Live Review: Maximus Festival 2017


Autódromo de Interlagos - São Paulo – 13/05/2017

Para o fã da música pesada, é sempre muito gratificante quando surgem novos eventos e festivais voltados para o vasto universo do Rock/Metal. Dentro dessa premissa, temos o Maximus Festival, que ocorre no Brasil e na Argentina e nesse mês, tivemos a sua segunda edição. No ano anterior, o festival foi responsável por trazer bandas de renome e diferentes estilos, tais como Marilyn Manson, Rammstein, Disturbed, Hell Yeah e Woslom. Na ocasião, esses grupos se apresentaram para um público de cerca de 25 mil pessoas. A estrutura do evento, menor que a do festival alternativo Lollapolooza, conta com três palcos, sendo dois deles situados um ao lado do outro, Maximus e Rockatansky e outro mais afastado, Thunder Dome.

Nessa segunda edição, que ocorreu no sábado do dia 13 de maio, mais uma vez no Autódromo José Carlos Pace (Interlagos), em São Paulo, tivemos um line-up ainda mais diversificado e ousado, que incluiu 15 bandas distintas, sendo elas Slayer, Linkin Park, Rob Zombie, Ghost, Hatebreed, Red Fang, Five Finger Death Punch, Prophets of Rage, Pennywise, Flatliners, Bohse Onkelz, Rise Against, Oitão, Dead Fish e Nem Liminha Ouviu. A configuração do festival em si permanece a mesma e quem compareceu a edição anterior e repetiu a dose nesse ano, certamente já se sentiu familiarizado com o sistema do evento. Os três palcos foram distribuídos da mesma forma e o sistema de pagamento Cashless permaneceu inalterado, tendo a proposta de reduzir as filas e facilitar o consumo de alimentos e bebidas no local.

O evento teve início oficialmente ao meio dia e a primeira atração a tocar foi a banda paulistana Nem Liminha Ouviu, no palco Thunder Dome. Possuindo um nome pra lá de peculiar – para não dizer estranho –, a banda tem como premissa resgatar, de forma bem humorada, clássicos do Rock nacional que, de acordo com a proposta do grupo, não tiveram o devido reconhecimento na época em que foram criados. A banda é formada pelo vocalista Tatola (que cantou em bandas como Muzak, Cabine C, Fellini, Inocentes, Não Religião, GVarsóvia e Replicantes), além de Wecko (guitarra), Marcão (baixo), Jacaré (bateria) e Gabriel (guitarra). O repertório da banda no festival contou com oito músicas, que incluiu covers de grupos como Os Replicantes, Plebe Rude e Inocentes.

Às 12h50, no palco Rockatansky, foi a vez dos paulistanos do Oitão quebrarem tudo com seu Hardcore/Punk direto e reto, do jeito que tem que ser. Henrique Fogaça (vocal), Ciero (guitarra), Ed Chavez (baixo) e Marcelo B.A (bateria) fizeram uma apresentação extremamente intensa e visceral, que contou com as composições “Tiro na Rótula”, “Podridão Engravatada”, “Doença”, “4º Mundo”, “Pobre Povo”, “Chacina”, “Maldito Papa”, “Papel”, “Não Me Entrego”, “Imagem da Besta” e “Faixa de Gaza”. Durante o show, era possível ver uma parte do público ovacionar o nome de Fogaça constantemente, bem como “MasterChef”, a versão brasileira do reality show exibida pela emissora de TV Band, na qual o vocalista é um dos jurados.


Enquanto isso, às 13h15, o Dead Fish, grupo consagrado de Hardcore oriundo de Vitória, no Espírito Santo, deu sequência as atrações do palco Thunder Dome. Aliás, com exceção da primeira banda a se apresentar no palco (Nem Liminha Ouviu), todas as demais bandas que se apresentaram no palco possuem a sonoridade voltada para o Hardcore. O setlist do Dead Fish contou com 17 músicas, sendo elas “Autonomia”, “A Urgência”, “Tão iguais”, “Escapando”, “Venceremos”, “Fragmento”, “Sausalito”, “Diesel”, “Jogojogo”, “Selfegofactóide”, “Asfalto”, “Zero e Um”, “Queda Livre”, “Proprietários do Terceiro Mundo”, “Afasia”, “Bem-Vindo ao Clube” e “Sonho Médio”.

