Entrevista: Melanie Klain


A Melanie Klain é uma banda original da cidade de Mococa, interior do estado de São Paulo e neste ano de 2016, vem se destacando na cena nacional apresentando uma sonoridade das mais diversificadas e originais, executando uma miscelânea incrível de estilos que vão desde o Groove, Thrash, Hardcore e Heavy Metal, até flertes com sonoridades mais modernas. Além da musicalidade diferenciada, o grupo aposta em letras ácidas e extremamente críticas, mostrando um pouco da situação atual de nosso país e  principalmente, sobre como a população brasileira se encontra num estado de alienação e precisa acordar desse "sono" imposto pelo governo e pelas grandes mídias.

O Mundo Metal conversou com o vocalista Duzinho e num bate papo descontraído, abordou diversos assuntos pertinentes a trajetória da banda, o lançamento do ótimo álbum "Análise do Caos" e planos para o futuro. Confira na íntegra como foi nossa conversa:

Mundo Metal: A Melanie Klain em 2016, lançou o seu primeiro álbum de estúdio, o ótimo "Análise do Caos" e vem recebendo muitos elogios tanto com relação a música da banda, como também quanto a temática utilizada. Gostaria que nos explicasse como funciona o processo de composição dessas letras?

Duzinho: Morar no Brasil... A nossa maior inspiração! É tudo uma forma de botar pra fora o que pelo menos nós cinco não aguentamos mais. Acreditamos que muitas pessoas se identificam com nossa mensagem e também usam isso como instrumento de revolta. A Melanie Klain trabalha com a questão do cotidiano, mas não usando a mídia pobre como base de informação e sim, fontes muito mais seguras como a bomba do posto de gasolina, as tarifas do cartão de crédito, o preço do pão, taxas de juros em cima dos equipamentos que compramos (ou pelo menos tentamos comprar) pra banda, o comércio que a saúde virou e salários extraterrestres pra políticos não fazerem nada por nós. Em resumo, desde a hora que acordamos até a hora que vamos dormir, tudo é fonte de inspiração para nossas letras.

Mundo Metal: Esse tipo de temática desperta o raciocínio e faz com que o ouvinte pare pra pensar sobre diversos assuntos importantes. O público headbanger de forma generalizada, não é um público que se importa muito com letras e muitas vezes, por serem cantadas em inglês, as ignoram. Vocês tem percebido que os fãs estão captando a mensagem passada por vocês? O que acham dessa postura de não se importar com as letras e mensagens das bandas? 

Duzinho: Sim... Uma das propostas que faço pras pessoas que não escutam metal, é justamente o estudo das letras, incentivo isso, pois todo esse conteúdo que jogamos nos versos de nossas músicas foram pensados de forma a realmente dar um tapa na cara de toda a população e inclusive, dissertamos sobre fatores que nós mesmos precisamos melhorar. Pra isso funcionar, teria que ser feito de forma objetiva e agressiva, pois chegamos num ponto onde é ridículo sermos uma nação tão "abobada" e acima de tudo omissa. Eu tento ver qualquer expressão de arte como uma mensagem, mesmo que muitas vezes isso não aconteça, nós não poderíamos passar a nossa versão de realidade cantando em inglês, já que nosso foco é o Brasil. Seria algo desconexo e sem fundamento.

Mundo Metal: Com relação a musicalidade, percebo que praticamente todas as faixas de "Análise do Caos" possuem muitas passagens e mudanças distintas de andamento. Quem cria essas variações e como a banda chegou a essa musicalidade tão diferente e original?

Duzinho: Cinco músicos diferentes, criados ouvindo estilos diferentes, isso era previsto acontecer. O álbum é uma grande mistura de todas as nossas influências, mas tomamos cuidado pra que as músicas não ficassem sem pé nem cabeça. Particularmente, acredito que o disco tenha o DNA de cada um de nós cinco. Foi uma entrega muito sincera, principalmente no estúdio onde captamos tudo isso de forma coesa, entramos com esse pensamento em mente e acredito que tudo tenha saído de forma muito natural.



Mundo Metal: Uma característica marcante no álbum é a produção impecável. Conte-nos como chegaram a essa sonoridade e quem foram os principais responsáveis por essas timbragens.

