Ainda mais Thrash, ainda mais sanguinário
Após um hiato de quatro anos sem lançar absolutamente nada em estúdio, os Thrashers norte-americanos do Exodus estão de volta e como sempre, destruindo tudo e entregando aos seus fãs aquilo que eles mais esperam: pancadaria de primeira, é claro! Há poucos meses atrás a banda demitiu o vocalista Rob Dukes, que estava na banda desde 2005 e havia participado dos registros de estúdio “Shovel Headed Kill Machine” (2005), “The Atrocity Exhibition... Exhibit A” (2007), “Let There Be Blood" (a regravação do clássico “debut” “Bonded By Blood” (2008) e “Exhibit B: The Human Condition” (2010). Pouco após a controversa saída do “frontmen”, foi anunciado que o ex-vocalista Steve “Zetro” Souza estava de volta ao Exodus e que um novo álbum seria lançado com ele assumindo os vocais. “Blood In, Blood Out” é o décimo álbum de estúdio da carreira dos californianos e será lançado oficialmente no dia 14 de outubro, pela Nuclear Blast. Produzido pelo sempre elogiado produtor e músico Andy Sneap (que já trabalhou com bandas como Carcass, Kreator e Nevermore) e apresentando uma extraordinária arte de capa concebida pelo artista Pär Olofsson (que já havia trabalhado com a banda em "Let There Be Blood"), “Blood In, Blood Out” possui um poder de fogo incontestável.
O álbum começa de forma lenta, com um “sampler” ecoando singelamente dos autofalantes, um trabalho concebido por Dan the Automator, um produtor de Hip Hop que já trabalhou com artistas como Gorillaz e Kasabian. Tendo conhecimento que um produtor de Hip Hop contribuiu para um álbum do Exodus, alguns fãs mais radicais podem ficar um tanto apreensivos a princípio, contudo, posso assegurar que essa participação em nada afeta a sonoridade praticada por esses veteranos. Em poucos segundos, as guitarras de Gary Holt e Lee Altus surgem, assim como o pulsante baixo de Jack Gibson e a balanceada bateria de Tom Hunting. O ritmo da música vai crescendo e acelerando aos poucos. Sem perder tempo, a voz rasgada de Steve “Zetro” Souza rasga os autofalantes e inicia a pancadaria em grande estilo. O que temos após isso?! Arranjos e “riffs” nervosos, solos insanos, alem de uma “cozinha” de bateria e baixo formidavelmente destruidora. Se a faixa de abertura já é excelente, o que dizer da faixa título? Explosiva, veloz e absurdamente matadora, “Blood In, Blood Out” parece nos levar de volta aos anos 80 tamanha a sua fúria assassina. Ouvindo essa faixa já é possível imaginar o estrago que ela fará ao vivo.
As guitarras de Holt e Altus marcam o início da terceira música do álbum, “Collateral Damage”, uma faixa um pouco mais cadenciada, entretanto, pesadíssima e que certamente mantém a qualidade do disco, contendo grandes “riffs”, solos e mudanças de andamento bem encaixadas. “Salt the Wound” vem logo em seguida e é uma composição que poderia estar facilmente presente em “Tempo of the Damned”, de 2004. É uma faixa bem cadenciada, onde mais uma vez temos um trabalho excepcional desses veteranos do Thrash. “Cozinha” pulsante e esmagadora, vocais maravilhosamente estridentes e “riffs” bem construídos se encontram presentes nessa quarta faixa. Outro “chamariz” dessa música é a participação de Kirk Hammet, guitarrista solo do Metallica, que gravou um solo de guitarra para ela. Kirk um dia já foi integrante do Exodus, porém havia deixado a banda para se juntar ao Metallica, história que muitos já estão mais do que saturados de ouvir. Hammet apenas havia participado de uma demo lançada pela banda no longínquo ano de 1982 e o solo que gravou para essa faixa foi sua primeira e única participação em um álbum de estúdio da banda.