Os estadunidenses do Red Fang deram início às apresentações do palco Maximus e conseguiram surpreender muitos que sequer faziam ideia de quem eram com seu Stoner Rock/Metal de muita qualidade. Aaron Beam (vocal/baixo), Maurice Bryan Giles (guitarra/vocal), David Sullivan (guitarra/vocal) e John Sherman (bateria) promovem atualmente o mais recente álbum da banda, “Only Ghosts” (2016) e ainda que o repertório da apresentação tenha contado com apenas sete músicas, foram recebidos de forma muito calorosa por todos. O setlist contou com “Blood Like Cream” e “Crows in Swine”, de “Whales and Leeches” (2013), “Malverde” e “Wires”, de “Murder the Mountains” (2011), “Flies” e “Cut it Short”, de “Only Ghosts” (2016) e “Prehistoric Dog”, do primeiro e autointitulado álbum da banda (2008), que foi responsável por encerrar o show do quarteto de forma muito satisfatória.

Alguns minutos depois, mais precisamente às 14h, os veteranos do Hatebreed subiram ao palco para mandar o seu Metalcore perfeitamente agressivo e sujo na medida certa. O show se iniciou de forma explosiva com as clássicas “Threshold” e “Destroy Everything”, ambas de “Supremacy” (2006), canções essas que já fizeram o seu público se mexer e cantar as letras com vontade. Por sua vez, “Looking Down the Barrel of Today”, a música seguinte, foi a única representante do álbum mais recente da banda, “The Concrete Confessional” (2016. O sempre carismático frontman Jamey Jasta pede para a plateia promover um circle pit no som que dá sequência ao setlist, a avalanche de proporções cataclísmicas “Empty Promises”, primeira faixa do primeiro álbum do grupo, “Satisfaction Is the Death of Desire” (1997). Nem preciso dizer que tal pedido foi prontamente atendido pelos fãs, não é mesmo?

E dá-lhe “Beholder of Justice”, do ótimo “Rise of Brutality” (2006). Após esse som, Jasta pergunta a todos se estão tendo um bom dia e se o público está preparado para o show do Slayer. Após uma breve conversa com o público, a banda emenda com “As Diehard as They Come” e “Last Breath”. Mais uma pequena pausa e o vocalista diz que quer ver um moshpit na próxima música que será tocada, “Tear it Down” e é claro, tome mais destruição! Logo após, foi a vez de “Driven by Suffering” esquentar a pista. Jasta pergunta ao público se também estão preparados para os shows de Prophets of Rage e Ghost e faz um agradecimento especial ao festival. O final do repertório da banda ficou reservado para “Live for This”, “Honor Never Dies” e claro, a obrigatória “I Will be Heard”. Ainda que tenha sido uma apresentação bem curta, certamente foi um tremendo show, intenso e recheado de composições bem selecionadas na medida do possível.


Enquanto isso, às 14h45, no palco Thunder Dome, foi a vez do grupo canadense de Punk Rock The Flatliners se apresentar. O grupo é um definitivamente retrato de muito esforço, uma vez que nunca mudaram de formação desde o seu surgimento. Composta por Chris Cresswell (vocal/guitarra), Scott Brigham (guitarra), Jon Darbey (baixo) e Paul Ramirez (bateria), a banda lançou nesse ano o seu sexto álbum de estúdio, “Inviting Light” e sua performance incluiu 13 canções, sendo elas “Sew My Mouth Shut”, “Eulogy”, “Resuscitation of the Year”, “Liver Alone”, “Hang My Head”, “Meanwhile, In Hell...”, “Carry the Banner”, “Human Party Trick”, “Monumental, Shithawks”, “Indoors”, “Count Your Bruises” e “Fred's Got Slacks”.

Por sua vez, às 14h40, os veteranos alemães do Böhse Onkelz subiram ao placo Maximus. Fundada nos anos oitenta, a banda sofreu diversas mudanças em sua carreira. Entre os anos de 1980 à 1982, executavam uma sonoridade direcionada ao Punk Rock. Já em 1983, tiveram uma fase skinhead, migrando a sua musicalidade para o Streetpunk/Oi!, com influências de Ska. Após o final dessa fase, de 1985 em diante, a banda passou a executar uma mescla de Hard Rock e Heavy Metal, mantendo essa sonoridade até os dias de hoje. Composta por Kevin Russell (vocal), Matt Gonzo Roehr (guitarra), Stephen Weidner (baixo) e Peter Schorowsky (bateria), a banda executou uma apresentação bastante energética, que incluiu nove composições, sendo elas “10 Jahre”, “Hier sind die Onkelz”, “Finde die Wahrheit”, “Danke für nichts”, “Bomberpilot, Kirche”, “52 Wochen”, “Irgendwas für nichts” e “Auf gute Freunde”. É importante mencionar que os fãs da banda estavam muito participativos durante toda a apresentação, trajando roupas do grupo e cantando as letras das músicas intensamente.

