Grande parte dos headbangers só vieram ouvir falar do Blitzkrieg por causa de um cover feito pelo Metallica, da faixa "Blitzkrieg", lançado no single "Creeping Death" em 1984, ou então através da coletânea "NWOBHM '79 Revisited", que contava dentre seus elaboradores com ninguém mais ninguém menos que Lars Ulrich, baterista do Metallica (!!!) e fã de carteirinha da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM, para os íntimos), movimento musical que tomou de assalto o Reino Unido no início dos anos 80. Mas o que muita gente não sabe é que a origem do Blitzkrieg é datada de beeeeem antes de ouvirmos falar de Lars, Metallica e cia.
A origem do Blitzkrieg nos remete a Leicester, Outubro de 1980, quando os membros do Split Image - os guitarristas Jin Sirotto e Ian Jones, o baixista Steve English e o baterista Steve Abbey - buscam um substituto para sua ex-vocalista, Sarah Aldwinkle, e se deparam com Brian Ross, que havia trabalhado anteriormente em grupos como o Anvil (não confundir com o homônimo canadense) e Kashmir. Após a entrada de Brian na banda, decidem mudar seu nome para o que seria, num futuro não muito distante, um verdadeiro sinônimo do Heavy Metal 100% puro, BLITZKRIEG.
Em novembro de 1980, a banda grava a sua primeira demo-tape, que continha 3 faixas: " Blitzkrieg", " Inferno" e " Armageddon", que foi bem recebida pelo público inglês e lhes proporcionou a chance de assinarem um contrato com o selo NEAT, que prontamente incluiu a banda em sua coletânea “Lead Weight”, lançada no início de 1981. “Inferno”, dentre as três faixas da demo, foi escolhida para entrar na compilação, que contava ainda com bandas como White Spirit, Raven, Venom, Aragorn e Fist. Em Fevereiro de 1981, o grupo lança seu primeiro single, o mítico "Buried Alive, contendo a faixa-título no lado A da bolachinha e uma nova versão de"Blitzkrieg" no lado B. Após o lançamento do single, o grupo sofre algumas mudanças em sua formação, passando a contar com John Antcliffe em uma das guitarras e Mick Moore no baixo.
As coisas iam se encaminhando de forma positiva para a banda. Essa nova formação grava a demo “Blitzed Alive”, num show em Newcastle onde abriram a noite para o francês TRUST. A gravação do debut da banda era algo iminente, haviam diversas gravadoras de porte interessadas em investir neles. Visando essa eventual gravação, a banda trabalha de forma intensa na composição de material para tal registro, mas problemas internos e desavenças acabam levando a banda ao (primeiro) encerramento de suas atividades. As fitas master do que seria o primeiro full lenght da banda acabam ficando arquivadas por anos.
Entre 1981 e 1985, o Blitzkrieg permaneceu adormecido, mas seus ex-integrantes atuavam em diversas frentes. Jim Sirotto e Steve Abbey se afastaram da música; John Antcliffe fundou o Chrome Molly em 1984, obtendo um relativo sucesso e chegando a gravar 4 álbuns até o fim de suas atividades em 1991 (recentemente a banda voltou à ativa); enquanto que Brian Ross e Mick Moore juntariam forças e fundariam o Avenger em meados de 1982 (não confundir com o alemão, que viria a mudar seu nome para Rage), e grava dois registros com a banda: a participação da coletânea " One Take No Dubs" (que contava ainda com Hellanbach, Black Rose e Alien, cada banda com uma música) e o single " Too Wild to Tame". Em 1983, um fato curioso acerca Brian e o Avenger: enquanto o vocalista sai da banda para integrar o também inglês Satan, em seu lugar no Avenger é recrutado o
vocalista Ian Swift, que era...do SATAN!
