Nos dias de hoje, existem tantas bandas diferentes,
praticando o Metal de maneiras tão distintas, que uma infinidade de subgêneros
e nomenclaturas precisam ser usadas para facilitar no reconhecimento de suas
sonoridades. Dentre muitos estilos, existem alguns que se caracterizam por usar
a temática como seu maior diferencial e dois deles são mestres na arte de criar
polêmicas. Desde seus respectivos nascimentos, estão sempre em rota de colisão
e promovem uma das mais antigas, longas e controversas discussões do mundo da
música pesada. Estou me referindo ao Black Metal e White Metal.
O termo Black Metal foi usado pela primeira vez no
lançamento do segundo álbum de estúdio do Venom em 1982. O título do trabalho
acabou dando nome ao estilo, que teve como precursores, bandas como Bathory,
Hellhammer, Celtic Frost, Bulldozer e o próprio Venom. Os temas usados por por
tais grupos variam entre o Satanismo, Paganismo e Anti-Religião. O subgênero
foi evoluindo e mudando com o tempo, adquiriu uma sonoridade própria com
características bem específicas e se firmou como uma autêntica ramificação do
Metal com a chegada de sua segunda geração.
Esta segunda leva, formada por bandas como Mayhem, Burzum,
Immortal, Marduk, Darkthrone e muitas outras, além de estabelecer um padrão em
termos de musicalidade também foi a responsável por uma série de polêmicas em
torno do estilo, que pela primeira vez deixou de chocar o público pelo
extremismo das músicas e teor das letras, e o fez ganhando as páginas policiais
dos jornais, com assassinatos e queima de igrejas.
O White Metal diferente de seu estilo antagônico, não possui
uma sonoridade que diferencia as bandas. Considera-se de Metal Cristão, todo e
qualquer grupo que use temas religiosos e ou ligados ao Cristianismo em suas
letras, podendo este tocar qualquer um dos inúmeros subgêneros do Metal. Os
primeiras bandas que se tem notícia e se auto proclamaram White Metal são a
Resurrection Band, Messiah Prophet e Jerusalem. Todas de meados da década de
70.
Nos anos 80, o Strypper e outros grupos como Tourniquet,
Whitecross e Tyrant, ajudaram a popularizar o estilo. Com a chegada dos 90's
surgiu o Mortification, que se auto denominou uma banda de Christian Death
Metal e ganhou até mesmo algum reconhecimento. Aqui no Brasil, temos alguns
exemplos de bandas que praticam um Metal de qualidade e com letras Cristãs,
Eterna e Destra são nomes de certa relevância e que possuem uma carreira
extensa.
Muitos não aceitam o White Metal como um estilo dentro do
Metal, por este ser vinculado a ideia de religião (Cristianismo) e por não
possuir uma identidade musical definida, se utilizando de subgêneros já
existentes e incorporando apenas a temática. Estas mesmas pessoas, ou a maioria
delas, aceitam o Black Metal sem nenhum problema causando um debate de ideias
infindável e cheio de autos e baixos.
Desde que acompanho o Heavy Metal, vi, ouvi e presenciei
inúmeras discussões sobre o tema e obviamente muitos argumentos sem fundamento
algum, tanto de um lado quanto de outro. Como em qualquer assunto em que
existem ideias contrárias, existem os radicais que defendem o seu ponto de
vista de maneira cega e incoerente.
Na política, esportes ou algum outro tema de cunho popular,
existem pensamentos divergentes mas com fatos palpáveis ou comprovados
cientificamente. Na religião não é assim, todo debate de idéias depende
exclusivamente da crença e fé das pessoas, o que complica muito a situação
pois, como é possível dizer o que é certo e errado, sendo que tudo é uma
questão de interpretação, avaliação e opinião pessoal?
Todos sabem que tanto um estilo como o outro, não se atem
apenas a questão musical. É claro que este fato não impede que simpatizantes
apenas da sonoridade, ouçam uma ou outra banda por que o agrada musicalmente.
Mas os verdadeiros adeptos da ideologia contida em ambos os casos, tanto no
Black quanto no White Metal, é que realmente terão uma intolerância maior ou
total em relação ao outro.
É natural e aceitável da parte de quem segue uma doutrina
religiosa ou de anti-religião, que exista uma aversão generalizada a um gênero
musical que pregue uma filosofia contrária à sua. O grande problema é que
muitos possuem um enorme preconceito, principalmente com relação ao White
Metal, sem ao menos fazer parte ou conhecer a fundo o que prega o Black Metal.
Pessoas que gostam de Thrash, Power, Death, Hard Rock e o Metal tradicional, em
grande parte, possuem uma tendência a tratar o White Metal com indiferença,
descriminação e até mesmo defender o seu fim.
Em diversos locais, o Metal Cristão não é aceito e nem
tolerado. Frequentemente, músicos ligados ao estilo, ou que sejam apenas
simpatizantes e apoiadores, sofrem agressões morais e em muitos casos físicas.
Acredito que o Metal foi feito para todos que se interessem por ele, sou da
opinião de que se você não gosta ou não aprova, ao menos respeite quem tem uma
visão ou ideia contrária.
A religião sempre enxergou o Rock e o Metal com uma visão
bem distorcida, mas é natural que em um gênero musical tão apaixonante, até
mesmo pessoas que não o veem com bons olhos, acabem se interessando e tentando
embutir as suas ideias e características próprias nele. Não vejo isso como
errado, e sim como uma adaptação que pode ou não agradar de acordo com a
percepção e gosto de cada um. Sou extremamente contra a discriminação e
marginalização de determinado estilo apenas pela não identificação com a
temática abordada.
Não gosta, não ouça. Simples assim. Não queira ser o dono da
verdade, ninguém é. Deixe as guerras de ideias para quem realmente esteja
envolvido com um ou outro estilo. Opiniões distintas existem aos montes e a
cena Metal já é bastante segregada para as pessoas dividi-la ainda mais. Com
exceção de quem segue a risca as duas doutrinas, os outros não tem motivos para
odiar uma pessoa simplesmente pelo gênero musical que escuta ou pratica.
Intolerância e descriminação só levam o Metal a receber mais taxações e ser
mais criticado e marginalizado do que já é.
Tenho perfeita consciência de que este tema sempre foi, é e
continuará sendo polêmico. Muitos dentro de sua ignorância ou convicção,
continuarão a desferir insultos e defendendo a eterna guerra entre os estilos.
É um direito que tem, mas que não muda em nada o fato de que ambos possuem
ótimas bandas, musicalmente falando, e o ódio ou rixa sobre os temas apresentados por ambos os
subgêneros não vai diminuir o surgimento de mais grupos que continuarão a
passar a sua mensagem quer queira os radicais ou não. Ninguém é igual a ninguém
e aprender a conviver com diferenças faz parte da vida. Fica a dica.
Escrito por Fabio Reis