Sem demora, às 15h25, um dos nomes mais aclamados da música pesada atual sobe ao palco Rockatansky, o Ghost. Surgida em 2009, na Suécia, a banda ganhou uma notoriedade cada vez maior nos últimos anos. Sua proposta musical é completamente diferente das que costumamos ouvir por aí, uma vez que combinam Heavy Metal, Doom Metal, Rock psicodélico dos anos setenta, além de Rock Alternativo atual, com temáticas envolvendo satanismo, escuridão e o mal. Agora, não há como negar que a banda certamente ganhou uma popularidade invejável pelo fato de seus integrantes ocultarem suas verdadeiras identidades e se vestirem de forma bastante peculiar.


Os trabalhos mais recentes do grupo são o álbum ”Meliora” (2015) e o EP “Popestar” (2016) e o show teve início justamente com a primeira faixa do EP lançado no ano passado, Square Hammer. Assim que os cinco instrumentistas mascarados, nomeados “Nameless Ghouls” e o vocalista Papa Emeritus III – que no início do show vestia um par de inusitados óculos escuros – subiram ao palco, os fãs do grupo simplesmente deliraram. As harmonias hipnotizantes da primeira música do setlist também deram o tom ideal para o início da apresentação, diga-se de passagem.

Na sequência, ainda tivemos mais seis músicas, “From the Pinnacle to the Pit”, “Ritual”, “Cirice”, “Year Zero”, “Absolution” e “Mummy Dust”, todas executadas com propriedade pelos músicos, que certamente cativaram o seu público, especialmente os mais fieis. Na plateia, era possível ver diversos fãs não apenas trajando camisetas da banda, como também com os rostos pintados da mesma forma que o vocalista Papa Emeritus III se caracteriza. Em suma, ainda que tenha sido uma apresentação curta, não há dúvida que o grupo realizou uma apresentação muito honesta, eficiente e intensa dentro de sua proposta. A interação entre a banda e seu público também merece muitos elogios e ao término do show, era possível reparar no semblante dos fãs, muito satisfeitos e felizes com o que presenciaram. 

Antes do show do Ghost terminar, o palco da próxima atração do palco Maximus já estava sendo preparado. Uma enorme bandeira com o clássico monstro cinematográfico King Kong, de sua primeira versão para as telonas, produzida no longínquo ano de 1933, poderia ser vista com facilidades por todos que estavam no local. Então, às 16h10, é hora do show do veterano músico e cineasta Rob Zombie ter início. Assim que Ginger Fish (bateria), John 5 (guitarra), Piggy D (baixo) e claro, o inconfundível Rob Zombie subiram ao palco, outro grande show teve início. Indubitavelmente Zombie conserva para si uma legião de admiradores e sem dúvida alguma foi uma apresentação pra lá de energética.


“Dead City Radio and the New Gods of Supertown”, do álbum “Venomous Rat Regeneration Vendor” (2013), foi a música que deu início ao repertório apresentado pela banda. Como já é de praxe, todos os músicos estavam devidamente caracterizados e usando todos os seus apetrechos, incluindo Zombie, sempre performático e dinâmico. A segunda música do setlist foi a clássica “Superbeast”, a primeira representante do primeiro álbum de Zombie, “Hellbilly Deluxe” (1998), a ser tocada. Sua letra foi cantada por todos os fãs mais ardorosos do grupo ali presentes. Na sequência, tivemos  “Demonoid Phenomenon”, “In the Age of the Consecrated Vampire We All Get High”, do álbum mais recente “The Electric Warlock Acid Witch Satanic Orgy Celebration Dispenser” (2016), além de outro hit, “Living Dead Girl”, recebida de forma completamente calorosa.

“Scum of the Earth” deu sequência ao “Horror Show” e antes de iniciarem a música seguinte, “Well, Everybody’s Fucking in a U.F.O.”, o frontman jogou dois ET’s de plástico para a plateia se divertir. Outra composição que certamente teve uma ótima receptividade foi o primeiro cover de White Zombie – antiga banda de Rob – do show, “More Human Than Human”, do álbum “Astro-Creep: 2000 – Songs of Love, Destruction and Other Synthetic Delusions of the Electric Head” (1995). Um fato que merece ser mencionado é que um fã arremessou o seu boné do White Zombie para o carismático guitarrista John 5, que não apenas pegou o boné, como também o vestiu, tocando com ele durante uma pequena parte do show. Certamente, foi uma atitude muito louvável de se ver.

