, desde 2006, atua na banda que nomeou de“Steve Grimmett’s Grim Reaper”, em respeito à ausência de Bowcott, em diversos shows tanto na Europa como nos Estados Unidos. São mais de 30 anos de estrada e o “Midas Touch” não perdeu o pique, por onde passa tudo vira ouro, pelo menos, essa é a minha opinião.


Escrito por Luís Henrique Campos

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