Entrevista: Hammerfall (Pontus Norgren)


O Hammerfall é hoje uma das maiores bandas de Heavy Metal em atividade e no próximo dia 3 de novembro, lançará o seu décimo álbum de estúdio, o aguardado "Built To Last". O redator Bruno Medeiros entrevistou o guitarrista Pontus Norgren e questionou o músico sobre diversos assuntos referentes ao passado, presente e futuro da banda. Confira a transcrição do bate papo na íntegra:

Bruno Medeiros: Bruno Medeiros do Mundo Metal aqui com o grande Pontus Norgren, guitarrista do Hammerfall. Como vai?

Pontus Norgren: Estou ótimo, obrigado!

Bruno: Vocês vão lançar um novo álbum em novembro, o aguardado Built to Last. Como esta a animação da banda em lançar esse primeiro registro com a Napalm Records?

Pontus: Na verdade, o contrato com a Nuclear Blast estava encerrado, por assim dizer, então nós realmente precisávamos melhorar e elevar o Hammerfall ao próximo nível, por isso começamos a procurar novas gravadoras e a Napalm apareceu com idéias e emoções parecidas com as nossas, e pareceu certo fechar com eles. Temos sempre que estar com as idéias alinhadas.

Bruno: O Hammerfall tem um novo lyric video para a faixa “The Sacred Vow”, que tem aquela vibração particular do Hammerfall, dos refrões épicos àquela atmosfera para cantar com os punhos no ar. A letra da música também faz referência a canções clássicas da banda como “Heeding the Call” e “Steel Meets Steel”. Como vem sendo a recepção dessa faixa até o momento pelos fãs e mídia?

Pontus: Tenho que dizer cara, eu estou mais ou menos surpreso com a recepção. Nós nunca tinhamos lançado um lyric video antes do (r)Evolution, e a Napalm disse ‘é assim que queremos fazer, porque hoje em dia é comum e bem recepcionado fazer lyric videos’, então nós concordamos. Tinhamos acabado de finalizar a produção do álbum então em nossa cabeça pensavamos no álbum como um todo. Quando a música foi lançada recebemos muitos elogios como ‘cara, isso é muito Hammerfall!’, ‘é exatamente o que o Hammerfall tem que fazer’, ‘é enérgico, refrescante’; cara, isso te deixa muito feliz, te acalenta o coração, então tivemos ótimas reações até agora.


Bruno: Eu tenho ouvido o Built to Last durante os últimos dias e notei que vocês estão apostando de novo no som mais clássico do Hammerfall, com bastante ‘oh-oh’s’ e faixas épicas. A música “Bring It!”, por exemplo, me lembrou um pouco do que o Grave Digger esta acostumado a fazer, principalmente nas linhas de guitarra, e “Hammer High” tem aquela pegada mais Warlord. Isso é algo que vocês pensam antes de escrever as músicas ou isso vêm naturalmente durante o processo de criação por terem influências no metal tradicional?

Pontus: Sim, sim. Todo o período de criação do álbum é tipo, bom, nós não sentamos ali, criamos 25 músicas e escolhemos entre elas, não. Nesse álbum especificamente tivemos basicamente o Joacim (Cans) e o Oscar (Dronjak) escrevendo as músicas. Infelizmente meu pai faleceu durante o período que estávamos escrevendo as letras, então não pude fazer parte do processo como fiz com o (r)Evolution. Então o Oscar veio com algumas idéias pra mim, me mostrou e eu adorei. É como eu disse: não são 25 músicas criadas e escolhidas dessa pilha, são músicas que vêm naturalmente e organicamente em estúdio. As melodias estão lá, então depois começamos a criar as linhas de guitarra e tudo o mais, e trabalhamos ao redor disso. Depois procuramos o feeling das linhas vocais, e tudo se encaixa. É um ótimo processo, e conseguimos resgatar aquela vibração dos álbums anteriores, antes do Infected, e depois do Infected acabamos tirando aquele tempo pra pensar. Nesse tempo nós pensamos e tiramos tudo o que era ruim e deixamos apenas o que é bom pra nós, e então começamos a criar as linhas pro (r)Evolution, mantendo o que tinhamos arranjado em termos de atmosfera para o Built to Last. Vimos o que deu certo e replicamos nesse álbum, desde a energia, o poder…e cara, nós estamos na meia idade, com 40 e tantos anos, e temos muita sorte em conseguir acender essa faísca de novo, ter aquele feeling de quando éramos moleques. Nós estamos muito felizes com isso, e eu espero que seja contagiante para os fãs.