Aproveitando para falar sobre o grupo como um todo, quem conhece ao menos um pouco de Rob Zombie sabe muito bem da estética inspirada em filmes de terror utilizada pela banda e dentro desse quesito, não dá para deixar de mencionar as constantes trocas de figurino tanto do frontman como de seus integrantes, que, diga-se de passagem, não apenas se limitavam a trocar de figurino, como também de instrumentos. O guitarrista John 5 e o baixista Piggy D tocavam com instrumentos muito legais e exóticos durante toda a apresentação, ampliando ainda mais a teatralidade da performance. Também era nítido que todos os membros da banda estavam realmente curtindo estar ali, sempre agitando muito, tocando com vontade e sorrindo. O mesmo se aplica a Zombie, que desceu do palco, cumprimentou o público que estava mais a frente e não parava quieto um minuto sequer.


A música jamais pode parar e sendo assim, ainda tivemos “Never Gonna Stop (The Red, Red Kroovy)”, de “The Sinister Urge” (2001), “The Hideous Exhibitions of a Dedicated Gore Whore”, “House of 1000 Corpses”, além de um solo de guitarra de John 5. Ao término do solo, a banda já emendou outro cover de White Zombie, a antológica “Thunder Kiss ‘65”, do clássico álbum “La Sexorcisto: Devil Music Vol. 1” (1992). Na metade da música, a banda fez uma pequena inserção de um trecho de “Schools Out”, mega-clássico de Alice Cooper e prosseguiu com o final da música. O bis ainda contou com “The Lords of Salem”, de “Educated Horses” (2006), “Get Your Boots On! That's the End of Rock and Roll” e claro, a mais que obrigatória “Dragula”, que encerrou a apresentação de maneira mais que apoteótica. Em poucas palavras, um baita show!

Enquanto rolava o show do Rob Zombie no palco Maximus, no palco Thunder Dome, as expectativas para o show do Pennywise certamente eram as melhores possíveis, afinal, estamos falando dos mestres do Hardcore californiano! Assim que a banda entrou no palco às 16h20, saudou o público e começou seu show, todas essas expectativas foram cumpridas. A primeira pedrada foi “Wouldn't It Be Nice”, som que abre o disco de estreia da banda, “Pennywise” (1991). Logo de cara, a banda conquistou o público que agitava sem parar. Um mosh insano teve início sem qualquer demora.

O show continuou intenso com a banda executando na sequência “Can't Believe It” e “My Own Country”, ambas de “Straight Ahead” (1999), porém se percebia até então que o som estava um pouco baixo, talvez por um erro de regulagem, fato que infelizmente durou até o fim do show, mas que apesar de tudo não atrapalhou a performance da banda e muito menos fez os presentes pararem de agitar e curtir a apresentação. Voltando ao que interessa, houve um momento em que o local quase veio abaixo, quando a banda anunciou que o próximo som era “Peaceful Day”, clássico do disco “About Time” (1995). Em meio a rodas e moshs insanos, já vem na sequência “My Own Way” e outro clássico absoluto, “Same Old Story”. A satisfação estampada no rosto de cada um dos presentes era indescritível!

Logo após executarem a ótima “The World”, o vocalista Jim Lindberg começa a observar as camisetas de bandas dos presentes e comenta a respeito. Depois começou a perguntar para o público se gostariam de ouvir um cover e então, diante da aceitação da galera é, anunciado um som dos veteranos do Bad Religion, “Do What You Want”. Diga-se de passagem, executaram o cover com muita competência. Na sequência, emendaram com outro cover, a imortal “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones, com direto ao obrigatório coro de “Hey ho, let's go!” de todos os presentes.

Chegando a metade do show, o público sem sinal nenhum de cansaço volta a promover um descontrolado moshpit com a música que dá nome à banda, “Pennywise” e está presente no debut do grupo e já emendando com o clássico recente “As Long As We Can”, de “Reason to Believe” (2008). “Perfect People”, outra representante de “About Time”, bem como “Society”, de “Full Circle” (1997) e “Fuck Authority”, de “Land Of The Free” (2001) deixaram os fãs extasiados e a essa altura do campeonato, as rodas praticamente tomaram todo local. Voavam copos, bonés… e até uma calça! Sim, uma calça voava entre os presentes! Uma loucura absolutamente linda de se ver, como podem imaginar.