Com o Satan, Brian grava aquele que é considerado um dos melhores álbuns já feitos durante a NWOBHM, o SENSACIONAL "Court in the Act" (1983), uma verdadeira obra prima do metal bretão. No entanto, sua passagem pelo Satan não dura muito tempo e ele logo pula fora da banda, devido a divergências quanto ao direcionamento musical que o Satan tomaria. Enquanto o Satan muda de nome para Blind Fury e recruta Lou Taylor (irmão do baterista da banda, Sean Taylor) para assumir os vocais, Brian faz uma breve participação no Lone Wolf, atuando como vocalista da banda em seu EP "Nobody's Move" (1984), e ainda como empresário da mesma. Sua participação no Lone Wolf foi bem curta, e após se desligar da banda, ele decide que é a hora de reativar e voltar com o quase esquecido Blitzkrieg...
Para levar a a cabo essa reconstrução do Blitzkrieg, Brian contou com a participação de dois ex-integrantes da banda - Mick Moore e Jim Sirotto, além do guitarrista Mick Procter (ex-Tygers Of Pan Tang) e um antigo colega da época de Satan, o baterista Sean Taylor. Em 1985, finalmente o Blitzkrieg lança seu álbum de estréia, o antológico "A Time of Changes", recebendo ótimas críticas na época. No ano anterior, o Metallica havia lançado, no single "Ceeping Death", a sua releitura para a música "Blitzkrieg", o que com certeza fez com que surgisse um interesse por parte de um novo público em relação ao trabalho da banda inglesa.
Mas como nem tudo são flores para o Blitzkrieg, logo após o lançamento de "A Time of Changes" Brian Ross se vê diante de um novo problema: como a formação que gravou o disco foi tão somente um arranjo de estúdio para a gravação do mesmo, e não uma formação propriamente dita, Brian precisava recrutar novos integrantes para dar seqüência a banda, o que foi prontamente resolvido.Com os novos músicos - os guitarristas JD Binnie e Chris Beard, o baixista Darren Parnaby e o baterista Sean Wilkinson, a banda gravou uma demo em 1986 que foi apenas enviada a algumas gravadoras. gravaram uma demo de quatro músicas, mas logo depois a banda se separou pela segunda vez. Em 1988, Brian remonta a banda - com os guitarristas Glenn Howes e Steve Robertson , o baixista Robbie Robertson e o baterista Kyle Gibson , gravando duas faixa (novamente distribuída apenas a gravadoras), sem obter muito retorno, e por conseqüência se desfazendo. As coisas só voltariam a entrar nos trilhos para banda após o ingresso do guitarrista Tony J. Liddle (ex-Seargent). do baixista Glenn Carey e Gary Young (ex-Avenger) na bateria. Com essa formação, a banda grava o vídeo "Live at the Kazbah" (1990), e conseqüentemente conseguem um contrato com a Roadracer Records para a gravação de um Mini-LP, em comemoração aos 10 anos da banda.
"Ten Years of Blitzkrieg" é lançado em 1991, e nele nós temos as duas músicas do single de estréia regravadas + três composições inéditas até então ("Night Howl", "The Sentinel" e "Nocturnal Vision"). Finalmente a banda volta a ser notada, conseguindo uma boa receptividade com esse trabalho. Infelizmente, nessa época o baterista Gary Young sofre um sério acidente que o impossibilita de continuar tocando e força a banda a suspender suas atividades por um longo tempo. Diante dessa situação, Glen Howes e Gary Young pulam fora e para seus lugares são recrutados o baixista Dave Anderson (ex-Wheelbarrows From Hell) e novamente o baterista Sean Taylor. Com a formação estabelecida como um quarteto, a banda vai a estúdio e grava em 1992 o seu segundo álbum full lenght, "Unholy Trinity", que dentre diversas composições inéditas possuía um cover de "Countess Bathory" do Venom (com participação do próprio Cronos dividindo os vocais com Brian Ross durante a música) e uma releitura de "Take a Look Around", faixa presente na demo "Blitzed Alive". Por motivos que até hoje desconhecidos, o disco acabou não sendo lançado, sendo engavetado e lançado apenas 3 anos depois, num momento em que a banda sequer possuía uma formação estável.