Bruno: Falando um pouco mais do processo de criação das músicas, você teve um papel proeminente no (r)Evolution, escrevendo as letras para as faixas “Bushido”, “Tainted Metal” e “Wildfire”, que são bem diferentes entre si nos arranjos e etc. Como foi sua participação dessa vez na criação de conteúdo para o Built to Last?

Pontus: Tive uma participação mais singela nesse álbum, como disse, muito por conta do falecimento de meu pai. A parte boa é que trabalho muito como produtor e engenheiro de som; trabalhei no álbum ao vivo do Vicious Rumors e com algumas bandas aqui na Suécia, e fiz algo para o King Diamond, então as coisas ficam mais fáceis pra mim nesse quesito. O Oscar criou as bases e melodias das guitarras e eu acabei vendo – do meu ponto de vista como produtor – as melhores maneiras de executar e gravar, preenchendo as lacunas e tal, e o Joacim acabava criando as partes de vocais. Mas não fiz parte dessa vez do processo de criação do zero, sabe? Apenas contribui para terminar a construção das faixas.

Bruno: Você é membro do Hammerfall desde 2008 e já gravou 4 álbums com a banda (incluindo Built to Last). Como foi e como vem sendo a experiência nesses anos, fazer parte de uma das maiores bandas de heavy metal hoje em dia?

Pontus: Ah sim. Antes de entrar na banda, abri alguns shows para o Hammerfall com meu outro grupo, o The Poodles, e comecei a me dar muito bem na época com o Joacim e os outros. Conhecia o Anders Johansson (ex-baterista do Hammerfall) há muito tempo, nós temos uma amizade desde os anos 1980, então sempre conversávamos. Falamos nesse tempo sobre as músicas e tal, e quando me chamaram pra cobrir o Stefan (Elmgren), que queria se tornar um piloto de avião, eu pensei: ‘uau, ok. Isso é grande, isso vai ser grande.’ Eu nunca tinha cogitado isso, obviamente, e então do nada estava com os caras, tendo que fazer shows em festivais para 80.000 pessoas. E ai pensei: ‘ok, agora eu tenho que ir lá e me apresentar, tocar bem e substituir bem o Stefan’. Como disse ali, na minha idade, com mais de 40 anos, ter a chance de subir no palco e destruir, ser um rockstar, por assim dizer, é uma bênção. É muito trabalho, mas amo cada minuto.


Bruno: Substituir o Stefan Elmgren com certeza não é tarefa fácil, especialmente porque ele era um favorito dos fãs, mas você tem feito um ótimo trabalho desde o primeiro dia. Conte pra nós como foi o processo de adaptação ao entrar na banda, fazer amizade com os caras e como foi a recepção dos fãs nos álbums que você participou e nas performances ao vivo.

Pontus: Cara, tenho que dizer, eles me aceitaram como um membro da família muito rápido. Claro que, nas redes sociais e tal as pessoas reclamaram e eu entendo isso, porque as pessoas sentem falta do Stefan, obviamente. Ele teve o sonho rock ‘n’ roll dele por 10 anos, e aí decidiu seguir outro sonho rock ‘n’ roll que era o de ser um piloto. Algumas pessoas não entenderam isso, mas era o que ele queria; não queria mais fazer música, sabe? Ele tinha um papel importante no Hammerfall e algumas pessoas foram bem mal-educadas comigo, mas eu não ligo muito pra isso. Ele até retornou pra nos ajudar na turnê do (r)Evolution quando o Fredrik (Larsson, baixista) teve que voltar pra casa por causa dos filhos dele. O Stefan tocou baixo e nós alternamos os instrumentos durante o show, o que foi muito legal. Mas cara, agora eu sou parte do Hammerfall. Claro, eu ainda sou o novato (risos)! Mas eu entendo os fãs, de verdade. Todos tiveram o Stefan como um ídolo durante 10 anos e aí do nada ele desaparece e venho eu (risos). Mas faz parte, é parte do processo. Veja o Axl Rose com o AC/DC: ele teve que substituir um grande ícone, mas não estava lá pra apagar o anterior, e sim pra ajudar, apenas isso. E foi o que o Stefan fez comigo, ele chegou e basicamente disse: ‘pega aqui esse machado e use-o pelos próximos 10, 20 anos’.