Outro cover veio a seguir, a clássica releitura feita pela banda para “Stand by Me” de Ben King e logo após, a excepcional “Alien”. Pra fechar como já é de praxe, um dos maiores clássicos da banda e ponto alto em todos os shows, “Bro Hymn”, que evidentemente foi cantada em coro por todos, fechando assim um dos melhores shows do festival. Energético, intenso e emocionante. Provavelmente são as melhores palavras pra descrever o show do Pennywise. Uma experiência que todos que curtem Hardcore tem que passar pelo menos uma vez na vida!

Sempre que uma banda vem ao nosso país pela primeira vez é possível ver a felicidade de seus fãs a incontáveis quilômetros de distância e foi exatamente isso que rolou com o Five Finger Death Punch, banda de Metalcore que até então nunca havia tocado em solo brasileiro. Em todo o fest, era possível ver diversos fãs bem jovens vestindo camisetas do grupo, evidenciando que o público que admira a banda estadunidense havia realmente comparecido em peso para assistir ao show deles. Às 17h15, Jeremy Spencer Heyde (bateria), Zoltan Bathory (guitarra), Jason Hook (guitarra/vocal de apoio), Chris Kael (baixo/vocal de apoio) e Ivan L. Moody (vocal) sobem ao palco, ao som de “Lift Me Up”, de “The Wrong Side of Heaven and the Righteous Side of Hell, Volume 1” (2013). Tanto a banda como os presentes estavam em grande sintonia, agitando ininterruptamente e de forma intensa.

A apresentação contou ainda com as composições “Never Enough”, “Wash It All Away”, “Got Your Six”, o cover de “Bad Company” (Bad Company), “Jekyll and Hyde”, além de “Burn MF”, na qual vários presentes subiram ao palco para cantar e agitar com a banda. Em seguida, a música “Remember Everything” foi apresentada em formato acústico e ainda tivemos “Coming Down”, “Under and Over It” e “The Bleeding”. Na plateia, era nítida a expressão de satisfação daqueles que estavam querendo ver a apresentação da banda e claro, também era notória a impaciência dos fãs do Slayer, que durante o show do 5FDP estavam de olho no backdrop da banda ser preparado.

Logo após a confirmação da segunda edição do festival ter sido anunciada e o nome do Slayer ter sido confirmado, foi possível ver diversos fãs da música pesada comentando a respeito nas redes sociais de que não perderiam a oportunidade de assistir a lenda do Thrash Metal estadunidense em ação. Contudo, como bem sabemos, gosto musical é algo que não se discute, cada um de nós possui a sua preferência e uma parcela do público que compareceu ao Maximus nessa ocasião almejava assistir o Rise Against, às 18h20, no palco Thunder Dome, ao invés dos ícones do Metal oitentista.

Formado em Chicago, Illinois (EUA), o Rise Against é uma banda que executa um Rock alternativo calcado no Hardcore/Punk melódico. Composta atualmente por Tim McIlrath (vocal/guitarra), Zach Blair (guitarra/vocal de apoio), Joe Principe (baixo/vocal de apoio) e Brandon Barnes (bateria), a banda promove o seu trabalho mais recente, “Wolves”, lançado nesse ano e executaram 13 composições no formato convencional, sendo elas “Ready to Fall”, “The Good Left Undone”, “Re-Education (Through Labor)”, “Satellite”, “The Violence, Architects”, “Help Is on the Way”, “Give It All, Black Masks & Gasoline”, “I Don't Want to Be Here Anymore” e “Prayer of the Refugee”. O show também teve uma parte acústica, na qual apenas o vocalista/guitarrista Tim ficou no palco, onde foram executadas as músicas “Hero of War”, “Swing Life Away”, “Audience of One” e “Savior”.


E eis que finalmente chega o momento de um dos shows mais aguardados do festival, senhoras e senhores: SLAYER! Finalmente, às 18h20, no palco Maximus, ecoa dos P.A.s a instigante e atmosférica introdução “Delusions of Saviour”, faixa que abre o mais recente álbum da banda, “Repentless” (2015). A essa altura, já tínhamos diversos fãs ardorosos da banda estadunidense de Thrash Metal ovacionando o nome do grupo a plenos pulmões. Meus caros amigos e amigas, assim que Paul Bostaph (bateria), Kerry King (guitarra), Gary Holt (guitarra) e Tom Araya (vocal/baixo) entram em cena e mandam a poderosa “Repentless”, foi como se os portões do inferno tivessem sido abertos na pista. O caos tomou conta de todo o local! Não sobrou pedra sobre pedra...