Sem deixar o ouvinte entediar, “Body Harvest” traz novamente uma sequência de “riffs”, solos repletos de “feeling”, além de um trabalho virtuosíssimo de baixo e bateria. “BTK”, por sua vez, tem um início bem interessante, que vai crescendo aos poucos e induz o ouvinte a “banguear” a cada “riff”. Essa faixa também contém um ótimo refrão, além de contar com uma pequena participação do excelente vocalista Chuck Billy, do Testament. Ao ouvir esse som, o ouvinte provavelmente deve se sentir dentro de um dos trabalhos do Dublin Death Patrol, projeto na qual Chuck Billy e Steve “Zetro” Souza dividem os seus vocais poderosos. A sétima faixa é “Wrapped in the Arms of Rage”. Essa música traz mais “riffs” e solos ensandecidos, uma “cozinha” explosiva e vocais esganiçados, ou seja, mantém exatamente o padrão e o estilo incorporado pelo quinteto, sem dever nada ao ouvinte. A ótima “My Last Nerve” se incube de dar continuidade ao registro. Além de contar com “riffs” sempre impecáveis, traz harmonias belíssimas de guitarra em seu refrão, que caem com uma luva para a voz de “Zetro”. A “cozinha”, como sempre, é um espetáculo a parte. O baixo é sempre pulsante e a bateria sempre portentosa. Já os solos de guitarra são sensacionais e repletos de melodia, jamais soando forçados ou exagerados.
A furiosa “Numb” retoma a velocidade das faixas anteriores, abrindo espaço para mais pancadaria. E que pancadaria, diga-se de passagem! Mais uma vez temos uma aula de Thrash Metal com verdadeiros mestres no assunto. “Zetro” e Cia. simplesmente arregaçam, executando um trabalho vocal e instrumental fantástico. “Honor Killings” é a penúltima do álbum e não deixa por menos, espancando ainda mais os tímpanos do ouvinte com seus “riffs” afiadíssimos, suas levadas frenéticas de bateria, sua marcação sempre precisa de baixo e vocais rasgadíssimos. Um verdadeiro estrondo! É hora do álbum terminar e se já teve muita brutalidade até então, o encerramento desse trabalho não poderia ser muito diferente. “Food for the Worms” é um legítimo “soco na boca do estômago” do ouvinte, com seus “riffs” avassaladores e mudanças rítmicas formidavelmente devastadoras. Uma excelente maneira de encerrar esse décimo trabalho de estúdio!
O Exodus é uma daquelas bandas que jamais desapontou em seus álbuns. Ainda que tenham experimentado sonoridades e elementos diferentes entre si ao longo de sua carreira, é inegável que são uma banda com uma discografia invejável e sempre se mantiveram fiéis ao estilo que os consagrou. Além disso, é impressionante ver como a banda consegue presentear seus admiradores com algo que realmente não deve em nada com os trabalhos realizados anteriormente. “Zetro” e Cia. não são mais um bando de jovens eufóricos como nos anos 80, entretanto, possuem muita criatividade e energia dentro sim. Energia que os levou a realizar esse grande registro de estúdio que, certamente, figura entre os melhores lançamentos desse ano.
01. Black 13 (Feat. Dan the Automator)
02. Blood In, Blood Out
03. Collateral Damage
04. Salt the Wound (Feat. Kirk Hammett)
05. Body Harvest
06. BTK (Feat. Chuck Billy)
07. Wrapped in the Arms of Rage
08. My Last Nerve
09. Numb
10. Honor Killings
11. Food for the Worms
Faixa bônus das edições digitais e limitadas:
12. Angel of Death (Angel Witch Cover)
Faixa bônus da edição japonesa:
12. Protect Not Dissect (Feat. Anthony "Rat" Martin)
Lineup:
Steve "Zetro" Souza (Vocal)
Gary Holt (Guitarra rítmica e solo)
Lee Altus (Guitarra rítmica e solo)
Jack Gibson (Baixo)
Tom Hunting (Bateria e Percussão)
Escrito por David Torres Dos Santos