Um Retorno Pífio
Temos testemunhado diversas bandas que encerraram suas trajetórias há tempos, voltarem as atividades com álbuns bem interessantes e competentes. Algumas voltas realmente se mostraram muito relevantes e recolocaram nomes perdidos no passado, novamente em destaque com todos os méritos.
Grupos como Satan, Warrant, Accept, Onslaught, Artillery, Carcass e muitos outros, vem esbanjando qualidade em seus últimos registros e justificam suas decisões de subir novamente aos palcos. Ostentam nomes pra lá de respeitados com toda a maestria já conhecida, sem demonstrar sinais de cansaço e provando que tem muito ainda a nos apresentar em anos vindouros.
É fato, que alguns retornos não são tão unanimes como as acima mencionados e pra não perdermos o foco, citarei apenas um destes contestados antes de entrar no assunto principal do texto. Talvez a banda mais lendária de todo o Heavy Metal, o grandioso Black Sabbath, promoveu uma volta que foi muito discutida, lançando um álbum que dividiu opiniões ("13") mas que vendeu muito e rendeu mais alguns milhões aos cofres de Ozzy, Toni Iommy e Geezer Butler, através de sua milionária turnê.
Analisando friamente, promover retornos de nomes importantes do passado tem se mostrado um negócio bem lucrativo. Se feito ao menos com certa paixão e respeitando a história dos grupos, não vejo mal nenhum, o grande problema é que algumas bandas não enxergam isso e acabam manchando um legado irretocável com álbuns pífios que se não fossem lançados, não fariam a menor diferença.
Em 2010, foi anunciado o retorno do lendário Sanctuary, grupo que lançou dois álbuns memoráveis no final dos 80's, "Refuge Denied" (1987) e "Into the Mirror Black" (1989). Praticavam um Power Metal contagiante, cheio de identidade, técnica e músicos soberbos. No começo dos anos 90, dissolveram a banda por pressão da gravadora, que queria os inserir no movimento grunge.
Warrel Dane e Jim Sheppard, dois dos membros fundadores do grupo, não aceitaram tal imposição, enquanto Lenny Rutledge e Dave Budbill, estariam dispostos a trocar os solos, palhetadas e agudos pelas famosas blusas xadrez, vocais arrastados e seguir rumo ao estrelato. O desentendimento foi inevitável e os músicos chegaram até mesmo as vias de fato. Conclusão: Warrel, Jim e o então "novato" Jeff Loomis formaram o Nevermore e seguiram em frente sem olhar pra trás, conseguiram reconhecimento por parte da mídia e conquistaram fãs fieis ao trabalho de sua nova banda.
Até este ponto, louvável a atitude de Warrel e Jim, que não aceitaram que a sua música fosse transformada e descaracterizada, construíram carreiras respeitáveis e se o Nevermore, é uma banda que não agrada a todos, ao menos possuíam o respeito do público do Metal. Uma ótima história "SE" terminasse por aqui...
Mas (e sempre tem um "mas" pra atrapalhar), resolveram, sabe-se lá Deus o por que, ressuscitar o nome do Sanctuary. Se juntaram novamente a Lenny Rutledge e Dave Budbill (aqueles mesmos que estavam loucos para migrar do Metal para o Grunge) e neste ano de 2014, lançaram o trabalho "The Year The Sun Died".
Desde o princípio, achei essa história, no mínimo, mal contada e senti um cheiro de "esperteza" (pra não dizer outras coisas) no ar, mas como sempre faço, aguardei o lançamento do álbum e fui conferir o que o "Sanctuary" tinha a nos oferecer em sua versão século XXI. Algumas boas audições depois e o que eu temia foi apenas confirmado, absolutamente NADA da sonoridade característica do grupo.
A grande verdade, é que este registro de retorno nada mais é que uma extensão dos últimos álbuns que o Nevermore vinha lançando, só que, pasmem, muito mais fraco. Apenas algumas composições como "Arise And Purify", "Let The Serpent Follow Me" e "Frozen" tem resquícios do que poderia ser realmente o Sanctuary nos dias de hoje, o restante das faixas são chatas, sem sal, arrastadas e na minha humilde opinião, totalmente desnecessárias.
A audição do álbum é entediante, a banda me parece totalmente perdida, não sabendo direito pra qual direção seguir e dessa forma, acabaram não indo a lugar nenhum, tive a sensação de estar ouvindo uma única música durante todo o tempo e a cada vez que dava play e tentava digerir o que diabos esses caras tentaram fazer, o pensamento que mais me passava pela cabeça era o de Warrel Dane e Jim Sheppard querendo construir uma máquina do tempo, voltar ao passado e gravar o "maldito" álbum grunge que esnobaram na época por "idealismo musical".
Tenho comigo a convicção que pra lançar um trabalho desse nível, era preferível deixar o nome Sanctuary descansando em paz, mas o que me parece, é que alguns dólares na conta acabaram por reconciliar antigos desafetos e fazer com que uma reunião, com todo respeito, equivocada acontecesse. Que me desculpem os que gostaram desse álbum, mas a honestidade com a música passou bem longe por aqui.
Retornos tem se mostrado benéficos e até mesmo surpreendentes, mas deve-se ter muito cuidado com eles. Enquanto algumas bandas voltam com garra e personalidade, nos proporcionando momentos de nostalgia e justificando o por que de estarem de novo no "front", algumas fazem apenas número e não agregam valor nenhum. Procuro ser imparcial nas minhas análises e não espero que todos concordem comigo, mas esse trabalho, "The Year The Sun Died" é totalmente irrelevante, descompromissado e não faz jus ao nome que carrega. Não recomendo.
Não costumo dar notas a álbuns mas darei a este. Nota: 3,0. Sanctuary (1985- 1992, R.I.P.)