Quem estava próximo à grade e até mesmo um pouco mais atrás dela acabou sendo esmagado pela galera que estava mais ao meio, o que culminou em diversos problemas que foram amplamente divulgados através das redes sociais. Muitos fãs de Linkin Park tiveram a péssima ideia de ficar próximos a grade durante a apresentação do Slayer, pois assim poderiam ter um lugar estrategicamente guardado para quando fossem assistir ao show da banda, contudo, pelo visto, eles não tinham a menor ideia de como era um show do Slayer. O resultado disso, muitos de vocês já sabem a essa altura do campeonato: muitos fãs de Linkin Park passaram mal, se feriram gravemente e tiveram que ser socorridos às pressas. Sem dúvida alguma, foi uma péssima jogada colocar o Linkin Park logo após a banda mais agressiva do festival se apresentar, entretanto, como dizem, "vida que segue"!

Voltando ao foco principal da coisa, a apresentação do Slayer foi maravilhosamente insana e perversa. O repertório do grupo prosseguiu com uma das melhores faixas de “God Hates Us All” (2001), “Disciple”, seguida da implacável “Postmortem”, da obra prima “Reign in Blood”(1986), que fez todos os Thrashers de plantão banguearem incessantemente com seu riff principal absolutamente grudento e mortal. Seu trecho final é simplesmente um arregaço, ainda mais quando executado ao vivo, sempre promovendo um estrago de proporções estratosféricas e evidentemente, em solo brasileiro, isso jamais seria diferente, ainda mais que contamos com um dos públicos mais dementes de todo planeta.

Outro petardo veio a seguir, a arrasa-quarteirão “Hate Worldwide”, de “World Painted Blood” (2009). O moshpit jamais se encerrava, devastando cada centímetro da pista. Nitidamente, tanto a banda como o público estavam em perfeita sintonia. Agora, caro(a) leitor(a), se você acha que isso ainda era pouco, a loucura só aumentou ainda mais quando o frontman Tom Araya anuncia a música seguinte, o hino “War Ensemble”, de “Seasons in the Abyss” (1990). Sua letra foi cantada a plenos pulmões por todos e sua execução como um todo foi uma aula de brutalidade, simplesmente isso.

Aliás, creio que seja importante mencionar a respeito da performance da banda. Substituir o finado guitarrista Jeff Hanneman (R.I.P. 2013) certamente não é das missões mais fáceis do mundo e por mais complexo que isso seja, o amigo de longa data da banda e talentoso guitarrista Gary Holt (Exodus) certamente foi a escolha mais adequado para exercer esse papel. Seu desempenho ao vivo é simplesmente impecável, sempre tocando com toda a precisão e feeling que uma banda como o Slayer necessita. O baterista Paul Bostaph (ex-Forbidden, ex-Exodus, ex-Testament) é outra figura que não dá mesmo para deixar de mencionarmos. O cara literalmente segurou a peteca – mais precisamente, as baquetas! –diversas vezes para a banda durante a sua carreira e novamente demonstra que é um músico exímio e muito criativo, tanto em estúdio como ao vivo.


Ainda que receba árduas críticas de diversos fãs, o guitarrista Kerry King também é, inegavelmente, uma figura completamente emblemática e mesmo após todos esses malditos anos, continua firme e forte, tocando com toda a truculência e perversão que o Slayer exige e claro, o mesmo se aplica ao baixista e vocalista Tom Araya, figuraça que sempre está sorrindo, não importa o quão caótico esteja o show e mesmo estando cada vez mais grisalho, mantém a veia de insanidade necessária para assumir a linha de frente desse monstro do Thrash Metal.

Dando uma leve esfriada na apresentação, surge na sequência a morna “When the Stillness Comes”, outra representante do mais recente trabalho “Repentless”. Levantando o ânimo do show, tivemos também a obrigatória “Mandatory Suicide”, de “South of Heaven” (1988), seguida da veloz “Fight Till Death”, do álbum de estreia da banda “Show No Mercy” (1983). Após tocarem essa última música, o sempre carismático e sorridente frontman Tom Araya dirige a palavra aos presentes dizendo que tocariam uma “canção de amor”, provocando risos gerais. E dá-lhe “Dead Skin Mask”, uma das composições mais marcantes de “Seasons in the Abyss”, cuja letra retrata o notório serial killer Ed Gein. Se tem algo que gostaria de mencionar sobre a performance dessa música é o excelente desempenho vocal de Tom Araya, que não apenas cantou muito bem, como mandou algumas linhas vocais bem ousadas, levando em consideração que não é mais o jovem músico que gravou o clássico álbum de 1990.