Duzinho: Olha, a nossa vida é corrida aqui em Mococa e também pela falta de grana, nunca tivemos uma oportunidade de fazer aulas teóricas bem aprofundadas. Posso dizer que chegamos a esse resultado na raça mesmo e aprendemos muito com o Fábio Dias, do Setestudio. Ele vem de uma escola do Metal e também se tornou um grande fã do nosso trabalho, nos ajudou muito. Com relação a essas viagens dos samplers, vem de bandas como Pink Floyd, Dream Theater, etc, que sempre fizeram esse tipo de produção e isso era discutido durante a produção do nosso trabalho, foi adicionado pra dar um elemento a mais em cada faixa.

Mundo Metal: Como foram as gravações do álbum? Qual o clima que a banda levou para o estúdio?

Duzinho: Nós somos muito zueiros e conviver, por exemplo, com um cara igual ao Chapolim é foda (risos) O cara é nosso humorista. Não perdoa ninguém quando acontece alguma "falha". O Fábio Dias também sempre nos deixou muito a vontade, mas sempre dando uns puxões de orelha básicos quando alguma coisa não ficava da forma que ele queria (isso foi extremamente importante). Sempre mantivemos um clima muito bom, pois somos muito próximos uns dos outros, amigos de longa data e isso facilitou muito. É claro que atritos sempre acontecem em toda família, mas hora de trabalho é hora de trabalho e todos estavam muito conscientes quanto a isso, este foi um ponto importante que fez com que o resultado chegasse a nos impressionar a cada audição.

Mundo Metal: No meio das gravações, vocês tiveram uma importante mudança na formação da banda e a baixista Victória Escudero passou a integrar o line up do grupo. Como ocorreu essa troca e quais as principais mudanças que a nova integrante trouxe na musicalidade da Melanie Klain? 

Duzinho: Foi uma decisão difícil. Depois da audição com os músicos, levamos em consideração cada detalhe que poderia agregar na musicalidade da Melanie. Isso é horrível cara, comparar e ver que você tem a disposição músicos fantásticos e não pode integrar todos, mas a Vic entrou de corpo e alma e muito animada. Hoje além de integrante, é peça fundamental. Ela também nos ensinou uma forma mais respeitosa de tratamento, com uma mulher no convívio automaticamente faz com que aja um policiamento maior nas atitudes e isso é bom possamos nos relacionar melhor em vários outros lugares. Tem também toda a vantagem de você ter uma opinião diferente em cada decisão, a mulher é sexo forte e pra gente, os marmanjos, essa nova fase está sendo uma experiência fantástica, a Vic participa demais em todas as decisões da banda.

Mundo Metal: Com tanta variação nos ritmos das composições, fica claro que a banda possui influências distintas. Quais as principais bandas ou artistas que influenciam a banda diretamente e como essas referências são usadas na hora de compor?

Duzinho: Metallica, Sepultura, System Of A Down, Slayer, Project46, Raimundos, Slipknot, Hatebreed, Iron Maiden, Lamb Of God... É muito aquele lance do fã querendo ser o que seus ídolos são,  mas temos acima de tudo um respeito muito grande por todas as bandas que escutamos e tendo uma diversidade tão ampla nos estilos que nos influenciam, se torna maravilhoso na hora de fazer uma play list para estudo.



Mundo Metal: A banda vem obtendo algumas conquistas pessoais importantes, no lançamento do disco tocaram junto com a banda Glória, ficaram entre os 3 primeiros colocados em um festival realizado na cidade de Monte Santo e no próximo dia 24 de julho, irão se apresentar ao lado do Project 46, tudo isso vem acontecendo de forma rápida e promete ser apenas o começo, como tem sido este momento de ascensão?

Duzinho: Surreal. Essa seria a palavra. Nós temos um estilo bem na basa do trabalho de formiga. Durante muitas vezes fomos falando em particular com várias pessoas e apresentando o nosso som enquanto uma grande oportunidade ainda não havia surgido. Quando a Roadie Metal apareceu na nossa vida, tudo começou a mudar. Ver as nossas matérias bombando na Internet e recebendo elogios em sites que eu sempre fui leitor como Whiplash, Roadie Crew e tantos outros, é algo emocionante demais. Com isso você acaba conhecendo um mundo paralelo que existe fora das grandes mídias e descobre sites e blogs muito profissionais, daqueles que te fazem visitar todos os dias. Com relação ao Glória foi fantástico e agora o temos o show com o Project46, certamente vai ser o dia mais importante de nossa carreira. Acima de tudo eles são muito humildes e ter uma banda como essa aqui no Brasil pra servir de espelho é algo que considero gratificante. A proposta da MG PRÓ HC é muito corajosa também, pois nossa região é carente de bons eventos e nossa cena não pode morrer. 