"Unholy Trinity" (1995, Neat Records) foi muito bem recebido por público e crítica, fazendo com que a banda se animasse e começasse a compor novas canções para um próximo álbum. Então, em 1996, a banda lança "Ten" (Neat Metal), que possui as cinco canções encontradas anteriormente em "Ten Years of Blitzkrieg" (incluindo aí a faixa "Blitzkrieg" com uma letra diferente), acrescidas de mais 5 novas canções. Um detalhe curioso que acerca esse álbum é que se olharmos bem, sua capa e a capa de "Ten Years of Blitzkrieg" são extremamente semelhantes, mas com uma sutil diferença: enquanto no álbum de 1991 encontramos o "mascote" Zip soltando seus raios para o lado esquerdo da ilustração, no álbum de 1996 os raios são atirados para o lado direito.
"Ten" foi muito bem recebido, mas isso não foi o suficiente para convencer o guitarrista Tony J. Liddle a permanecer na banda, optando em sair para dedicar-se a seus projetos pessoais. Mesmo assim a banda consegue seguir em frente e divulgar seu novo trabalho, saindo em tour pela Grécia e Alemanha. Logo após a tour alemã, acontece mais uma (das inúmeras) mudança na formação da banda- que passa a contar agora com Glenn Howes (novamente na banda) e Martin Richardson nas guitarras e Mark Hancock na bateria (que também viria a gravar no álbum seguinte da banda) - e concebem o terceiro álbum da banda, "The Mists of Avalon" que viria a ser lançado em 1998.
"The Mists of Avalon" (1998), o terceiro álbum do Blitzkrieg, foi um verdadeiro fiasco de vendas se comparado com os anteriores da banda, e isso acabou afetando em cheio a banda, vide que a formação que o gravou mal conseguiu sair em tour para divulgá-lo, que acabou resultando na saída do guitarrista Martin Ricahrdson (que foi substituído por Paul Nesbitt) e completando o line-up, foi efetuado o baixista Gavin Gray. Com essa formação, a banda consegue cair na estrada e o auge dessa turnê foi a apresentação no consagradíssimo festival alemão Wacken Open Air. Logo após a tour, Brian Ross sofre um sério acidente de carro e faz com que a banda suspenda novamente suas atividades por tempo indeterminado. Com isso, o guitarrista Glen Howes e o baterista Mark Hancock decidem se dedicar a um projeto paralelo deles, o Earthrod, enquanto Gavin Gray junta-se aos irlandeses do The Almighty.
Com todos esses ocorridos, a banda entra num silêncio absoluto por quase 3 anos e só voltaríamos a ouvir falar novamente dela em 2001, quando Brian Ross, totalmente recuperado de seu acidente,une forças novamente com o antigo parceiro Tony J. Liddle e ambos decidem reativar o Blitzkrieg. Contando com o guitarrista remanescente Paul Nesbitt e com a adição de Andy Galloway (baixo) e Phil Brewis (bateria), o Blitzkrieg recarrega suas baterias e entrega aos seus fãs o genial álbum "Absolute Power" (2002), que talvez seja seu disco mais pesado, consolidando de vez a volta da banda ao circuito com faixas simplesmente magistrais como "Dark City", "Enchanted Tower", "Legions", "The Face of Death", etc. Com esse lançamento, a banda entrou numa fase muito em sua carreira, voltando a se apresentar no Wacken e participando de outros festivais, como o Sweden Rock Fest na Suécia e o Metal Meltdown nos EUA.
Em 2003, temos o relançamento em edição luxuosa de "A Time of Changes", feito pela Castle / Sanctuary e intitulado "A Time of Changes - Phase One". Esse CD duplo continha o o debut da banda lançado em 1985 + tudo que havia sido registrado pela banda em sua fase inicial, compreendida entre os anos de 1980 / 1981, que seriam a demo de 1980, o single "Buried Alive" (1981), a demo "Blitzed Alive" (1981) e as gravações demo de material que viria a ser usado pela banda em gravações futuras, que inicialmente fariam parte do debut da banda.
Aproveitando o bom momento da banda, resolvem então lançar seu primeiro álbum ao vivo, "Absolutely Live" (2004), que contém várias gravações feitas durante a turnê. Esse álbum foi lançado em LP duplo e CD, cada versão com uma arte de capa exclusiva.