A canção que deu sequência ao show foi justamente a estupenda “Seasons in the Abyss”, cujo refrão foi cantado de forma intensa por todos. Performance totalmente irrepreensível! Agora, adivinhem o hino majestosamente visceral que veio à seguir? Apenas duas palavrinhas: “Hell Awaits”! Sua icônica introdução instrumental fez cada cabeça ali presente banguear incessantemente e assim que a música muda o seu andamento para um ritmo completamente vertiginoso, a pista se tornou novamente um campo de batalha do inferno, no melhor sentido da palavra. Soando como um canto dos cisnes para o mar de loucura e sangue que pairava por ali, se iniciam os arranjos fúnebres e minimalistas de outro hino do quarteto, “South of Heaven”. Dizer que a composição foi muito bem recebida pelos fãs chega a ser um ultraje pra lá de redundante, não é mesmo? Outra performance digna se todos os elogios possíveis e imagináveis.

O gran finale da apresentação desses senhores veteranos não poderia ter sido diferente! “Raining Blood”, estrategicamente emendada com “Black Magic” e “Angel of Death” encerraram essa apresentação infernal com mais rodas e moshpit desenfreado. Assim que o show se encerrou, era possível ouvir alguns fãs clamando por mais músicas, pedido que certamente não foi atendido, contudo, a satisfação tanto dos fãs como da banda em si eram mais do que nítidos. Todos estavam com enormes sorrisos estampados de orelha a orelha. Se alguém algum dia perguntar como é um show do Slayer, simplesmente diga: INSANIDADE! Assim mesmo, em letras graúdas e com um tremendo ponto de exclamação no final. Uma legítima aula de violência e carnificina sonora que todo fã da música pesada deve passar ao menos uma vez na vida. Obrigatório!

Após os portões do inferno se fecharem e o show do Slayer ter se encerrado, foi a vez dos estadunidenses do Prophets of Rage mandarem o seu som no palco Rockatansky, às 19h35. Para os mais desavisados, a banda nada mais é que um supergrupo formado no ano passado que reúne membros já conhecidos no meio musical, sendo eles três ex-membros do saudoso Rage Against the Machine, Tom Morello (guitarra), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria), além de dois membros do Public Enemy, o DJ Lord e o rapper Chuck D, além do rapper B-Real, do Cypress Hill. O primeiro registro do grupo, o EP “The Party's Over” (2016) teve uma ótima repercussão e em setembro desse, será lançado o primeiro álbum de estúdio, o autointitulado “Prophets of Rage”.


O show do grupo também era muito aguardado por muitos dos presentes e certamente foi uma performance incendiária, ainda que o setlist tenha sido composto quase que exclusivamente de covers, entretanto levando em consideração que a banda ainda disponibiliza de pouco material autoral, isso é perfeitamente compreensível. “Prophets of Rage”, do Public Enemy, foi a música que deu início a essa explosiva apresentação, seguida de Testify – um dos trocentos covers de Rage Against the Machine da noite –, que fez todos cantarem e agitarem feito loucos. Outro cover de Rage Against the Machine veio a seguir, “Take the Power Back”. Quem tem o hábito de acompanhar as publicações das redes sociais e Internet como um todo certamente ficou sabendo do fato do guitarrista Tom Morello ter colado um papel escrito “Fora Temer” na parte detrás de sua guitarra, exibindo-o constantemente durante o show realizado em São Paulo, na Áudio Club, em 9 de maio. Já era de conhecimento de todos que essa façanha seria repetida no show realizado pela banda no festival e logo no início da apresentação, Morello já estava fazendo isso, sendo aplaudido e ovacionado por todos.

E dá-lhe mais cover de Rage Against the Machine: “Guerrilla Radio”! Em seguida, ainda tivemos “How I Could Just Kill a Man”, cover de Cypress Hill executado na versão feito pelo R.A.T.M. Outro clássico do Rage foi executado logo na sequência, a literalmente bombástica “Bombtrack”. A clássica “Fight the Power”, do Public Enemy manteve a apresentação em clima de constante euforia. Para a música seguinte, os membros do grupo recrutaram Tim McIlrath e Zach Blair, do Rise Against. Nesse momento, podemos ouvir a seguinte frase: “Now it's time to kick out the jams, motherfucker!” e tome “Kick Out the Jams”, do MC5.