Mundo Metal: "Análise do Caos" vem sendo muito bem recebido. Vocês esperavam essa repercussão? 

Duzinho: Aquele velho cliché, "tínhamos muita confiança mas não esperávamos que as coisas começassem a acontecer tão rápido."Maravilhoso cara, ler e ouvir todos os elogios. Fazem apenas três meses do lançamento em formato digital apenas, temos algumas notas altas em resenhas e avaliações do disco e até agora só recebemos elogios. Pensando em termos de futuro, Isso também gera uma situação que é uma faca de dois gumes, pois teremos uma responsabilidade ainda maior pro próximo trabalho, mas acreditamos que a estrada vai nos dar uma boa estrutura nesse tempo.

Mundo Metal: O posicionamento político e crítico da Melanie Klain e a forma ácida com que passam essa revolta e indignação através das músicas é, sem dúvidas, uma das melhores características da banda. Para um próximo lançamento, essa marca virá ainda mais acentuada ou pretendem escrever sobre outros assuntos? Por que? 

Duzinho: Vai depender do estado de espírito na fase de composição, mas essa revolta vem da cabeça muito centrada dos cinco integrantes. Temos opiniões diferentes dentro da banda, porém todos pensamos no que pode ser feito em prol de uma nação mais justa. O Brasil é um país que amamos, mas o comportamento das pessoas de forma generalizada, estraga a vida por aqui. Muita coisa tem que ser mudada e se precisar escrever 20 álbuns sobre isso, enquanto tivermos força pra lutar iremos fazer isso. Algo precisa ser feito e essa realidade nunca pode deixar de ser exposta, a ferida tem que ser tocada para que mais e mais pessoas acordem. É preciso que a população se preocupe mais em conhecer a nossa constituição e ter base de pensamento até para aja uma formação de novos conceitos e apoios políticos. Muita coisa tem que ser mudada e um ponto fundamental é olhar pra sujeira de nosso quintal e cada um começar fazendo a sua parte.



Mundo Metal: Sonhar faz parte da vida, para realizar sonhos é necessário estipular metas. Qual seria o sonho que a Melanie Klain tem com relação a música e quais as metas traçadas para um futuro próximo?

Duzinho: Em 2013 nascemos, 2014 ganharmos estrutura, 2015 fixamos os nossos planos, 2016 lançamos nosso álbum e estamos conquistando um público fiel e sabemos que esse público vai nos levar aos palcos que queremos. Temos agora o show com o Project 46 que é mais uma etapa desse caminho e temos a intenção de usar esse fator como mais um veículo de divulgação do nosso trabalho. Queremos ganhar cada vez mais ouvintes, seja ele o fã da música em si ou o aquele que seja um entusiasta das idéias que passamos, não importa, queremos que essa família aumente cada vez mais. Temos muita confiança, mas também os pés no chão, sabemos que é um caminho difícil e trabalhamos pensando a longo prazo. As conquistas virão e citando os sonhos, tocar num Monsters Of Rock ou Rock In Rio faz parte daquele momento em que acessamos o YouTube e vemos nossos ídolos ali e claro, pensamos grande e almejamos estar naquele palco também. Os primeiros passos estão sendo dados, poder fazer as honras e abrir um show do Project 46, sendo uma banda do interior de São Paulo e não tendo tanto apoio é algo pra você olhar no espelho e sentir muito orgulho, mas queremos mais e vamos correr atrás desse mais.

Mundo Metal: Espaço livre para que a banda deixe um recado para seus fãs e amigos.


Duzinho: Mudem a sua forma de pensar antes de querer mudar esse país! A mudança interna é a primordial e nossas músicas são uma grande oportunidade pra que cada uma faça uma auto-avaliação. Muito obrigado a todos por cada dia mais nos darem votos de confiança e nos estimularem a não desistir de espalhar nossa mensagem. No que depender da Melanie Klain, provaremos a todos que este é apenas o começo de uma longa história. Valeu Fábio Reis. Vida longa a Rodie Metal, ao Mundo Metal e a todos que vem nos dando suporte.

Confira algumas das faixas presentes no álbum "Análise do Caos":






por Fabio Reis

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