Após mais uma troca de formação, onde o guitarrista Tony J. Liddle e o baixista Andy Galloway cedem seus lugares, respectivamente, a Ken Johnson e Paul Brewis, a banda lança em 2005 o seu sexto trabalho de estúdio, "Sins and Greed" (2005), sendo bem recebido pela crítica especializada, tendo como destaques a matadora faixa de abertura "Hell Express", "Excessive Force", "Escape From The Village" e o excelente cover do Judas Priest, a clássica "Hell Bent For Leather". Uma pequena tour de divulgação é feita para esse álbum, com a banda logo em seguida já entrando em estúdio para gravação de seu próximo álbum.
"Theatre of The Damned", que contou com a co-produção de ninguém mais ninguém menos que o grandioso Biff Byford (Saxon), é lançado em 2007 e consegue manter o nível de excelência de seus antecessores, tocando mais uma vez no Wacken e em outros festivais europeus, mas o clima interno na banda ao fim da tour já não era dos melhores. Segundo palavras do próprio Brian Ross, para fazer parte do Blitzkrieg não basta se doar 100%, é necessário que se dê no mínimo 125%, e diante de um cenário diferente do ideal, ele resolver dar um tempo nas atividades da banda, realizando shows de forma bem esporádica, e só voltaríamos a ouvir falar da banda com mais freqüência apenas em 2013.
Em 2013, com um line-up reformulado (Alan Ross e Ken Johnson nas guitarras, Bill Baxter no baixo e Mick Kerrigan na bateria) e novo ânimo injetado, a banda anuncia um novo disco a ser lançado até o final do ano e uma turnê que, para alegria de nós brasileiros, incluía nosso país na rota, em um show conjunto com o também inglês Avenger. Mas, a pouco menos de um mês para a realização do show, Brian Ross anuncia que devido a motivos pessoais dele, o Blitzkrieg não poderia vir ao Brasil, frustrando os bangers que aguardavam por mais de 30 anos a chance de vê-los tocando ao vivo em nosso país.
Em novembro de 2013, após um hiato de 6 anos, finalmente lançam um novo trabalho e "Back From Hell" é disponibilizado em CD e LP duplo com bônus tracks (HR Records), e a banda não decepciona os fãs, onde apesar de experimentarem algumas novas sonoridades, como o dueto com direito a vocais femininos em "Complicated Issues", tudo que você espera em um álbum da banda se faz presente: grades riffs e solos de guitarra, a performance ímpar de Brian e até a releitura de algum clássico da banda, sendo que dessa vez a faixa escolhida foi "Buried Alive", aquela mesma do primeiro single da banda. Destaques? As citadas "Buried Alive" e "Complicated Issues", "V" (faixa inspirada no personagem V, da Graphic Novel escrita pelo gênio Alan Moore, V de Vingança), "Sleepy Hollow", a homenagem ao Judas Priest "Call For The Priest", que possui uma letra quase que inteiramente composta por títulos de músicas da banda de Rob Halford e cia, e a "retribuição" ao Metallica, um cover de "Seek and Destroy".
Mal 2014 começou e somos agraciados com mais um lançamento da banda, a coletânea "The Boys from Brazil Street: 1981 Revisited - The Archives Vol. 1", cujo título faz referência a uma rua onde Brian e parte da banda viviam ao entorno durante a juventude, que contém material raro da banda, como algumas gravações demo e outras que seriam usadas pela NEAT no que seria o debut da banda, mas que acabaram engavetadas. Recentemente, a banda anuncia em seu site que em 2015 fará uma grande tour na qual tocará íntegra o clássico "A Time of Changes", que completará 30 anos à época, e que essas serão suas últimas performances ao vivo. Resta a nós brasileiros, fãs dessa incrível banda, torcer para que essa tour passe por nosso país para que, finalmente, tenhamos o prazer inenarrável de conferir ao vivo o poder de fogo desta verdadeira lenda da NWOBHM e do Heavy Metal em geral.