Um medley de diversas músicas do Cypress Hill e do Public Enemy foi executado na sequência: “Hand on the Pump”/ “Can't Truss It”/ “Insane in the Brain”/ “Bring the Noise”/ “I Ain't Goin' Out Like That”/ “Welcome to the Terrordome”/ “Jump Around”. Por sua vez, a parte final do show foi reservada quase que exclusivamente para mais covers de Rage Against the Machine, é claro! “Sleep Now in the Fire”, “Bullet in the Head” e “Know Your Enemy” foram executadas com maestria e recebidas com muito gosto por todos os presentes. É interessante mencionar que o final de “Sleep Now in the Fire” ainda contou com um pequeno trecho de “Cochise”, do Audioslave. Mal sabíamos que o excepcional vocalista Chris Cornell (Audioslave, Soundgarden) cometeria suicídio pouco depois...

O grupo faz uma pequena pausa e oferece a todos uma música autoral e que fará parte do vindouro debut da banda, “Unfuck The World”. A canção foi muito bem recebida por todos, diga-se de passagem! Após a sua execução, a banda ainda fez um breve cover instrumental de “Seven Nation Army”, do White Stripes. A reta final do show não poderia ser outra: “Bulls on Parade” e “Killing in the Name”, dois dos maiores hits do Rage Against the Machine, que encerraram a apresentação da melhor forma possível. Como foi dito anteriormente, ainda que o grupo execute atualmente mais covers que composições autorais, certamente é um grupo de grande potencial e sem dúvida será muito bom ouvir mais material autoral deles ao vivo assim que possível. Em tempo, não há como negar que foi uma performance completamente empolgante!


Encerrando o festival, às 21h, era o momento que muitos dos fãs mais jovens aguardavam: o show dos estadunidenses do Linkin Park. O grupo lançou em maio o seu sétimo álbum de estúdio, “One More Light” e ainda que sua sonoridade seja completamente antagônica a diversos grupos que se apresentaram no evento, a banda certamente conserva para si uma fiel legião de admiradores. Assim que a introdução “Fallout/Roads Untraveled” ecoava dos P.A.s, era possível ver uma fila interminável de fãs do grupo na pista.

Em poucas palavras, Chester Benington (vocal), Mike Shinoda (guitarra, vocal, teclado), Brad Delson (guitarra), Dave “Phoenix” Farrell (baixista), Mr. Hahn (DJ) e Robert Gregory Bourdon (bateria) realizaram uma apresentação exclusivamente para esses fãs mais ardorosos, na qual contou com as seguintes composições: “The Catalyst”, “Wastelands”, “Talking to Myself”, “Burn It Down”, “One Step Closer”, “Castle of Glass”, “Good Goodbye”, “Lost in the Echo”, “Battle Symphony”, “New Divide”, “Breaking the Habit (Acapella Outro)”, “Crawling (Piano Version)”, “Leave Out All the Rest (2017 version)”, “Somewhere I Belong”, “What I've Done”, “In the End”, “Faint”, “Numb”, “Heavy”, “Papercut” e “Bleed It Out”. Durante a apresentação da banda, era possível ver boa parte do público deixando o local, pois como foi dito acima, o show foi realmente apenas para quem realmente era fã da banda.

Em linhas gerais, essa segunda edição do Maximus Festival, ainda que com algumas falhas na organização com relação a escalação do Linkin Park após o Slayer e no mesmo palco, foi realmente tão bem-sucedida como anterior, não apenas pelo fato de manter o conceito de mesclar bandas e sonoridades completamente diferentes ou por terem escalado diversos grupos de renome e que conservam para si uma legião de fãs ardorosos, porém também porque prezaram mais uma vez por uma organização digna de um evento desse porte. Ainda que o palco Thunder Dome continue muito afastado dos outros dois palcos, os horários das apresentações foram bem pontuais, com cada um deles tendo poucos minutos de diferença entre o outro, proporcionando um lazer altamente prazeroso a todos.

Como mencionei anteriormente, nem tudo são flores e o conflito entre os fãs de Slayer e Linkin Park ganhou proporções gastronômicas através das redes sociais, contudo, apesar dos pesares, não há como negar que o evento cumpriu mais uma vez o que prometia. Ao final dele, tivemos diversos rostos sorridentes e semblantes de fãs completamente satisfeitos e exaustos. Também é realmente lamentável o que tenha acontecido com os fãs de Linkin Park que se feriram gravemente, porém serve de aprendizado aos organizadores para que planejem melhor a escalação das bandas, evitando assim episódios desnecessários como esse. E claro, por fim, mas jamais menos importante, vida longa ao festival, pois a música pesada, independente da vertente, merece ter cada vez mais espaço. Tanto as bandas como os fãs carecem disso.

Redigido por David “Fanfarrão” Torres e Leonardo Aguiar

Fotos por David “Fanfarrão” Torres

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