Bruno: Gostaria de falar um pouco sobre o álbum Infected agora. Nele, a banda tentou uma abordagem diferente em vários aspectos, desde a aura mais densa e som mais sombrio à falta do mascote Hector na capa do álbum, mas voltou atrás com (r)Evolution. Qual foi a intenção principal com Infected e, na sua opinião, o que deu e o que não deu certo com o trabalho?

Pontus: O Infected é um dos meus álbums favoritos em termos de músicas individuais. Mas é como eu disse antes: havia algo de errado com as coisas na época. Nós passamos por dois managers diferentes num espaço muito curto de tempo, foi muito tenso. Procurávamos algo que sabíamos que já estava na banda, mas não conseguíamos encontrar, sabe? E isso fez a impressão de todo o álbum, transpareceu no trabalho. Se você ouvir o Infected vai ver claramente que, sim, existem músicas mais sombrias. Acho que isso pairava no ar à época, era algo contagioso, não de alguem especificamente tentando nos derrubar, mas de um conjunto de fatores e pessoas que tornaram a atmosfera assim. Um karma ruim, que infectou a banda. Então acho que o título do álbum foi bem propício, porque nós fomos contagiados por isso e pegamos essa ‘doença’ que não sabiamos que tinhamos, por assim dizer. Foi por isso que decidimos descansar um tempo separados após o álbum, pra purificar tudo de ruim e deixar apenas o bom. Falamos: ‘não vamos fazer nada relacionado ao Hammerfall durante um ano’, e cada um foi pro seu lado. Oscar escreveu um livro, Joacim fez alguns musicais, eu sai em turnês com outras bandas como engenheiro de som e o Fredrik ficou com sua outra banda. E então depois desse tempo nos reunimos e conversamos, e aí a faísca apareceu de novo, porque tinhamos limpado tudo de ruim e deixado isso pra trás. Agora íamos fazer o que queriamos, e não o que os outros demandavam, e isso se traduziu no (r)Evolution. Eu acho que os fãs sabiam que algo estava infectado também, e quando voltamos, voltamos mais fortes que nunca. Pra falar a verdade, nós não sabiamos se íamos voltar ou não, mas ainda bem que voltamos.


Bruno: Então vocês estavam pensando em voltar ao som mais tradicional depois do Infected ou voltaram atrás por conta de pedidos dos fãs?

Pontus: Tudo voltou naturalmente. Quando a faísca que falei, as músicas mais up-tempo, as apresentações animadas e a alegria de fazer música voltaram, o (r)Evolution se escreveu sozinho, pra falar a verdade. Pensamos em termos de produção e management e decidimos que tinha de ser simples, natural: ‘vamos deixar rolar, deixar as músicas limpas’, e conseguimos fazer isso no (r)Evolution. E agora, com o Built to Last, consolidamos essa idéia e elevamos ao próximo nível, mantendo essa energia. Aquele feeling de ter uma coisa de volta, isso é ótimo cara. Voltamos a ser adolescentes com isso.

Bruno: O Hammerfall tem uma turnê chegando em 2017 com o nome “Built to Tour”, com datas no continente europeu. Conte-nos sobre o que esperar desses shows que estão por vir e se há algum plano de fazer uma turnê mundial depois da Europa:

Pontus: Sim. No momento não temos nada oficial, mas o plano é tocar nessas datas da Europa, depois talvez na América do Sul, mais alguns outros países, e depois voltamos pra casa. Depois disso vamos tentar alguns festivais de verão na Europa, claro, e logo entramos em 2018. Vai ser um ano muito cheio. 

Bruno: Podemos espera-los no Brasil para a próxima turnê então, ótimo! Para concluir, poderia descrever o som do Built to Last em apenas uma frase?

Pontus: Ele vai chutar você na cara. 

Bruno: ahahahaha, ótimo! Gostaria de agradecê-lo, em nome do Mundo Metal, por tomar um pouco de tempo para falar conosco. Boa sorte com a turnê e o álbum, e continuem o ótimo trabalho!

Pontus: Obrigado, você também!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...